Metacompetência – I
(18/10/2006)

Você recebeu seu diploma de graduação. Parabéns! Mas agora você precisa trabalhar, arrumar um emprego. E eu pergunto: “como?”, se o número de empregos, aqueles da forma tradicional com carteira assinada, estão cada vez mais escassos.

Claudir Franciatto em seu livro “O desafio da liberdade” nos mostra como esta realidade está se processando:

Anos 60/70 Anos 80/90 2010
Empresas Inchadas Cortes Generalizados Revalorização do Ser Humano
Mercados Cativos Enxugamentos, Downsizing, Terceirização Busca de maior Qualidade de Vida
Muitos níveis hierárquicos Reengenharia Conforto pela Tecnologia

Ele também nos mostra que o antigo e tradicional conceito de emprego está, nos dias de hoje, totalmente errado. Veja o novo enfoque:

Conceito ultrapassado Conceito atual
Preciso de um emprego para poder sustentar minha família. Quero fazer um trabalho excelente para, com isso, atrair clientes e ganhar dinheiro.
Preciso de uma empresa que cuide de minha carreira. Vou cuidar de todos os detalhes de minha carreira para atrair várias empresas e clientes.
Preciso de um cargo de expressão para me realizar. Quero me realizar com meu trabalho, pois sei que demonstrarei qualidades que atrairão oportunidades.

Basta uma análise atenta a estes dois quadros para notarmos a transformação e a nova visão que o mundo atual está exigindo de todos nós.

Caminhamos não mais para sermos empregados mas prestadores de serviços. Cada vez mais cirurgiões dentistas, em início de carreira e sem consultório próprio, deslocam-se para consultórios e clínicas de colegas para prestarem serviços. Hoje é normal escutarmos de colegas mais jovens: “hoje vou trabalhar no consultório do Dr. Fulano e amanhã no do Dr. Beltrano”.

Como as faculdades de Odontologia formam cerca de 10000 dentistas por ano e a economia não mostra sinais de recuperação a curto prazo, é de se supor que a tendência será trabalhar e se deslocar cada vez mais para receber o montante de dinheiro que garanta um final de mês tranquilo.

Esta é a tendência que se delineia para os próximos anos e não só na Odontologia. Pergunto: os colegas recém formados estão preparados para isso? Como nossas faculdades estão abordando esta nova realidade? Enquanto as respostas não chegam, vejamos como sobreviver a este quadro onde os diplomas de graduação, de especialização, de pós-graduação, MBAs, etc. não vão mais garantir emprego para ninguém.

Decerto você já ouviu a palavra competência. O consultor Luiz Carlos Cabrera afirma que “competência é uma qualidade que o indivíduo tem e que é percebida pelos outros”. Não adianta você ter habilidades e competências se estas não forem reconhecidas por outras pessoas. É preciso que elas percebam e reconheçam estas qualidades em você.

Esta assertiva faz você perceber porque os diplomas não são mais tão importantes para quem necessita de nossos serviços. A prática clínica é desenvolvida com o tempo, enquanto os conhecimentos são aumentados através dos cursos e eventos que frequentamos. Mas isto não é importante para nossos clientes. Competência, sim.

“Uma pessoa é competente quando consegue atingir os resultados esperados por ela mesma e pelos demais”, afirma o consultor e educador Eugenio Mussak. E vai mais além ao afirmar que “competência significa uma condição obtida pelo produto entre o saber, o poder e o querer. A pessoa competente sabe fazer, pode fazer e quer fazer”.

Deixo um conselho final: nunca deixe de investir em você mesmo para alcançar a realização do seu sonho. Diferencie-se! Mude! Seja competente, ou melhor, metacompetente!

E o que é metacompetência? É ir além da competência. (O prefixo meta significa “ir além de”). Vamos exemplificar de forma direta: o incompetente faz menos do que dele se espera, o competente faz o que dele se espera e o metacompetente faz mais, é aquele que sempre surpreende quando nada mais se espera dele.

O que seu paciente espera de você? Acertar o diagnóstico e realizar o tratamento indicado. Você faz e seu paciente fica satisfeito. Isto é competência. Mas, para ser metacompetente, você ainda precisa saber sobre administração geral, gestão de pessoas, liderança, marketing pessoal, relações públicas, psicologia, comunicação, etc.; enfim, coisas que um curso de graduação não oferece ou oferece muito pouco.

Você acha muito? Então vamos olhar um pouco para dentro de si mesmo. A metacompetência também envolve o desenvolvimento e a prática de habilidades pessoais como ética, respeito, tolerância, lealdade, honestidade, etc., qualidades estas que justificam nosso viver como seres humanos.

É todo este conjunto que vai lhe proporcionar o diferencial necessário para sobressair-se à concorrência. Acredito que este será o futuro o qual, em algumas áreas, já se faz presente.

Não gostaria de ver inúmeros colegas recém formados indo de consultório em consultório apenas “entregando” serviços, como se fossem entregadores de pizza ou de comida chinesa. Nesta nova realidade, a mudança é necessária para todos nós. Mas, de preferência, sem “odonto delivery”.