O MUNDO
(18/11/2009)

Abdruschin

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O MUNDO! Quando o ser humano emprega esta palavra, na maior parte das vezes a articula impensadamente, sem chegar a fazer uma idéia objetiva de como possa ser realmente isso a que ele chama o mundo.

Contudo, muitas pessoas que procuram imaginar algo sobre isso vêem mentalmente inúmeros corpos celestes de tamanhos e formas as mais diversas, percorrendo no Universo suas determinadas órbitas, e todos eles ordenados em sistemas solares. Sabem que, à medida que aparecem instrumentos mais fortes e de mais longo alcance, mais corpos celestes se irão tornando visíveis. E então o ser humano mediano se compraz com a palavra “infinito”, iniciando-se nele com isso o erro de uma noção falsa.

O mundo não é infinito. É a Criação material, isto é, a obra do Criador. Como todas as demais, essa obra se acha ao lado do Criador, e é, como tal, limitada.

Os assim chamados progressistas frequentemente se sentem orgulhosos em possuírem o reconhecimento de que Deus repousa na Criação toda, em cada flor, em cada pedra e de que Deus é a força propulsora da natureza, por conseguinte, de tudo o que é imperscrutável, que se torna perceptível, mas que não é possível se compreender realmente. Uma energia primordial de efeitos permanentes, uma fonte de forças atuantes renovando-se perenemente, a Luz primordial inenteal. Cuidam-se sumamente adiantados com a concepção de que Deus é uma força propulsora que, penetrando em tudo, é encontrada por toda a parte, agindo sempre com a única finalidade de desenvolvimento para a perfeição.

Isto, porém, é certo apenas em determinado sentido. Encontramos no conjunto da Criação apenas a Sua vontade e, com isso, o Seu espírito e a Sua força. Ele próprio se encontra muito acima da Criação.

A Criação material, desde que surgiu, está ligada às leis imutáveis do formar e decompor, pois aquilo que nós chamamos de leis da natureza não é senão a vontade criadora de Deus que, atuando continuamente, forma e desfaz mundos. Essa vontade criadora é uniforme em toda a Criação, à qual pertencem, como uma só coisa, os mundos de matéria fina e de matéria grosseira.

A uniformidade incondicional e inamovível das leis primordiais, isto é, da vontade primordial, acarreta que nos mínimos fenômenos da Terra de matéria grosseira tudo sempre se desenrola exatamente como tem de ocorrer em qualquer fenômeno, portanto, também nos mais gigantescos acontecimentos da Criação inteira, e como na própria gênese.

A forma rigorosa da vontade primordial é singela e simples. Encontrá-la-emos facilmente, uma vez reconhecida, em todas as coisas. A confusão e a incompreensibilidade de muitos fenômenos decorrem apenas dos emaranhados rumos e percursos, formados pelas diferentes vontades dos seres humanos.

A obra de Deus, o mundo, se acha portanto, como Criação, submetida a todas as leis divinas das quais se originou; por conseguinte, é limitada, permanecendo sempre uniforme e perfeita.

O artista, por exemplo, está também na sua obra, identifica-se com ela e apesar disso fica pessoalmente ao lado dela. A obra é restrita e perecível, mas nem por isso o é a capacidade do artista. Este, portanto, o criador da obra, pode destruir a mesma, que é a expressão de sua vontade, sem que ele próprio venha a ser atingido. Não obstante isso, continuará sendo sempre o artista.

Reconhecemos e encontramos o artista na sua obra, e ele se nos torna familiar, sem que seja necessário tê-lo visto pessoalmente. Temos as suas obras, sua vontade jaz dentro delas e atua sobre nós; por intermédio delas ele se comunica conosco, podendo todavia viver por si, longe de nós.

O artista criador e sua obra refletem uma fraca imagem da relação entre o Criador e a Criação.

Eterno e sem fim, isto é, infinito, é apenas o movimento circular da Criação, no seu ininterrupto formar, perecer, para outra vez tomar nova forma.

Nesses acontecimentos se cumprem outrossim todas as revelações e promessas. Por último se cumprirá nisso também para a Terra o “Juízo Final”!

O Juízo Final, isto é, o último Juízo, chegará uma vez para cada corpo sideral material, porém esse acontecimento não ocorre ao mesmo tempo em toda a Criação.

Trata-se dum fenômeno necessário para cada parte da Criação que já tenha, em seu circuito, atingido o ponto em que sua dissolução deve começar, a fim de poder tomar nova forma no caminho a seguir.

Por movimento circular eterno não se entende o ciclo rotativo da Terra e de outros astros em torno de seu Sol, mas sim o grande e mais poderoso ciclo que todos os sistemas solares por sua vez devem percorrer, enquanto também executam seus movimentos específicos e próprios.

O ponto no qual deve principiar a dissolução de cada corpo sideral está fixado de modo exato, novamente com base na consequência de leis naturais. Trata-se dum lugar certo no qual se deve operar o processo da decomposição, independentemente do estado do respectivo corpo sideral e de seus habitantes.

O movimento circular de cada corpo sideral o impele de modo inexorável nessa direção e chegará sem retardamento a hora de sua decomposição que, como em tudo o que foi criado, significa na realidade somente uma transformação, a oportunidade para uma evolução progressiva. Aí terá chegado a hora da “decisão” para cada ser humano. Ou será soerguido à Luz, caso tenha visado ao espiritual, ou ficará acorrentado à matéria a que está aderido, caso suas convicções só reconheçam mérito e valia nas coisas materiais.

Neste caso não conseguirá elevar-se da matéria, na consequência lógica da sua própria vontade, e será arrastado com ela no último trecho do caminho para a decomposição. Isto é então a morte espiritual! Equivale a ser riscado do Livro da Vida.

Este processo, em si tão natural, é denominado também condenação eterna, visto “ter que deixar de existir pessoalmente” quem for levado desta forma à decomposição. A pior coisa que pode acontecer a uma criatura humana. É considerada uma “pedra imprestável”, inadequada para uma construção espiritual, devendo por isso mesmo ser triturada.

Essa separação do espírito, da matéria, ocorrendo também em base de leis e fenômenos totalmente naturais, é o assim chamado “Juízo Final”, que se acha ligado a grandes transformações e mudanças.

Que tal dissolução não se processará num dia terrenal, todas as pessoas compreenderão facilmente, pois nos fenômenos cósmicos um milênio corresponde a um dia.

Contudo, já nos encontramos no limiar desse período. A Terra está chegando agora ao ponto em que se afastará da órbita seguida até então, fenômeno este que se fará sentir fortemente também na matéria grosseira. Então se estabelecerá cada vez mais intensamente a separação entre todos os seres humanos, separação esta que já foi preparada nos últimos tempos, pronunciando-se por enquanto apenas em “opiniões e convicções”.

Por esta razão cada hora da existência terrena se torna mais preciosa do que nunca. Que todo aquele que quer procurar e aprender com sinceridade se desprenda com todos os esforços dos pensamentos baixos que o agrilhoam às coisas terrenas. Do contrário correrá o perigo de permanecer aderido à matéria e de com ela se vir arrastado à dissolução total.

Já aqueles, contudo, que se esforçam para atingir a Luz serão pouco a pouco libertados da matéria e por fim elevados para a pátria de todo o espiritual.

Então estará definitivamente realizada a separação entre a Luz e as trevas, e consumado o Juízo.

“O mundo”, isto é, a Criação inteira, nem por isso acabará, pois os corpos siderais só serão arrastados à decomposição quando em seu curso alcançarem o ponto em que a dissolução e com esta a prévia separação devam processar-se.

A execução irrompe através da atuação natural das leis divinas, que desde os primórdios da Criação nela residiam, que originaram a própria Criação e que tanto hoje como no futuro continuamente cumprem a vontade do Criador. Nesse eterno movimento circular há um ininterrupto criar, semear, amadurecer, colher e desintegrar, a fim de, nas transformações de ligações, tomar de modo fortalecido outras formas, que se movimentam ao encontro de um novo ciclo.

Pode-se imaginar esse movimento circulatório da Criação como um colossal funil ou uma enorme cavidade por onde irrompe uma torrente incessante de sementes primordiais sempre em movimentos circulatórios, em busca de novas ligações e desenvolvimento. Tal qual a ciência já sabe e já descreveu direito.

Espessas névoas se formam mediante fricção e fusão para constituir por sua vez corpos siderais que se agrupam, através de irretorquíveis leis, em sistemas solares de consequência lógica e segura e que, em seu próprio movimento circular, acompanharão o grande ciclo, que é eterno.

Como nos fenômenos visíveis aos olhos terrenos, da semente advêm o desenvolvimento, a formação, a maturação e a colheita, ou a desintegração, acarretando transformações e decomposições para ulteriores desenvolvimentos, quer se trate de plantas, animais ou corpos humanos; exatamente assim é também nos grandes fenômenos do mundo. Os visíveis corpos siderais de matéria grosseira, envoltos por um ambiente de matéria fina muito maior, portanto não visível aos olhos terrenos, acham-se submetidos em seu eterno circular a idênticos fenômenos, porque neles atuam as mesmas leis.

A existência da semente primordial não pode ser negada nem mesmo pelo mais fanático cético, contudo não pode ser notada pelos olhos terrenos, porque se trata de outra matéria, do “Além”. Chamemo-la de novo, calmamente, matéria fina.

Também não é difícil compreender que, de modo natural, o mundo assim criado primeiramente é constituído igualmente de matéria fina e não é reconhecível aos olhos terrenos. Somente o sedimento mais grosseiro que depois resulta disso, dependente do mundo de matéria fina, é que forma, pouco a pouco, o mundo de matéria grosseira com seus corpos de matéria grosseira, e tão-só isso pode ser observado desde os mínimos inícios com os olhos terrenos e com todos os meios auxiliares de matéria grosseira.

O mesmo acontece com o invólucro do ser humano propriamente dito, em sua espécie espiritual, de que virei a falar ainda. Em suas peregrinações através dos mundos diferentes, suas vestes, capa, manto, corpo ou instrumento, enfim, seja lá qual for o nome que se queira dar ao invólucro, tudo terá de adquirir a estrutura idêntica à do ambiente material em que ingressa, a fim de servir-se dele como proteção e instrumento auxiliar necessário, se quiser ter a possibilidade para agir direito e eficazmente.

Todavia, como o mundo de matéria grosseira depende do mundo de matéria fina, disso resulta também o efeito retroativo de todos os acontecimentos do mundo de matéria grosseira para o de matéria fina.

Esse enorme ambiente de matéria fina foi criado da semente primordial, portanto acompanha o movimento circular eterno, acabando também por ser atraído e arrastado para o lado posterior do gigantesco funil já mencionado, onde se processa a decomposição para ser expelido do outro lado como semente primordial, para novo circuito.

Igual à atividade do coração e à circulação do sangue, assim é o funil como coração da Criação material. O processo de decomposição atinge, por conseguinte, a Criação inteira, inclusive a parte de matéria fina, visto como tudo quanto é material torna a dissolver-se em semente primordial, para novas formações. Em nenhuma parte se encontra uma arbitrariedade, pelo contrário, tudo se processa segundo a lógica consequência das leis primordiais, que não admitem outro caminho.

Por isso, num determinado ponto do grande movimento circular dá-se o momento para tudo o que foi criado, quer seja de matéria grosseira ou fina, em que o processo de decomposição do que foi criado se prepara de maneira autônoma, irrompendo por fim.

Esse mundo de matéria fina é, pois, o lugar de estada transitória para as pessoas terrenamente falecidas, o assim chamado Além. Acha-se estreitamente interligado com o mundo de matéria grosseira, que lhe pertence, que é um todo com ele. No momento do falecimento, o ser humano penetra com o seu corpo de matéria fina, que traz junto com o de matéria grosseira, nas imediações de igual espécie fino-material do mundo de matéria grosseira, ao passo que deixa neste o seu corpo de matéria grosseira.

Assim, esse mundo de matéria fina, o Além, pertencente à Criação, está sujeito às mesmas leis de contínuo desenvolvimento e decomposição. Ao iniciar-se a decomposição, se processa por sua vez uma separação entre o espiritual e o material de modo inteiramente natural. Conforme o estado espiritual do ser humano no mundo de matéria grosseira, bem como no de matéria fina, terá o ser humano espiritual, o “eu” propriamente dito, de se movimentar para as alturas ou permanecer acorrentado à matéria.

O sincero anseio pela Verdade e a Luz tornará cada um espiritualmente mais puro e assim mais luminoso, devido à sua concomitante modificação, de modo que essa circunstância o desligará natural e gradativamente da densa matéria grosseira e o impulsionará em direção às alturas, conforme sua pureza e leveza.

Aquele, porém, que se apega e só crê na matéria vai se tornando, devido às suas convicções, aderido a ela e assim permanece agrilhoado, não podendo por isso ser levado para o alto. É através da decisão do livre-arbítrio de cada um que se opera a separação entre os que se esforçam para a Luz e os que permanecem ligados às trevas, de acordo com as leis vigentes naturais da gravidade espiritual.

Torna-se assim evidente que também há um fim real para a possibilidade de desenvolvimento de pessoas terrenamente falecidas, no processo de purificação do assim chamado Além. Uma decisão final! Os seres humanos em ambos os mundos ou se tornam de tal modo enobrecidos que possam ser elevados às regiões da Luz, ou permanecem presos devido à sua condição inferior, conforme a própria vontade, sendo finalmente atirados à “condenação eterna”, isto é, sofrerão a decomposição com a matéria da qual não se podem libertar, sofrem-na com dores, e acabam por não existir mais pessoalmente.

Como debulho arremessado ao vento, eles se dispersarão, sendo com isso riscados do Livro de Ouro da Vida!

O assim chamado Juízo Final, isto é, o último Juízo, é, por conseguinte, também um processo que se realiza naturalmente pela atuação das leis que regem a Criação, de maneira tal, que nem poderia dar-se diferentemente. O ser humano recebe também aqui sempre apenas os frutos daquilo que ele próprio quis, e que provocou mediante suas convicções.

O saber de que tudo o que na Criação ocorre se realiza segundo a mais severa consequência lógica, de que a diretriz do destino humano é sempre decorrente do próprio ser humano, conforme seus desejos e sua vontade, e de que o Criador não interfere observando, a fim de recompensar ou castigar, não diminui a grandeza do Criador, mas sim somente pode dar motivo para imaginá-Lo ainda muito mais sublime.

A grandeza reside na perfeição da Sua obra, que obriga à respeitosa contemplação, visto dever conter tanto nos acontecimentos máximos como nos mínimos o maior amor e a mais íntegra justiça, sem diferença.

Grande é também o ser humano, colocado como tal dentro da Criação, como senhor do seu próprio destino! Pode ele, por si, mediante sua vontade, salientar-se na obra e contribuir para seu mais elevado desenvolvimento; como também pode degradá-la e nela enredar-se, sem jamais poder desvencilhar-se, acompanhando-a na dissolução, quer seja no mundo de matéria grosseira, quer no de matéria fina.

Livrai-vos, portanto, de todos os liames dos baixos sentimentos, pois o tempo urge! Aproxima-se a hora do término do prazo! Despertai em vós o anseio pelo que é puro, verdadeiro e nobre! —

Muito acima do eterno circular da Criação pairam, como uma coroa no meio de uma “Ilha Azul”, os páramos dos bem-aventurados, dos espíritos purificados, que já podem permanecer nas regiões da Luz! Essa ilha jaz separada do mundo. Não toma parte, por conseguinte, do movimento circular, constituindo, porém, não obstante a altura em que jaz acima da Criação circulante, o apoio e o ponto central donde emanam as forças espirituais. É a ilha que contém em sua altitude a tão celebrada cidade das ruas de ouro. Lá, nada mais está sujeito a quaisquer transmutações. Não há que temer mais nenhum Juízo Final. Aqueles que podem permanecer lá encontram-se na “pátria”.

E como último, porém, como o mais elevado dessa Ilha Azul, existe, inacessível para os não-eleitos, o Supremo Templo do Graal, já mencionado tantas vezes nas poesias!

Envolto em lendas, como anseio de incontáveis criaturas, ele paira acolá no fulgor da suprema magnificência e abriga o cálice sagrado do puro amor do Onipotente, o Graal!

Como guardiões foram eleitos os mais puros dos espíritos. São portadores do amor divino em sua forma mais pura, essencialmente diverso do que os seres humanos na Terra imaginam, embora o vivenciem toda hora e todo dia.

Através de revelações, a notícia da existência desse Templo desceu por muitos degraus o longo percurso dessa Ilha Azul, atravessando o mundo de matéria fina, até chegar finalmente aos seres humanos da Terra de matéria grosseira, mediante a inspiração profunda de alguns poetas. De degrau em degrau, transmitida para baixo, a Verdade acabou sofrendo, involuntariamente, várias desfigurações, de modo que a última transmissão pôde permanecer somente um reflexo várias vezes turvado, que se tornou a causa de muitos erros.

Contudo, quando duma parte da grande Criação sobe até ao Criador uma súplica ardente por causa de grande sofrimento, então é enviado um servo do cálice sagrado para intervir auxiliando, como portador desse amor, na aflição espiritual. Assim, aquilo que apenas como mito e lenda flutua na obra da Criação tornou-se vivo nela!

Todavia, tais missões não se realizam com frequência. São sempre acompanhadas de incisivas modificações e grandes transformações. Tais mensageiros trazem Luz e Verdade aos que perderam o caminho, paz aos desesperados, estendem a mão com sua mensagem a todos quantos buscam, oferecendo-lhes nova coragem e nova energia, a fim de, através de toda a escuridão, guiá-los para cima, rumo à Luz.

Chegam somente para aqueles que anseiam por auxílio da Luz, e não, porém, para os zombadores e presunçosos.

Abdruschin, Na Luz da Verdade - Vol. I, dissertação “O Mundo”.