CARMA
(13/04/2004)

Fernando Ribeiro

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Carma é a força gerada pelas ações de cada um de nós que infalivelmente volta, nesta ou em outra encarnação, carregada da mesma espécie, a fim de poder ser remida. É simplesmente a mesma conhecida lei de que em se semeando haveremos de colher a mesma espécie multiplicadamente. Essa lei está inserida na natureza, automaticamente, e não reflete somente nas plantações e colheitas, mas também em todo o atuar dos seres humanos, seja proveniente de ações de boa ou má vontade. Cada um terá, em sua futura circunstância aqui na Terra ou no Além, de saborear o que foi semeado outrora, como algo de bom ou mal.

Para que não hajam equívocos deve-se ter em mente que existe, para cada ser humano, somente ações de livre vontade. Coincidências ou azares não existem. A palavra árabe “Al Zahar” que originou o termo azar em português significa, em seu conceito original, um acontecimento sem causa conhecida. A causa sempre existe por que o universo inteiro é causal. Coincidências, como as introduzidas pelo homem nas roletas e loterias, jamais podem ser inseridas para modificar ações humanas. O pré-determinismo, ou seja, o próprio Carma, nada mais é do que a consequência de nossos próprios atos do passado.

Entretanto, uma enorme maioria não vê essa simples lógica. Tão evidente que ninguém espera obter milho plantando soja, porém buscam negar tal entendimento através de falsa lógica. Em geral argumentam que, se isso fosse verdade, uma pessoa que faça mal a outra irá receber a mesma espécie de mal e consequentemente esse mal nunca poderia ser extinto, porque cada mal geraria outro indefinidamente.

O que esta faltando nesse falso raciocínio é um conhecimento mais amplo das Leis fundamentais da Criação. As Leis da Reciprocidade, da Atração dos Homólogos e da Gravidade Espiritual subordinam irresistivelmente os fenômenos do tão temido Carma.

Na realidade, existe uma só Lei que, na efetivação, parece decompor-se em três Leis distintas. A Lei da reciprocidade é a base do que se observa no Carma. Isso está presente também na física, onde uma ação corresponde a uma reação de mesma intensidade, porém em sentido contrário. Se alguém fizer o bem colherá o bem, se fizer o mal colherá o mal.

Porém, existe entrelaçado aí outros efeitos, como o da atração dos homólogos e da gravidade, inseridos simultaneamente e de forma viva.

Por atração de homólogos devemos entender a atração de uma espécie completa por outra espécie completa. Não pode ser confundida com a atração de partes de uma mesma espécie. Podemos, para melhor exemplificar isso, observar o que ocorre com um ímã ou magneto comum. Seus pólos, de mesmo sinal, se repulsam quando aproximados ou se atraem quando a polaridade for invertida. Trata-se aí de um desejo de ligação, mas não de uma atração de homólogos. Semelhantemente existe o forte desejo de ligação entre sexos opostos e uma repulsa natural entre sexos iguais. Um homólogo é, portanto, uma espécie completa que atrai pessoas umas às outras como, por exemplo, a sinceridade, a bondade, a honestidade, a pureza, o heroísmo etc.. Da mesma forma pessoas podem se atrair através da violência, do ódio, da mentira, inveja, lascívia, etc.. Essa lei explica porque recebemos a mesma espécie que plantamos com nossas ações multiplicadamente. No decorrer do percurso de uma ação inicial, essa lei permite que forças da mesma espécie sejam atraídas, de forma que no seu retorno ela volta com seu conteúdo reforçado multiplicadamente.

Por ação da gravidade devemos entender o afastamento do espírito humano do que é excelso. A gravidade que reponde pelo nosso peso na superfície da Terra é apenas um efeito parcial e colateral desse afastamento. Entretanto, a nossa gravidade espiritual e anímica é fundamental para explicar o mecanismo do Carma.

Como um exemplo prático dessa lei espiritual podemos fazer uma analogia com um mergulhador e seu equipamento de mergulho. Quando ele está no fundo do mar, digamos a uns 20 ou 30 metros abaixo da superfície, observa o novo ambiente exatamente como se estivesse em terra firme. O solo do oceano passa a ser o terreno em que anda e o céu a superfície do mar de onde vem a luz. Para quem já mergulhou com boa visibilidade, a impressão lá do fundo, olhando-se para cima, é de estar olhando para um outro céu, e não para a superfície do mar. Poderemos flutuar, qual uma rolha até a superfície, caso a nossa própria densidade seja menor. Contrariamente afundar caso a densidade for maior que o meio ambiente aquático.

Semelhantemente, nossa densidade anímica e espiritual busca automaticamente o grau equivalente do meio ambiente mais fino existente, invisível aos olhos do corpo material. Isso se transforma na suas contingências de vida aqui na Terra. Pode ser que um pesado Carma seja em muito aliviado ou até remido simbolicamente, caso o ser humano em questão tenha evoluído espiritualmente. Inversamente, algo de bom não poderá surgir de seus bons feitos do passado se um tal espírito, no meio tempo, involuiu, tornando-se inferior e afundando pelo maior peso e densidade.

Quando falamos de Carma merecido ou imerecido estamos deixando de considerar todos os fatores em conjunto que ajustam adequadamente cada caso, não podendo haver aí nenhum desvio.

Existe ainda o efeito da influência dos astros como coadjuvantes. Um fato evidente sobre horóscopos já deveria ter chamado a atenção dos muitos pesquisadores desse assunto. Por que será que horóscopos funcionam razoavelmente bem para identificar casos já ocorridos, enquanto que para previsões futuras sua exatidão é totalmente questionável, raramente mostrando algum acerto, mesmo aproximado? A resposta é simples. Os astros fornecem apenas os canais para que as irradiações de retorno escoem, permitindo que retornos se cumpram adequadamente. Se não houver uma má ação nunca poderá haver um mau resgate, porque os astros com irradiações desfavoráveis proporcionam apenas os canais para tanto, sendo ineficazes se não houver nenhum conteúdo a ser escoado. Os astros apenas dosam as épocas de efetivação do retorno cármico, seja bom ou mal. Mesmo em se tratando de almas com carmas pesadíssimos, os canais disponíveis para boas influências ficam vazios. Porém, concedem pelo menos uma trégua temporária, para uma eventual modificação da referida pessoa, ao não permitir o escoamento dos maus retornos.

Neste ponto, os céticos novamente vão argumentar como sendo a injustiça os muitos acontecimentos imerecidos, causando ao próximo danos a esmo, como parece acontecer em geral. Como poderia isso ser explicado? Primeiramente, o ser humano não é indefeso às injustiças de seus semelhantes. Para isso, conta com uma eficiente arma de defesa: seu intelecto, o qual deve sempre estar subordinado à intuição espiritual. Ele tem a obrigação de se defender com o maior cuidado e vigilância, para não cometer erros, e isso depende exclusivamente dele. Cabe a cada um a responsabilidade pelo adequado uso e desenvolvimento da faculdade da intuição, não deixando tudo ao exclusivo domínio do cérebro de raciocínio. Tudo isso deve, se não eliminar as injustiças e ofensas por completo, pelo menos adequá-las a níveis suportáveis.

Nós próprios seremos todos julgados automaticamente, cada um na sua hora exata, com perfeição absoluta. Um julgamento justo, que somente as Leis automáticas da Criação poderiam executar em sua infalível segurança e perfeição. Tomemos, então, a máxima precaução para que quando formos atingidos pelo último dos Juízos, não nos encontremos demasiadamente em falta. O tempo urge. Portanto, busquemos sempre o caminho do bem, com alegria, disposição e confiança.