A Cruz Isósceles

Muitas antigas gravuras representando Jesus e seus discípulos mostram todos com as conhecidas auréolas em torno da cabeça, mas apenas na de Jesus se observa uma cruz isósceles circunscrita nela. Isso é sinal de que parte da realidade se conservou nesses quadros. Quando José estava prestes a morrer, viu sobre Jesus, que estava sozinho a seu lado no leito de morte, a irradiante Cruz isósceles e a Pomba. Na Mensagem do Graal, dissertação “A Estrela de Belém”, Abdruschin descreve as palavras de José ante essa visão: “Trêmulas foram suas últimas palavras: ‘Então és tu mesmo!’.”

A Cruz isósceles estava indelevelmente associada a Cristo, sendo mesmo uma parte dele, nada tendo a ver com a cruz do futuro Cristianismo. A cruz de braços iguais é um símbolo pré-cristão antiquíssimo. Há registros conservados dela de pelo menos dois mil anos antes de Cristo, conhecida hoje como cruz grega, mas na verdade ela é muito mais antiga do que a própria civilização grega. Variações dessa cruz grega de duas hastes iguais receberam denominações específicas ao longo do tempo, como: cruz de malta, cruz de São Luís, potentéia, cruz copta, cruz cantonada, cruz celta. De todas, merece menção especial a chamada cruz celta.

A cruz celta apresenta duas hastes simples, de igual tamanho, cruzando-se no centro em ângulo reto e envoltas por um círculo. Os celtas chamavam essa cruz de “eixo do mundo”. Os antigos sábios da Caldéia também denominavam a cruz isósceles de “eixo do mundo”, e isso há cerca de 6.500 anos, na época da construção da Grande Pirâmide do Egito. Para os celtas, o braço vertical representava o mundo celestial, e o horizontal o mundo material. O ponto de encontro das duas hastes indicava para eles a “unidade do todo”, de onde emanava o “halo de unificação” representado pelo círculo.

A cruz isósceles ou equilinear chegou a ser conhecida dos primeiros cristãos, e isso até meados do século V. O teólogo Tertuliano, que viveu nos séculos II e III, diz que antes de enfrentarem um grande perigo os cristãos faziam o sinal da cruz isósceles na testa, e apenas na testa. Contemporâneo de Tertuliano, Orígenes afirmava que essa cruz estava efetivamente traçada na testa dos que eram fiéis… O chamado Documento de Damasco, dos Manuscritos pré-cristãos do Mar Morto, também parece indicar que esse sinal estava de alguma maneira gravado em certos essênios daquele tempo.

Foi somente a partir do século V que o Cristianismo, já então irremediavelmente torcido, associou à sua teologia a outra cruz, a de braços desiguais, a cruz assimétrica do suplício de Cristo.

Na profecia dos índios Hopi – uma pacífica nação indígena que habita ao norte do Estado americano do Arizona – também aparece a figura de uma cruz isósceles. Diz a profecia que “quando o irmão branco afinal retornasse à terra do irmão índio, ele deveria ser bem-vindo caso trouxesse o símbolo sagrado: a cruz dentro do círculo. Se ele viesse apenas com a cruz, então o irmão índio deveria tomar cuidado, pois isso indicaria que a grande purificação não estava muito distante.” A pesquisadora Moira Timms comenta: “Os missionários só trouxeram a opressão.

Eles não sabiam nada sobre o círculo sagrado.”

No primeiro volume da obra Na Luz da Verdade, a Mensagem do Graal, Abdruschin esclarece o tema da Cruz da Verdade associada a Jesus na dissertação O Mestre do Universo:

“A cruz já era conhecida antes do tempo terreno de Cristo. É o sinal da verdade divina! Não somente o sinal, mas também sua forma viva. E como Cristo foi o portador da genuína verdade divina, e emanou da verdade, estando em ligação imediata com ela, trazendo consigo uma parte dela, ela aderiu também vivamente a ele e nele! Ela é visível na Cruz viva, portanto luminosa e autonomamente radiante! Pode-se dizer que ela é a própria cruz. Lá onde se acha essa cruz radiante se acha também, por conseguinte, a verdade, porque essa cruz não pode ser separada da verdade; ambas são uma só coisa, porque essa cruz mostra a forma visível da verdade.

(…) É a Cruz do Salvador! O Salvador, porém, é a Verdade para a humanidade! Apenas o conhecimento da Verdade e a decorrente utilização do que a Verdade encerra, ou do caminho apontado pela mesma Verdade, pode conduzir o espírito humano de sua atual escuridão e perdição para cima, rumo à Luz, libertando-o e salvando-o da situação atual. E como o Filho de Deus, enviado, e o Filho do Homem, já a caminho, são os únicos portadores da Verdade límpida, e a trazem em si, ambos têm de trazer consigo, de modo natural e inseparável, também a cruz; portanto, são portadores da cruz radiante, portadores da Verdade, portadores da salvação que reside para os seres humanos na Verdade. Trazem a salvação pela Verdade para quantos a acolherem, isto é, para os que seguirem o caminho apontado. — Que vale aí todo o palavreado astuto dos seres humanos? Desvanecer-se-á na hora da angústia.

Por isso o Filho de Deus disse aos seres humanos que tomassem da cruz e o seguissem, isto é, portanto, que recebessem a Verdade e vivessem de acordo com ela! Que se adaptassem às leis da Criação, e aprendessem a compreendê-las direito e que só se utilizassem delas por meio de seus efeitos automáticos para o bem.”

A cruz é a forma visível da Verdade. No livro Revelações Inéditas da História do Brasil, Roselis von Sass informa que quando Cabral aportou nas costas brasileiras viu, juntamente com o astrônomo da frota, João Matias, uma cruz isósceles refletida na fulguração vermelha do Sol poente. Esse signo da cruz nos céus do Brasil indicava que este país fora escolhido para divulgar a Verdade na época do Juízo.

Assim como aconteceu com Jesus, o Filho de Deus, também o Filho do Homem trouxe em si mesmo a Cruz isósceles irradiante, como algo natural. É ela “o selo com que Deus, o Pai, confirmou o Filho do Homem” (Jo6:27). Nessa mesma dissertação, Abdruschin diz que a Cruz do Filho do Homem – o Mestre do Universo, seria o sinal visível de sua missão:

“Atrás desse legítimo Mestre do Universo se encontra, como outrora se deu com Cristo, radiante e visível aos videntes puros, a grande Cruz do Salvador! Pode-se dizer também ‘Ele porta a Cruz’! Todavia, isto nada tem a ver com o sofrimento e o martírio.

Esse será um dos sinais de ‘vivo fulgor’ que nenhum mago ou charlatão, mesmo o mais esperto, conseguirá imitar, e mediante o qual se reconhecerá a absoluta legitimidade de sua missão!”

Enquanto os condenados trazem a marca de uma cruz entortada nas testas de suas almas – uma espécie de X – o estigma de Lúcifer, os servos do Senhor também trazem o Seu selo – a cruz isósceles – gravada em suas testas, o sinal da Verdade. São esses últimos os que foram “guardados para a salvação que deve revelar-se nos últimos tempos” (1Pe1:5), tendo sido “selados pelo Espírito Santo de Deus para o Dia da Redenção” (Ef4:30). Eles foram selados na fronte durante a época do Julgamento com o selo do Deus vivo, antes dos acontecimentos mais drásticos do Juízo Final:

“E vi outro anjo que subia do Oriente, trazendo o selo do Deus vivo. Com voz forte ele gritou aos quatro anjos encarregados de fazer dano à terra e ao mar: Não façais dano à terra e ao mar, nem às árvores, até que tenhamos marcado com o selo a fronte dos servos do nosso Deus.”

(Ap7:2,3)

O livro do Apocalipse afirma que em contraste com o destino dos servos fiéis, os que portam o estigma de Lúcifer na testa – a cruz entortada, a marca da besta – perecerão espiritualmente, com grande sofrimento:

“Se alguém adora a besta e a sua imagem, e recebe a marca sobre a fronte ou na mão, esse também beberá o vinho do furor de Deus, derramado sem mistura na taça de Sua ira; será atormentado com fogo e enxofre diante dos santos anjos e diante do Cordeiro. A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos, os que adoram a besta e a sua imagem, e quem quer que receba a marca do seu nome nunca têm descanso, dia e noite.”

(Ap14:9-11)

Ainda nesse livro do Apocalipse, observamos que os servos do Senhor recebem o selo de Deus na fronte – a marca da cruz isósceles – pouco antes de o anjo abrir o sétimo e último selo do livro do Cordeiro, que assinala a última fase do Juízo Final (cf. Ap8:1), a qual se encerrará com o lançamento das “sete últimas pragas, com as quais o furor de Deus se ia consumar” (Ap15:1). Os que não portassem esse selo de Deus na fronte sofreriam integralmente o efeito da reciprocidade durante os terríveis acontecimentos no Juízo, como exemplificado na praga de gafanhotos, que representam as fúrias geradas pelo malquerer humano:

“Foi-lhes dito que não danificassem a erva da terra, toda a verdura e todas as árvores, mas tão somente os homens que não tivessem o selo de Deus na sua fronte.”

(Ap9:4)

O livro do Apocalipse indica que durante a época do Juízo estavam previstos 144 mil selados aqui na Terra: “Então ouvi o número dos que foram selados: 144 mil” (Ap7:4). Seriam 144 mil selados que, com sua vida exemplar, deveriam dar o exemplo do viver correto durante o tempo do Juízo, como primícias de uma nova humanidade, em estrita concordância com as Leis instituídas pelo Pai e os posteriores ensinamentos dados por Seu Filho:

“O Cordeiro estava de pé sobre o monte Sião, e com ele os 144 mil que trazem inscritos em suas frontes o nome dele e o nome do Pai. (…) Entoavam novo cântico diante do trono, diante dos quatro seres viventes, e dos anciãos. E ninguém pôde aprender o cântico, senão os 144 mil que foram comprados da Terra. Estes são os que seguem o Cordeiro por toda a parte. Foram resgatados, como primícias da humanidade, para Deus e para o Cordeiro. Na sua boca não se achou mentira: são irrepreensíveis.”

(Ap14:1,3,4).

São eles igualmente a “assembleia dos primogênitos cujos nomes estão inscritos nos céus” (Hb12:23). Deles fazem parte alguns dos que outrora conviveram com Paulo, os quais, disse o apóstolo, seriam “filhos de Deus sem mancha, fontes de Luz no mundo e portadores da Palavra da Vida” (cf. Fp2:15,16).

Sobre essa expressão “filhos de Deus” cabe um esclarecimento. Em Mateus lemos a seguinte declaração de Jesus: “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.” (Mt5:9).

Jesus faz menção àqueles que possuem legítima paz íntima, e que são capazes, devido à sua pureza de alma, de transmitir essa paz aos seus semelhantes. Paz interior, porém, só pode possuir quem assimila e cumpre a Palavra. Tão-somente este é conduzido pelo Espírito de Deus, a Sua Vontade Sagrada, podendo ser considerado como uma criança da Criação ou um “filho” de Deus: “Os que são conduzidos pelo Espírito de Deus, esses é que são filhos de Deus” (Rm8:14). Assim, unicamente com empenho pessoal um ser humano pode alcançar o estado de poder ser considerado um “filho” de Deus. Essa denominação, porém, não significa que ele traga em si qualquer coisa de divino, mas sim que pelo direcionamento correto do seu livre-arbítrio ele passou a cumprir as determinações do Criador contidas na Palavra, tornando-se então, por adoção, um Seu “filho”. Só poderemos ser tidos na conta de “filhos adotivos” de Deus se cumprirmos a Palavra transmitida por Seu Filho unigênito, enviado por Ele à humanidade pecadora: “Deus enviou o Seu Filho, (…) para que nos seja dado ser filhos adotivos” (Gl4:4,5).

Os previstos 144 mil também seriam fontes de Luz porque se tornariam capacitados, pelo conhecimento adquirido da Verdade, a transmitir Luz para o mundo com sua maneira correta de viver, perpassando e incrementando tudo, para que as massas pesadas não tivessem de sucumbir e perecer. O livro da Sabedoria registra isso com as palavras: “No tempo da intervenção de Deus, os justos resplandecerão e propagar-se-ão como centelhas através da palha” (Sb3:7). A expressão “portadores da Palavra da Vida”, usada por Paulo, significa que eles seriam os “guardiões da Palavra da Verdade”; a eles estariam alegoricamente confiadas no futuro as chaves recebidas por meio das palavras do Filho do Homem.

Esse número total de 144 mil não se confirmou. Muitos desses eleitos se deixaram enganar pelos falsos cristos e falsos profetas que trabalham hoje com redobrado afinco à frente das inúmeras facções cristãs. Acharam mais fácil seguir uma doutrina cega qualquer, iludidos com os “prodígios e maravilhas” que as acompanham, como o perdão fácil dos pecados e a ilusão da salvação gratuita: “Surgirão falsos cristos e falsos profetas, que farão grandes prodígios e maravilhas para enganar, se possível, até os eleitos” (Mt24:24). Mal sabem esses ex-eleitos, hoje “tão firmes na fé”, que já foram irremediavelmente enganados em sua interpretação restrita da Bíblia e na crença cega daí decorrente.

Sobre o selamento, é justo mencionar que alguns textos apócrifos falam que uma pessoa “recebe o saber quando é selada”. No livro secreto de João também podemos ler que o selado fica livre da morte espiritual, pressuposto que mantenha sua vida na direção correta: “Eu levantei e selei essa pessoa, a fim de que daqui em diante a morte não tenha poder sobre ela” (LsJ31:22). Em sua segunda Epístola aos Coríntios, Paulo ratifica que haviam sido selados por Cristo, como penhor do Espírito Santo: “Ele que nos marcou com um selo e colocou em nossos corações o penhor do Espírito” (2Co1:22). Aos Efésios, Paulo esclarece que a condição para esse selamento é a assimilação da Palavra da Verdade trazida por Cristo: “Nós, que previamente pusemos nossa esperança em Cristo. Foi nele, ainda, que vós ouvistes a Palavra da Verdade. Foi nele ainda que acreditastes e fostes marcados com o selo do Espírito Santo prometido” (Ef1:12,13).

Este selo do Senhor marcado na testa da alma é o mesmo descrito pelo profeta Ezequiel, quando fala do “homem vestido de linho” que, por ordem do Senhor, faz uma marca de cruz na fronte das pessoas que estavam injustamente sofrendo abominações:

“Então a glória do Deus de Israel elevou-se acima do querubim sobre o qual estava, em direção à soleira do Templo. Chamando o homem vestido de linho, o Senhor lhe disse: ‘Percorre a cidade, a saber, Jerusalém; e assinala com uma cruz a testa dos homens que estão gemendo e chorando por causa de todas as abominações que se fazem no meio dela’.”

(Ez9:3,4)

No original hebraico está literalmente: “assinala com um tav a testa dos homens”. Esse tav era uma letra do antigo alfabeto hebraico, que tinha exatamente a forma de uma cruz isósceles. A indicação no livro do Apocalipse sobre os 144 mil “com o nome do Pai escrito nas frontes” (Ap14:1), bem como a imagem dos sobreviventes do Juízo portando o “nome de Deus sobre suas frontes” (cf. Ap22:4) apresentam o mesmo sentido, porque esse tav também tem o significado de “assinatura”, tal como aparece, por exemplo, no clamor de Jó (cf. Jó31:35).

O linho com que se veste o homem que sela também tem um significado espiritual. No Apocalipse vemos que os sete anjos “estavam vestidos de linho puro e brilhante” (Ap15:6), e a explicação para isso é que “o linho brilhante e puro significa obras justas” (cf. Ap19:8). Uma roupa de linho quer, portanto, indicar uma alma pura e justa, que é a vestimenta do escolhido espírito humano atuante. Bem ao contrário dos trapos portados por espíritos preguiçosos: “A indolência os vestirá de andrajos” (Pv23:21). Isso, aliás, jamais poderia acontecer com os povos enteais, os seres da Natureza tratados em outro ensaio, porque esses seres agem sempre em estrita observância à Vontade de Deus, de modo que nunca poderão estar com as vestes sujas ou rasgadas. Suas vestiduras serão sempre imaculadas, puras também como o linho, tal como aparece na imagem dos “exércitos do céu” que acompanham o Filho do Homem durante o Juízo: “Os exércitos do céu o acompanham, montados em cavalos brancos, com roupas de linho branco e puro” (Ap19:14).

O sinal da cruz gravado na fronte é a indicação de que o respectivo ser humano encontra-se sob proteção do Onipotente. Por isso, os que portavam esse sinal na testa de suas almas não seriam atingidos pelo castigo que os demais receberiam na reciprocidade, em razão das monstruosas abominações que vinham cometendo ao longo de suas existências, que compreende várias vidas terrenas:

“Filho do Homem, tu vês o que estão fazendo? As monstruosas abominações que se cometem aqui a fim de afastar-me do Meu santuário? (…) Percorrei a cidade atrás dele e feri. Não mostreis olhar de compaixão nem poupeis ninguém. Velhos, moços, virgens, crianças, mulheres; matai-os, entregai-os ao exterminador. Mas não toqueis ninguém daqueles que trouxerem o sinal da cruz.”

(Ez8:6;9:5,6)