IMPACTOS AMBIENTAIS SOBRE O MEIO AMBIENTE
(10/10/2005)

Flávia Regina Pestana Tirlone

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Mata na região do corredor industrial de Embu

O meio ambiente pode ser definido de várias maneiras, entretanto, na minha concepção ele envolve tudo que existe a nossa volta; o ar , a água, a terra, os seres humanos, os animais, as plantas, enfim, esse grande conjunto é que forma o meio ambiente no qual estamos inseridos. Se o equilíbrio existente dentro desse conjunto é perturbado, dizemos que houve um impacto ambiental que pode ser pequeno ou grande conforme o ponto de vista e o bom senso de quem está analisando a questão.

Assim, infelizmente, todos os dias impactos ambientais acontecem a nossa volta ainda que muitas vezes nós sequer tenhamos consciência de que eles estejam ocorrendo, como acontece, por exemplo, quando não separamos o nosso lixo doméstico para reciclagem causando assim um desequilíbrio no meio ambiente já que diversos materiais os quais compõe esse lixo demoram dezenas de anos para se decompor.

Essa pequena introdução serve somente para refletirmos sobre como muitas vezes colaboramos para o desequilíbrio do meio ambiente do qual fazemos parte sem a intenção de provocarmos algum mal com isso ou sem atentarmos realmente para o problema devido ao comodismo. Portanto, antes de percebermos os danos que também causamos, muitas vezes por ignorância, estamos sempre ligados nos estragos que os "outros" estão provocando e que temos a oportunidade de assistir todos os dias na televisão ou tomar conhecimento através dos diversos meios de comunicação aos quais temos acesso atualmente. Enfim, essa pequena dissertação trata essencialmente de alguns aspectos ligados a impactos ambientais causados pelas diversas indústrias situadas no Município de Itupeva, no Estado de São Paulo, incluindo algumas considerações sobre outros tipos de degradação ambiental que vem ocorrendo diariamente e atuam como sombras que se deslocam lentamente e que sem serem percebidas influenciam sobre a nossa tão almejada "qualidade de vida".

Muitas Indústrias instalaram-se no Município nos últimos anos através de incentivos fiscais e também atraídas pela proximidade de grandes centros como Campinas e São Paulo. O impacto ambiental causado é muito grande e bastante complexo e está relacionado não só a fatores como a poluição em suas várias formas mas também a uma mudança no perfil do Município que até poucos anos atrás tinha sua economia baseada na agropecuária. Não podemos creditar a culpa dos impactos ambientais apenas às Indústrias poluentes pois as degradações causadas pela implantação dos inúmeros loteamentos residenciais na sua maioria populares e também os de lazer são muitas. Além do mais, só o fato da população do planeta aumentar num ritmo acelerado gera um grande impacto, levando-se em consideração que os recursos naturais dos quais dependemos para viver, como por exemplo, a água potável estão se esgotando.

O impacto ambiental causado pelas indústrias que vêm se instalando ano a ano em Itupeva interfere diretamente na qualidade de vida dos moradores das áreas adjacentes que passam a sofrer pela mudança drástica da paisagem, pelo aumento das doenças respiratórias, pelo cheiro forte e ruim , enfim , muitas são as insatisfações e reclamações. As diversas indústrias de todos os portes estão distribuídas por todo o município confirmando que não houve um planejamento por ocasião da sua instalação que deveria ser fita em um distrito industrial. No total são 29 bairros diferentes conforme o cadastro da Prefeitura, sendo que a maioria das indústrias está concentrada em 3 bairros: Santa Júlia, São Roque da Chave, e Mina. No Sta Júlia existem vários sítios pequenos. No bairro da Chave também existem várias propriedades

rurais em sua maioria produzindo uva niagara rosada, cultura de maior expressão no Município.Nesse bairro estão instaladas 4 indústrias altamente poluentes que são: AKZO NOBEL (QUÍMICA), REVEL (SABÃO), UNIVEM (PETROQUÍMICA) E BRAIDO (SUB PRODUTOS DE OSSOS DE ANIMAIS). Já no bairro da Mina também existem sítios e residências o que não combina absolutamente com as indústrias. A Akzo Nobel é a única que possui ISO 14000. Recentemente ela elaborou um projeto de coleta seletiva do lixo no bairro da Chave onde está instalada.

De acordo com o Plano Diretor recentemente elaborado , o nível de impacto ambiental causado pela poluição gerada por algumas indústrias é altíssimo, nível 5 segundos a CETESB. Atualmente o Município tem cadastradas 153 Indústrias (segundo relatório da Prefeitura). Esse número somado as áreas de chácaras de lazer denuncia a mudança do perfil econômico do Município que passa de essencialmente agrícola para um perfil voltado para as atividades industriais e de lazer. Segundo a visão de parte da população, essa mudança só beneficia a cidade que progride cada vez mais, gerando mais empregos e impulsionando o comércio .Com certeza as vantagens desse tipo de progresso são diversas mas precisa haver um equilíbrio.

O número de indústrias vem crescendo a cada década e a evolução dos é a seguinte:

Por ocasião do levantamento realizado em 1996 pela Secretaria da Agricultura do Estado, o LUPA, estimou-se em 1200 hectares a área de mata nativa de nosso Município que soma 20100 hectares ou seja, 201km2.Com certeza esse área diminuiu bastante já que os pequenos fragmentos florestais espalhados por todo o Município vêm sendo suprimidos sempre com muitas justificativas "plausíveis". As compensações ambientais exigidas pelos órgãos ligados ao meio ambiente como o DEPRN (Departamento de proteção dos recursos naturais), nunca serão suficientes e não substituirão um trabalho que a natureza demorou anos para elaborar. Cada vez que a vegetação regenera-se naturalmente demorando alguns anos para que isso aconteça, ela novamente é suprimida, e assim a vegetação arbórea nativa nunca volta a ser o que era antes. Além do mais as recomposições florestais exigidas não atendem ao fator de biodiversidade pois nem sempre são plantadas as espécies que haviam anteriormente nas áreas em questão. A diversidade genética não será a mesma?

A aceleração da urbanização com a consequente diminuição das áreas agrícolas e das áreas de vegetação nativa e de preservação permanente deverá em parte ser contida se o Plano Diretor for realmente implantado já que existem diversas diretrizes que deverão ser respeitadas, inclusive em relação a instalação de novas indústrias e outros empreendimentos imobiliários Acredita-se que as áreas potencialmente agrícolas também deverão ser preservadas, apesar da enorme especulação imobiliária freando a urbanização, evitando assim uma maior degradação dos recursos naturais.

Como exemplo das consequências geradas pela impermeabilização crescente do solo, novas enchentes têm assolado o Município , em especial a última ocorrida em maio desse ano devido a uma forte chuva como a muito tempo não se via, que atingiu diversos bairros populares todos localizados em áreas de baixada onde antes haviam várzeas naturais. Essa última enchente provocou danos bem maiores que as anteriores e a população ficou bastante assustada. Esses bairros compõem loteamentos que foram implantados a margem do rio Jundiaí que não suportou a enorme quantidade de água e transbordou. É óbvio que essas áreas não eram adequadas a implantação desse tipo de empreendimento mas não houve um estudo do impacto ambiental que poderia ser gerado pela sua ocupação.

Outra consequência das mudanças climáticas que ocorrem em nosso planeta, causadas principalmente pelo aquecimento global, pode ser exemplificada pela última chuva de granizo ocorrida no mês passado e que segundo os produtores rurais foi uma das piores que já se viu na região em muitos anos.

Não podemos nos esquecer que o uso indevido de adubos químicos solúveis e dos agrotóxicos ou defensivos agrícolas como preferem chamar aqueles que defendem o seu uso, têm provocado diversos danos ao meio ambiente pois esse produtos contaminam as águas, o ar, as pessoas que lidam diretamente com eles, enfim, produzem um desequilíbrio tão grande na natureza como as próprias indústrias com a liberação de seus gases poluentes e resíduos sólidos tóxicos. É triste constatar que a preocupação no que diz respeito ao uso desses produtos nas plantas(e também nos animais, como por exemplo os diversos hormônios) é mínima apesar de estarmos sofrendo as consequências de tudo isso em nosso próprio corpo que adoece a cada dia.

Atualmente, muitos Países, especialmente na Europa, já optaram por uma agricultura mais natural tentando voltar no tempo, antes da 2º guerra mundial quando não eram utilizados agrotóxicos nas lavouras. Hoje o produtor rural especialmente aqui no Brasil ainda acredita que não colherá sem o uso desses produtos.

A agricultura denominada "orgânica", "natural" "biológica", "biodinâmica", todas elas, pregam a não utilização de toda uma parafernália química nociva. Esse movimento de mudança ainda encontra-se engatinhando no Brasil pois não há um incentivo do governo para isso. Pelo contrário, os interesses das multinacionais desse setor acabam predominando pois os lucros dessas empresas são imensos. Por outro lado ,pelo que tenho observado , até mesmo essa agricultura já está sendo aos poucos envenenada já que os produtores orgânicos começam a perder de vista o grande objetivo dessa mudança que é a restauração da saúde do meio ambiente e passam a priorizar os lucros. Os produtos orgânicos são bem mais caros que os convencionais. A alegação é que a não utilização dos produtos químicos convencionais exige outros tipos de produtos naturais para substituí-los e assim o custo de produção continua alto também para esses produtores. Assim começam a surgir novas Empresas com novos produtos naturais que possam ser utilizados nas lavouras orgânicas se necessário. Com isso os produtores passam a depender novamente da utilização de determinados insumos que muitas vezes são tão caros quanto os agrotóxicos e adubos solúveis. Alem disso também existem controvérsias entre as diversas linhas de pensamento dos "líderes" desses diversos movimentos em prol de uma agricultura mais natural. Em Itupeva existe apenas um produtor orgânico sendo que o total de produtores no Município é de aproximadamente 240.

Nesses quase 13 anos que vivo em Itupeva, tenho observado ao conversar com pessoas de "fora" o quanto o nosso Município vem sendo alvo de admiração pelo rápido crescimento provocado pelo "progresso" creditado em grande parte a vinda das indústrias. Esse crescimento atrai as pessoas que chegam aqui atrás de empregos. Também é interessante notar a procura pelas chácaras de lazer, movida principalmente pela proximidade de São Paulo. Os paulistanos encontram aqui a paz que não possuem há muito tempo. Em compensação fica difícil estimar por quanto tempo essa paz vai perdurar.

A violência, como já é de se esperar, vem aumentando a cada dia. Roubos de carros ,casas e assaltos a mão armada principalmente nos pequenos comércios, tem se tornado mais comuns. Assassinatos por vinganças ligadas ao tráfico de drogas, crimes passionais, enfim, a cidade "cresce"… e se deteriora.

Sem me apoiar em dados concretos, estima-se que o nível cultural da população é baixo pois os produtores rurais responsáveis pela colonização do Município tiveram pouco acesso ao estudo e as pessoas que vêm de fora também são pouco estudadas e possuem pouca capacitação, apesar das Empresas exigirem cada vez mais um aprimoramento técnico de seus funcionários. Por outro lado, existem muitos sub-empregos paro os quais as exigências são mínimas.

De qualquer forma o quadro que se tem não é dos mais otimistas, pois apesar da cidade ter muito a oferecer, muitas pessoas chegam aqui iludidas. Os postos de saúde transbordam com pessoas doentes e que não tem condições de pagar um plano de saúde, o número de adolescentes grávidas é muito grande, o desemprego é uma realidade. Os vícios e o vandalismo também aumentam.

Decerto que essa realidade não se atém a apenas ao nosso Município. Recentemente foi autorizada a implantação de um corredor industrial no município do Embu das Artes, em uma região de matas nativas a serem preservadas, para nós e nossos descendentes. Apesar de tudo não podemos desanimar pois a luta continua. Cabe a cada um de nós fazer alguma coisa para minimizar os danos , cada um a sua maneira e com a consciência de que se não cuidarmos de nossa casa, o planeta Terra, quem mais o fará? De uma coisa temos certeza: Colheremos os frutos da nossa semeadura!