Trabalho em Equipe
(07/10/2006)

Certamente você já ouviu que nenhum homem é uma ilha. Desde o início dos tempos o homem convive com outras pessoas cujas características individuais são muito diferentes em função de suas crenças, valores, expectativas, etc., o que as tornam seres individuais.

Estes seres, cujo convívio mútuo faz aparecer tais características, nos dias de hoje sofre uma dicotomia. Por um lado, estão cada vez mais “escondidos” atrás da tecnologia (correio eletrônico, internet, fax) e, por outro, são “obrigados” a trabalhar em equipe visto que a era do trabalho individual acabou.

A nova economia, onde produtividade e competitividade são palavras de ordem, levou as corporações a repensar a gestão de pessoas que compõem seu quadro de colaboradores. E todo o empenho direcionado à melhoria da qualidade total gerou a obrigatoriedade da formação de equipes com alto desempenho.

E o que é uma equipe? Equipe é um grupo de pessoas que possui objetivos comuns e que trabalham para cumprir metas específicas. Diferentemente de um grupo, que são pessoas, também com objetivos comuns, mas que, em geral, se reúnem por afinidades pessoais.

A psicóloga Suzy Fleury assim os diferencia. Por exemplo: um grupo é um conjunto de pessoas que vão ao cinema. O objetivo é assistir o filme. As equipes são pessoas que trabalham juntas para a realização do filme (atores, técnicos, diretor), dentro de um corporativismo entre todos os membros, escolhidos por auas habilidades e competências.

Montar uma equipe coesa nem sempre é fácil. A começar que uma equipe é composta por pessoas, uma diferente da outra, onde cada uma possui seus componentes individuais, seus objetivos, a maneira como cada um enxerga o significado de sua atividade, etc.

Portanto, construir uma equipe de alta performance é uma tarefa que demanda tempo, principalmente quando se leva em consideração, também, o lado emocional das pessoas e o alinhamento de suas diferenças individuais.

Muito além das características de uma equipe, vistas a seguir, há a necessidade do líder trabalhar todo o conteúdo emocional, de cada membro e de toda a equipe, no que diz respeito aos objetivos a serem alcançados.

Se o líder não abrir espaço para que as pessoas falem de seus problemas, seja em relação às tarefas, seja em relação aos integrantes da equipe, a energia utilizada para lidar com medo, angústia, ressentimento, desespero, incompetência, intranquilidade, raiva e tristeza, torna a relação falsa e a tarefa improdutiva, como afirmam Fátima Motta e Edson G. França.

Os mesmos autores citam o seguinte exemplo: um componente da equipe vê, na realização da tarefa, uma oportunidade de realização, crescimento e amadurecimento pessoal. Outro membro pode ver esta pessoa querendo se projetar de forma pessoal. Estes diferentes pensamentos podem levar a equipe à estagnação, visto que estas duas diferentes versões podem ocasionar posicionamentos rígidos face à uma questão qualquer relacionada à tarefa. O papel do líder é vencer estas e outras visões advindas das crenças e valores que cada um carrega dentro de si.

Se ao líder cabe a tarefa de transformar as pessoas, cabe a cada membro da equipe ter a vontade de buscar, com seus pares, aprendizagem, compartilhamento, convivência e respeito mútuo.

O que é necessário para se formar uma equipe altamente eficaz?

Os rumos da nova economia estão exigindo líderes multifuncionais, com atuação cada vez mais ampliada. Para isto ele necessita do suporte de uma equipe bem articulada, coesa e sincronizada. A fim de atender este novo papel, alguns itens devem ser observados.

  1. Definição do objetivo

    As tarefas, os objetivos finais, devem ser claros, para que todo o esforço seja direcionado a um único alvo. Cada membro deve encarar o objetivo final como um desafio.

    Deste modo, trabalham-se primeiro os fatos, depois as opiniões. Fatos aproximam mais as pessoas enquanto as opiniões podem separá-las.

  2. Estabelecimento de funções

    Se cada integrante da equipe não souber a sua função e a tarefa a desempenhar, certamente o objetivo não será alcançado.

    Muitas vezes estas pessoas podem necessitar de um treinamento.

    Se as funções e responsabilidades de cada um não forem definidas, os resultados serão ruins. Cada um deve fazer a sua parte e contribuir para o todo.

  3. Respeito à individualidade

    Como já foi mencionado, equipes são formadas por pessoas diferentes que possuem diferentes histórias de vida, conhecimentos e experiências. Esta diversidade deve ser estimulada para que cada um dê o seu melhor e libere talentos. E se um membro tiver mais do que um talento, melhor ainda.

    Veja o exemplo de uma equipe de futebol. Se um jogador da defesa vai ao ataque, o do meio campo (armador) volta para cobrí-lo e torna-se um defensor.

    Pesquisas demonstram que pessoas preferem trabalhar com pessoas que possuem personalidades diferentes, ou seja, que possam complementa-las no trabalho em equipe. Quando líder e liderados conhecerem as características de cada um, maiores e melhores serão os resultados obtidos pela equipe.

    Cada membro, certamente, tem sempre algo a contribuir para o sucesso da equipe.

  4. Resolução de conflitos

    Conflitos e outros problemas relacionados às tarefas devem ser sempre expostos e discutidos para que tudo se esclareça da melhor forma possível.

    Em uma equipe sempre haverá diferenças de opiniões visto as diferentes personalidades de cada membro. O grande desafio é saber valorizar estas diferenças e transformar os conflitos em frentes de crescimento, produtividade e superação.

    Todos devem ter em mente que a cooperação é diferente de competição.

  5. Flexibilidade permanente

    Uma competência que precisa ser desenvolvida por todos para encarar mudanças de rumo e superação de obstáculos até que o objetivo seja alcançado.

  6. Ambiente saudável

    O ambiente de trabalho deve favorecer o desenvolvimento, a criatividade, a inteligência e o talento dos integrantes do grupo.

  7. Desenvolver o “fazer a diferença”

    Ao líder cabe desenvolver em cada liderado o sentido de fazer a diferença, o que significa melhorar as qualidades para o desenvolvimento das tarefas, aumentar o treinamento, o desenvolvimento e a educação para que cada um sinta a sua importância dentro de todo o processo.

  8. Dar e receber feedback

    Quando o feedbak é utilizado adequadamente, quem o recebe poderá avaliar melhor seu comportamento dentro da equipe, porque é informado de aspectos que estavam lhe passando despercebidos. O feedback melhora a integração dos membros da equipe e também a satisfação pessoal.

    O importante é saber que feedback não é crítica pessoal feito para ferir ou melindrar, mas uma oportunidade para o crescimento pessoal e melhoria do desempenho.

  9. Avaliação e monitoramento

    De tempos em tempos é necessário que se avaliem os resultados até então atingidos. Este monitoramento do trabalho da equipe é importantíssimo para que cada membro tenha conhecimento de seu desempenho e em que e como melhorar. A qualidade do trabalho em equipe é fator fundamental para o sucesso.

    As pessoas necessitam saber que seu trabalho é importante, que participam de uma atividade que tem valor e que devem sentir-se integradas em todo o processo.

  10. Confiança

    O líder deve deixar claro que a confiança mútua, a sinceridade, o respeito, o diálogo franco e aberto, a cooperação e o consenso entre todos os membros da equipe são fundamentais para um bom trabalho.

    Estes princípios desenvolvem o compromisso e a identidade de uma equipe.

  11. Informações compartilhadas

    O trabalho em equipe implica o compartilhamento de informações e não uso exclusivo das mesmas por cada membro. Este compartilhamento, a ajuda mútua e a motivação para a cooperação, com toda a certeza, são aspectos relevantes para se alcançar o sucesso.

  12. Motivação

    John Wagner & Hollenbeck afirmam que “a motivação dos membros da equipe é um fator importante que afeta a produtividade em equipe e que pode ser gerenciada para evitar ou minimizar a perda do processo. A motivação é um determinante crucial da realização pessoal e igualmente fundamental na determinação da realização de uma equipe, ou seja, os membros devem estar suficientemente motivados para alcançar o mais alto nível de produtividade permitido por seus talentos”.

    Como a produtividade está diretamente relacionada à motivação, mantê-la sempre presente e em alta é função do líder, pelo reconhecimento, e da empresa, dando recompensas como bônus, prêmios, etc.

  13. Comunicação

    Uma comunicação realmente eficaz faz muito mais para a equipe do que se pode imaginar, como por exemplo:

    • Através de uma comunicação pode-se aumentar a motivação, a coesão, a confiança e a organização do trabalho em equipe;
    • Estabelecer franqueza e sinceridade entre todos;
    • Integrar a equipe com outras equipes em busca de um maior conhecimento;
    • Enviar mensagens de reconhecimento, agradecimento, congratulações, elogios, sugestões, críticas, etc.;
    • Saber a hora certa de ouvir e de falar;
    • Saber que cada membro pode precisar de seus pares em todos os momentos;
    • Dividir resultados, bons ou ruins, etc.
  14. Comprometimento e geração de valor

    A todo custo deve ser evitada a formação de equipes onde dois trabalham e quatro ficam olhando. Todos devem estar conscientes que os bons resultados só aparecerão com o comprometimento de todos, transformando seus esforços em valores positivos. É fundamental que cada um reconheça a sua performance e a dos outros durante todo o processo.

    A máxima: “eu já fiz a minha parte” deve ser banida das equipes coesas e comprometidas.

  15. Reconhecimento

    Se, em uma corporação, o reconhecimento e os prêmios são individualizados sem levar em consideração a atuação de toda a equipe, então não há a necessidade de trabalho em equipe.

    Equipes que atingem objetivos e metas são merecedoras do reconhecimento pelo trabalho desenvolvido. O reconhecimento por algo que se fez de bom para a corporação, para a equipe e para si é de capital importância, pois lança a equipe a novos desafios, metas e objetivos e a fazer cada vez melhor.

    Importante: não se gasta nada para reconhecer um bom trabalho de equipe.

Vantagens do trabalho em equipe

Os benefícios que uma equipe coesa e afinada pode trazer às corporações são notórios.

O fato de a equipe ser formada por pessoas diferentes e que possuem diferentes vivências torna o relacionamento melhor pois, enquanto um membro se destaca em uma determinada área, outro se destaca em outra, e assim por diante.

Além disso, pela integração entre os membros, o potencial e as habilidades individuais tornam-se mais evidentes. E, é óbvio, que a atividade individua, o “cada um por si”, fica totalmente abolido frente às necessidades do trabalho em equipe que os tempos modernos exigem.

Para mais, desenvolvem-se o comprometimento com as decisões e a estratégia de ação, a concentração na realização de resultados, a confiança mútua e o chamamento às responsabilidades quando algo não sai de acordo com os planos.

O trabalho em equipe ainda envolve a paciência, a solidariedade, o planejamento, a aceitação da idéia do erro e de se conviver com colegas, cuja oportunidade, nos faz conhecê-los melhor e aprender com suas experiências e histórias de vida.

Finalmente, “equipes bem formadas são mais criativas, têm mais fontes de informação, incrementam a aprendizagem e seus membros se auto-satisfazem por participar de processos de decisão além de aprender mais sobre si próprios”, como afirma Fábio G. Santos.

O outro lado: equipes podem não gerar resultados

O Prof. Victor Mirshawka Jr. mostra algumas razões porque uma equipe nem sempre alcançam os resultados almejados:

  1. Necessidades mal combinadas

    Na equipe pode haver pessoas que trabalham em seu próprio benefício ou em prol de propósitos contraditórios.

    A solução está em conhecer os objetivos individuais e perguntar aos membros o que desejam e o que esperam obter da equipe.

  2. Metas confusas e objetivos embolados

    Os objetivos não ficam claramente definidos ou as metas traçadas são incoerentes entre si.

    Caso isto aconteça, é necessário esclarecimentos sobre eles ou rever sua congruência, eliminando decisões tomadas apressadamente para se cumprir prazos.

  3. Papéis não resolvidos

    Os integrantes da equipe não entendem claramente qual é a sua função ou a tarefa a desempenhar.

    Portanto, todos devem estar cientes do que se espera de seus desempenhos, e qual sua função dentro da equipe.

  4. Tomada de decisões ruim

    Existem várias ferramentas decisórias diferentes, sendo cada uma mais apropriada para situações específicas. Pode ocorrer que tais ferramentas estejam sendo usadas em situações inadequadas.

    Técnicas de análise por comparação par a par ou técnicas de matriz de avaliação são exemplos que podem ser empregados.

  5. Conflitos de personalidades

    Diferentes personalidades dentro de uma equipe podem causar conflitos na execução das tarefas.

    A solução está na identificação e valorização destas diferenças, tornando-as transparentes para os membros da equipe.

  6. Liderança ruim

    Existem muitas maneiras de a liderança influenciar de forma negativa o comportamento de uma equipe, como, por exemplo, incoerência, inexpressividade, inconstância, etc.

    Nestes casos, fica claro que o líder deve entender que seu propósito é servir aos objetivos da equipe. Caso isto não ocorra, o papel da liderança deve ser passado a outra pessoa.

  7. Cultura anti-equipe

    Não são todas as corporações que estão prontas para lidar com as decorrências do trabalho em equipe, principalmente as auto-gerenciáveis, pois isto implica em níveis diferenciados de liberdade aos seus integrantes. Isto faz com que a cultura da corporação trabalhe contra as equipes de forma sutil ou declarada.

    Neste tipo de corporação, as verdadeiras razões para a criação de equipes devem ser muito bem avaliadas. Se estas razões não forem relevantes, o melhor é nem se criar a equipe.

  8. Feedback e informações insuficientes

    Uma das coisas mais importantes para o monitoramento do trabalho em equipe é a avaliação de seu desempenho sendo que, para que o mesmo possa ser o esperado, não deve haver qualquer tipo de sonegação de informações.

    Torna-se imperativo que se crie um sistema de livre fluxo de informações que sejam úteis para todos os membros da equipe e que também permita o acompanhamento de seu desempenho.

  9. Sistemas de recompensa mal concebidos

    O reconhecimento pelo trabalho eleva o nível de motivação dos membros da equipe. E isto pode não ser feito de forma correta, pois existem inúmeras formas para isso.

    É necessário que, não só a equipe como um todo, mas também seus membros, de forma individual, sejam recompensados.

  10. Falta de vontade de mudar

    Quando se sabe o que necessita ser feita, mas não há vontade de fazê-lo, nada será convertido em sucesso.

    Neste caso deve-se identificar e remover todos os obstáculos que impedem a mudança.

A formação de equipes é fundamental, desde que as forças das pessoas se tornem produtivas e suas fraquezas irrelevantes e onde a unificadora se torna a visão comum e o sistema de valores.

De nada adianta o desejo de “vamos trabalhar em equipe” se o pensamento é independente e autoritário e as decisões são unilaterais e arbitrárias. Desta forma nunca se forma uma equipe.

Transformar um grupo de pessoas em uma equipe de alta performance é, realmente, um grande desafio. Desafio que envolve a necessidade de uma comunicação aberta, de uma prática democrática que leva ao exercício pleno das capacidades de cada um de seus membros e de uma atuação criativa e saudável. E, o que é fundamental, é toda a equipe que irá se responsabilizar pelos seus próprios sucessos e fracassos.