Parte 2 – A Efetivação

As Mazelas Humanas

Conflitos Bélicos

“Este século nos ensinou que nada dura muito tempo, nem mesmo os regimes mais ‘concretados’. Mas também que tudo é possível na ordem da ferocidade. Ferocidade agora mais do que nunca capaz de desencadear sem freios; sabemos que com as novas tecnologias ela hoje dispõe de meios redobrados, perto dos quais as atrocidades passadas parecem apenas tímidos esboços.”

Viviane Forrester

Desde que o mundo é mundo, sempre existiram guerras.”

Será difícil encontrar alguém hoje que não acredite nesta afirmativa. E, no entanto, ela não é verdadeira.

Quando os seres humanos ainda viviam de modo puro aqui na Terra, sem culpas, sem a restrição materialista imposta pelo seu intelecto, não havia guerras. Nenhum ser humano, nenhum povo daquele tempo longínquo teria tido a idéia de agredir um seu semelhante. Nem sequer seriam capazes de compreender a possibilidade, por exemplo, de anexar terras do seu vizinho contra a sua vontade, por meio da força bruta.

É até difícil tentar estabelecer um paralelo entre o modo de vida dos seres humanos daquela época, sem máculas, com a humanidade de hoje. Os milhões de anos que separam esses dois períodos de existência da humanidade não são um empecilho tão grande à compreensão como o é a total ignorância dos seres humanos hodiernos em relação às Leis da Criação.

Os seres humanos de outrora agradeciam ao seu Criador com a sua própria maneira de viver. Gratidão ininterrupta pela possibilidade a eles outorgada de viverem na Criação maravilhosa. A alegria do seu próximo era a sua própria. Jamais poderiam fazer uma idéia do significado de coisas que não existiam naquela época, como inveja, cobiça, ciúme, avareza, ódio e tantas outras excrescências que seriam criadas por descendentes seus, num futuro distante.

O viver em paz e harmonia com os seus semelhantes era para eles algo tão natural como respirar, comer e dormir. Vivendo integralmente de acordo com as Leis da natureza, eles cumpriam inconscientemente uma determinação básica para todos os seres humanos que chegaram a ter permissão de viver conscientemente na Criação: Jamais causar mal algum ao seu próximo, seja por pensamentos, palavras ou ações.

Assim, não podiam colher outra coisa durante sua vida na Terra, e também no além, que não fosse alegria e felicidade, já que semeavam constantemente alegria e felicidade à sua volta.

Seres humanos felizes e sábios já viveram, sim, nesta Terra, sem se ofenderem ou se maltratarem, muito menos guerrearem entre si. Isso, contudo, foi há muito, muito tempo. Nenhum registro dessa época chegou ao presente e, por isso, supomos que não tenha existido. (1)

Os conflitos e as guerras foram apenas mais uma consequência do afastamento progressivo do ser humano em relação ao modo correto de viver, preconizado através das Leis inflexíveis inseridas na Criação.

O trecho a seguir é de autoria de uma pessoa que atende pelo nome ou pseudônimo de Meishu Sama. Quando tomei conhecimento desta frase não sabia de quem se tratava, mas concordei imediatamente – e integralmente – com o teor das palavras, transcritas do livro O Fim dos Tempos, de Jaman:

“Deus criou o universo em perfeita harmonia, com ordem e lei. Todo tipo de discórdia é obra do homem, e sua causa deve ser buscada na violação das leis da criação da natureza. O homem deverá descobrir e obedecer essas leis que governam a nossa existência, aprender a época de viver em harmonia com elas, e tudo irá bem no mundo.”

Assim como para os primeiros seres humanos seria inconcebível a idéia de causar qualquer dano ao seu semelhante, já que se ajustavam perfeitamente à essas Leis naturais, para nós, hoje, soa como ilusão, fantasia, a idéia de um mundo sem conflitos, por considerarmos a violência como uma característica própria do ser humano, por estarmos todos já há muito tempo afastados de qualquer compreensão dessas mesmas Leis. Julgamos inevitável algo que nunca deveria ter existido na Terra.

Os seres humanos de outrora não conheciam a presunção e a arrogância do raciocínio torcido, e viviam em estreita colaboração com os animais e os entes da natureza… eram felizes e sábios. Nós, seres humanos civilizados da época atual, vangloriamo-nos de nossas conquistas técnicas e supomos dominar forças da natureza… somos infelizes e ignorantes.

O intelecto humano não pode encontrar a verdadeira causa de os seres humanos lutarem entre si e se matarem uns aos outros. Quando muito, poderá emitir alguma justificativa superficial, como: “necessidade de espaço vital”, “recuperação de fronteiras históricas”, “limpeza étnica”, “interesses nacionais” e o que mais de insano e restrito o raciocínio conseguir formar.

A culpa da violência, dos conflitos e das guerras está no afastamento voluntário do ser humano das determinações de vida estipuladas por seu Criador. O próprio intelecto foi desenvolvido excessivamente, em detrimento do espírito, e por isso força o ser humano de hoje a se ocupar predominantemente com coisas materiais, já que ele próprio, o intelecto, provém da matéria.

Impelido a olhar somente para a matéria, já que seu espírito, pela inatividade, tornou-se fraco demais para se impor, o ser humano acabou naturalmente por encontrar valor apenas nas coisas materiais. O “ter” pareceu-lhe cada vez mais importante e necessário que o “ser”.

A ambição por valores exclusivamente materiais, como riquezas, poder e prestígio cresceu até o ponto de suplantar aquela Lei básica, que todos obedeciam inconscientemente até então: Jamais causar dano algum ao seu próximo.

No começo o espírito reagia contra isso, pois a voz exortadora da intuição ainda era suficientemente forte e clara. Pouco a pouco, porém, essa voz foi sendo abafada pelas considerações do intelecto, que se fortalecia cada vez mais. Daí para a frente começou a decadência irrefreável do gênero humano, com todas as suas consequências inevitáveis: miséria, fome, doenças… e guerras.

Quando os historiadores falam dos primeiros povos conhecidos e dos registros de alguns milhares de anos que chegaram até nós, os quais trazem invariavelmente a notícia de lutas entre eles, então isso significa que naquela época, considerada como remota, os seres humanos há muito já se tinham desviado do modo correto de viver. Há muito a voz de seus espíritos, a intuição, não conseguia mais se fazer valer. O início da decadência espiritual do ser humano remonta há mais de um milhão de anos, e não de algumas dezenas de milhares de anos. (2)

Os historiadores supõem que sempre existiram guerras porque no registro documentado da história humana, que remonta a 5.500 anos, houve apenas 292 anos de relativa paz entre os povos. Esse período de tempo de 55 séculos, porém, é apenas uma partícula do tempo total da presença humana na Terra. A passagem a seguir, extraída do livro Uma História da Guerra, de John Keegan, ilustra a percepção reinante a respeito:

“A história escrita do mundo é, em larga medida, uma história de guerras, porque os Estados em que vivemos nasceram de conquistas, guerras civis ou lutas pela independência. Ademais, os grandes estadistas da história escrita foram, em geral, homens de violência, pois ainda que não fossem guerreiros – e muitos o foram – , compreendiam o uso da violência e não hesitavam em colocá-la em prática para seus fins.”

Como já explicado, tudo quanto o ser humano inseriu na Criação, seja através de pensamentos, palavras ou atos, e que até então ainda não havia sido remido por ele, retorna agora ao ponto de partida nesta época do ajuste final de contas. Apesar de poder ser taxado de repetitivo, eu não posso deixar de mencionar este conceito sempre e sempre de novo, já que ele é a chave para a compreensão dos acontecimentos no Juízo Final.

O ser humano que inflige um sofrimento ao seu próximo é, antes de mais nada, um insensato, pois está na realidade fazendo algo contra si mesmo. Todas as pessoas, militares ou civis, que sofrem numa guerra contribuíram, em uma ou mais vidas terrenas anteriores, de uma forma ou de outra, para infligir sofrimento semelhante ao seu próximo.

Os registros históricos mais antigos que se conhecem já falam de guerras e lutas. Não é, pois, de causar espanto que agora, na época da colheita de todas as más ações geradas pela humanidade, o número de guerras e revoluções cresça em escala jamais vista, tanto em quantidade como em intensidade.

Várias denominações surgiram para classificar os diversos tipos de guerras inventadas pelos seres humanos: ampla, localizada, civil, santa, de guerrilha, revolucionária, subversiva, relâmpago, química, bacteriológica, convencional, nuclear, étnica, de extermínio, de conquista, religiosa, mundial…

O relatório Prioridades Mundiais, publicado anualmente por um grupo sediado em Washington, define uma grande guerra como sendo um conflito envolvendo um governo, ou mais de um, que resulta na morte de pelo menos mil pessoas por ano. Por esse critério “técnico”, desde o final da Segunda Guerra Mundial até o ano de 1992 haviam ocorrido 149 guerras, onde morreram mais de 23 milhões de pessoas.

No nosso século, o número de enfrentamentos militares cresceu substancialmente. Se nos atermos apenas a esses conflitos propriamente, sem considerar rebeliões curtas, golpes militares e mesmo genocídios, verificaremos que em todo o século passado ocorreram 107 guerras. Já no século XX, até 1995, sem considerar a Primeira e Segunda Guerras Mundiais, houve, pelo mesmo critério, um total de 241 guerras, das quais 166 eclodiram a partir de 1950. Nada menos que 70 países envolveram-se em guerras de 1994 a 1997.

Além disso, a violência dos conflitos em nossa época não tem paralelo na história. Um artigo do The Washington Post comenta:

“As guerras do século XX foram ‘guerras totais’ contra combatentes e civis sem discriminação. (…) As guerras dos bárbaros dos séculos passados eram brigas de rua em comparação.”

O historiador Eric Hobsbawm complementa:

“Sem dúvida ele foi o século mais assassino de que temos registro, tanto na escala, frequência e extensão da guerra que o preencheu, mal cessando por um momento na década de 20, como também pelo volume único das catástrofes humanas que produziu, desde as maiores fomes da história até o genocídio sistemático.”

A tragédia das guerras no século XX também é resumida nessas palavras de John Keegan:

Neste século, a frequência e a intensidade das guerras também deformaram a perspectiva de homens e mulheres comuns. Na Europa Ocidental, nos Estados Unidos, na Rússia e na China, as exigências da guerra atingiram a maioria das famílias ao longo de duas, três ou quatro gerações. O apelo às armas levou milhões de filhos, maridos, pais e irmãos para o campo de batalha, e milhões não voltaram.”

Como as guerras e seus horrores, pela sua própria natureza, não podem ser avaliadas com precisão, existem ainda outras estimativas a respeito, cujos números, entretanto, não são menos trágicos.

Num discurso proferido em 1992, o secretário-geral da ONU admitiu que desde a criação das Nações Unidas, em 1945, ocorreram mais de mil grandes conflitos ao redor do mundo, que deixaram cerca de 20 milhões de mortos. De acordo com a revista World Watch, o nosso século foi o menos pacífico da História, e cita o seguinte comentário de um pesquisador: “Mais pessoas foram mortas por guerras neste século do que em toda a história humana anterior em conjunto.”

De acordo com uma matéria publicada pelo jornal The Washington Post, desde o fim da Segunda Guerra Mundial o mundo conheceu 160 guerras, onde morreram cerca de 7 milhões de soldados e 30 milhões de civis. Esses números não incluem, naturalmente, os milhões de vítimas de crimes violentos em toda a Terra nos últimos 50 anos… O ex-secretário de Estado norte-americano, Zbigniew Brzezinski, fez uma estimativa abrangendo todas as “megamortes” ocorridas desde 1914 e chegou a um total de 187 milhões de mortos.

Em 1992 havia 29 guerras em curso na Terra; em 1994 o número de guerras em andamento era de 34; o balanço de 1997 mostrava 60 zonas de conflito. Dos 192 países com assento na Organização das Nações Unidas em 1994, pelo menos 108 deles tinham registro de um ou mais golpes militares ou tentativas de golpes ao longo de sua história, que redundaram quase que invariavelmente em guerras civis. Em 1995 houve golpes militares em Comores e São Tomé e Príncipe; em 1996 foi a vez de Serra Leoa e Níger; em 1997 mais um golpe em Serra Leoa, um no Camboja e outro no ex-Zaire, batizado de República “Democrática” do Congo.

A despeito das reiteradas intenções de todos os países do globo em manter a paz mundial, o nosso século foi palco (até agora) de duas grandes guerras. Na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), morreram cerca de 9 milhões de pessoas. Em 1919 foi fundada a Liga das Nações, cujos princípios básicos eram “a proibição da guerra, a manutenção da justiça e o respeito ao direito internacional.” Os líderes europeu estavam convictos de que uma nova e duradoura ordem internacional estava começando; para o primeiro-ministro britânico, David Lloyd George, ela “elevaria a humanidade a um plano superior de existência…” Apenas vinte anos depois, eclodia a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que matou entre 40 e 52 milhões de pessoas.

Terminada a Segunda Guerra, a história se repetiu: foi fundada a Organização das Nações Unidas e as esperanças de paz se renovaram. Esperanças que deram lugar a uma série infindável de guerras localizadas, tão numerosas que acabaram fazendo parte do nosso dia-a-dia. Há quem considere essas inúmeras guerras como já sendo a Terceira Guerra Mundial. Eric Hobsbawm resume assim a situação após a Segunda Guerra:

“A catástrofe humana desencadeada pela Segunda Guerra Mundial é quase certamente a maior na história humana. O aspecto não menos importante dessa catástrofe é que a humanidade aprendeu a viver num mundo em que a matança, a tortura e o exílio em massa se tornaram experiências do dia-a-dia que não mais notamos.”

O desmantelamento da União Soviética e o fim do comunismo no final da década de 80 trouxeram novamente a ilusão de um período de paz. Novos conflitos, porém, trataram de pulverizar a mais tênue esperança nesse sentido.

O jornalista Rodolfo Konder acha inclusive que já passamos pela Terceira Guerra Mundial, e que agora estamos vendo o desenrolar da Quarta:

“O colapso do socialismo, o estilhaçamento do Império Vermelho e o fim da Terceira Guerra, no ocaso dos anos 80, alvorada dos anos 90, despertaram as mesmas esperanças de paz que havíamos cultivado em seguida à derrocada da Wermacht, em 1945. Uma vez mais, eram esperanças vãs. Hoje, entramos na Quarta Guerra, com o ressurgimento do tribalismo e a explosão do terrorismo globalizado. (…) Ódios ancestrais deságuam em atos de pura selvageria entre vizinhos. Etnias se esfaqueiam. Religiões se dilaceram. Primos arrancam as orelhas de primos. Irmãos empalam irmãos.”

É também de Rodolfo Konder o sumário transcrito a seguir, sobre os conflitos mundiais em andamento:

“Os russos atacam os chechenos. Muçulmanos da Caxemira indiana lutam pela separação. Tropas do governo indonésio matam separatistas, no Timor Oriental. (3) A China ameaça os tibetanos [e também os taiwaneses]. (4) O grupo étnico dos nepaleses se revolta contra o poder central, no Butão. Há conflitos na Moldávia, na Geórgia, no Azerbaijão, na Argélia, no Sudão, na Somália, no Burundi. Até em Papua e Nova-Guiné. Iorubas e Hausas se hostilizam, na Nigéria. As tribos Kabiye e Ewe se trucidam, no Togo. Os Baganda e os Banyarwanda investem contra os Acholi e os Langi, no norte de Uganda. Há repressão no Iraque, República Democrática do Congo, Quênia, Birmânia, (5) Bangladesh, Sri Lanka. (6)

O resumo acima espelha de modo claro o grau de violência em que estamos vivendo, apesar de não terem sido mencionadas todas as regiões onde há guerra atualmente. Além dos citados, registra-se atualmente (1997) conflitos nos seguintes países: Afeganistão, Albânia, Angola, (7) Armênia, Bornéu, Burundi, Camarões, Camboja, Congo, Croácia, Djibuti, Guatemala, (8) Iêmen, Libéria, (9) Marrocos, Mindanao, Moçambique, Níger, Nigéria, Paquistão, República Centro-Africana, Ruanda, Senegal, Serra Leoa, Sudão, Tadjiquistão e Usbequistão.

Em dezembro de 1995 foi assinado um tratado pondo um fim definitivo na guerra da ex-Iugoslávia, que depois de quatro anos deixou um saldo de 250 mil mortos, centenas de milhares de feridos e milhões de refugiados. Foi o mais sangrento conflito europeu desde a Segunda Guerra Mundial.

A história do Século do Juízo está sendo escrita com destruição e sangue, a linguagem dos seres humanos, numa proporção jamais vista anteriormente.

E todos esses eventos referem-se aos grandes conflitos. É quase impossível mensurar a quantidade dos chamados pequenos conflitos e o número de mortes decorrentes, menos ainda as tragédias e os sofrimentos por eles acarretados. E não obstante eles ocorrem ininterruptamente. Em Israel, um “pequeno conflito” de três dias entre o exército e a polícia palestina em setembro de 1996 deixou um saldo de 50 mortos e quase 800 feridos. Numa incursão (ou excursão) de 4 dias ao norte do Iraque, em maio de 1997, o exército turco matou 902 curdos. Somente em um dos inúmeros massacres registrados em Ruanda contabilizou-se um saldo de mil mortos em dezembro de 1997. Segundo a ONU, cerca de 800 mil pessoas foram massacradas no ex-Zaire, logo após a tomada do poder pelas forças rebeldes.

O Brasil, um país sabidamente pacífico e reconhecido como tal, registrou 99 conflitos armados de 1800 a 1975, dos quais 25 são considerados como revoluções. Imagine-se, então, o que não deve ter ocorrido no mundo belicista durante esse tempo…

Inúmeras regiões do globo são atualmente controladas por guerrilhas, e ninguém sabe dizer exatamente o que acontece lá. O escritor Jean-Christophe Rufin diz que as terras acessíveis no mundo estão encolhendo:

“Na África e na Ásia, os anciãos adoram contar como ‘antes’ se podia ir a tal lugar, hoje inacessível. (…) Dos Andes ao Saara, da África austral ao subcontinente indiano, da península arábica às regiões peri-himalaias, vários indicadores o confirmam: grande parte das terras exploradas voltaram a seu estágio precedente. São inacessíveis, não controladas por poderes regulares, e hostis a qualquer penetração estrangeira. (…) Há muito que essas regiões deixaram o noticiário, permanecendo, porém, em um estado prolongado de caos e fechamento.”

As notícias que vemos diariamente nos jornais e na televisão não traduzem, de maneira alguma, a intensidade dos conflitos armados no mundo. Muitas guerras sangrentas sequer são mencionadas; às vezes surge uma pequena nota sobre algumas centenas de mortes num país quase desconhecido da África e da Ásia e é só. Se a mídia noticiasse realmente, com imparcialidade, todas as guerras em andamento no mundo, não haveria espaço para outras notícias. É compreensível portanto que não o façam. Mas, com isso, as pessoas têm a ilusão de que o mundo tem menos conflitos, o que pode mascarar a visão real dos acontecimentos de nossa época, fazendo-as acreditar que o mundo vive algumas guerras sim, mas que o número e a intensidade delas está dentro do “normal”. Não está.

A própria repetição de cenas terríveis de mortos, feridos e famintos no meio de cidades destruídas entorpece as pessoas e, com o tempo, cai o interesse sobre o assunto e consequentemente também os índices de audiência dos noticiários televisivos. As cenas de Biafra na década de 60, dilacerada pela guerra e pela fome, causou comoção mundial. Vinte anos depois, as mesmas cenas na Libéria quase não foram noticiadas.

Ao contrário do que se imagina, muitos civis continuam morrendo vítimas da guerra mesmo depois que o conflito é encerrado oficialmente. Isso se dá não só pela ação de franco-atiradores, que continuam a sua guerra particular, mas principalmente pela explosão de minas, as quais atingem particularmente as crianças.

O custo de produção de uma mina é de cerca de três dólares, mas para se desarmá-la são necessários mil dólares. Por essa razão existem no mundo hoje aproximadamente 110 milhões de minas, enterradas em 64 países, que continuam aniquilando ou mutilando o “inimigo”, numa macabra média mensal de duas mil vítimas por mês. Pelo menos dois milhões de novas minas são instaladas a cada ano. Em Angola, estatisticamente, cada habitante tem uma mina pronta para ele, à espera de um passo errado. No Camboja, um de cada 236 habitantes do país já perdeu ao menos uma perna devido à explosão de uma mina. Há cem fábricas de minas instaladas em 48 países, que exportam anualmente alguns milhões de unidades, dentre elas os 340 modelos existentes da categoria mais assassina, a chamada “mina antipessoal”. Há cada vinte minutos em média uma pessoa é atingida por uma mina antipessoal em alguma parte do mundo.

A Convenção sobre Armas Desumanas, realizada em maio de 1996 em Genebra, Suíça, estipulou que só poderiam ser fabricadas minas “inteligentes”, isto é, que possuíssem um mecanismo de autodestruição 30 dias após sua instalação ou, se este falhar, sua desativação automática em 120 dias. Os delegados dos 55 países que tomaram parte da Convenção tentaram desta forma “humanizar” o uso da mina antipessoal. Essa “humanização”, porém, só entrará em vigor em 2005, em razão da pressão exercida por alguns países, principalmente China e Rússia.

Em setembro de 1997, 98 países aprovaram um tratado para banir as minas antipessoal, proibindo sua produção, utilização, armazenamento e exportação. Coincidentemente, ficaram de fora do tratado os maiores fabricantes de minas do planeta: os Estados Unidos (que exigiam um prazo de nove anos para começar a remover suas minas), China, Rússia e Índia. Também não aderiram Iraque, Israel e Paquistão, usuários contumazes do dispositivo.

O escritor Hanz Magnus Enzensberger já percebeu que o ser humano não se rege pelas Leis naturais: “Os animais lutam, mas não fazem guerra. O homem é o único primata que planeja o extermínio dentro de sua própria espécie e o executa entusiasticamente e em grandes dimensões.” Hanz Enzensberger escreveu um livro intitulado Guerra Civil, onde demonstra a sua perplexidade ante o aumento da violência no mundo. Segundo ele, combate-se hoje apenas pelo ódio, sem uma causa definida, e já há muito que a guerra civil penetrou nas grandes metrópoles. São de seu livro os extratos a seguir:

“Dela [a guerra civil] não participam apenas terroristas e agentes secretos, mafiosos e ‘skinheads’, traficantes de drogas e esquadrões da morte, neonazistas e seguranças, mas também cidadãos discretos que à noite se transformam em ‘hooligans’, incendiários, dementes violentos e ‘serial killers’. Nas guerras civis do presente esvaiu-se a legitimidade. A violência libertou-se completamente de fundamentações ideológicas. (…)

Para os guerrilheiros de Angola, Somália ou Camboja nada poderia ser mais indiferente do que a sorte de seus pretensos irmãos de tribo. (…)

As diversas seitas, facções e milícias fundamentalistas ambicionam sobretudo o poder de exercer a opressão sobre seus companheiros de credo. (…)

O assassino juvenil que sai à caça de indefesos, quando se indagam seus motivos, fornece as seguinte declarações: ‘Não pensei em nada’, ‘Estava entediado’, ‘Não sei por quê, mas os estrangeiros me davam uma sensação desagradável’. (…)

Diferentemente dos anos 30, os criminosos de hoje não necessitam de rituais, manifestações públicas, uniformes, programas ou juramento de fidelidade. O ódio é suficiente. (…)

Basta que alguém torça para um outro time de futebol, que sua quitanda prospere mais que a do vizinho, que se vista melhor, que fale uma outra língua, que precise de uma cadeira de rodas ou que use um lenço na cabeça. A mínima diferença passa a significar um risco de vida.”

Por que o mundo se torna mais violento a cada ano? Não apenas se verifica um aumento do número de conflitos armados no globo, como as próprias pessoas estão mais violentas. Uma simples desavença de trânsito pode terminar em morte. Se você estiver distraído e olhar mais demoradamente para alguém, imediatamente o outro virá tomar satisfações.

Depois de uma discussão, briga ou assassinato, muitas vezes as pessoas envolvidas não sabem explicar porque agiram daquela forma. Segundo Hanz Enzensberger, “inúmeros criminosos têm a sensação de não serem eles próprios os participantes de suas ações. Parece-lhes que não são eles que surram outras pessoas até a morte, como se tudo não passasse de uma ‘cena de televisão’.”

Gilberto Kujawski, em seu livro A Crise do Século XX, diz: “Basta que se rompa a leve película de civilização que nos envolve, para que suba à tona toda a terrível capacidade destrutiva e predatória que distingue os humanos e que se manifesta diariamente na criminalidade, no desprezo generalizado pela vida e pela pessoa do outro, no terrorismo, no sadismo da vida diária.”

Pessoas calmas, sociáveis e aparentemente normais transformam-se, de uma hora para a outra, em criminosos frios e implacáveis. Qual a explicação para isso?

Os pensamentos e os sentimentos intuitivos do ser humano não são coisas inexistentes, não são um “nada”, apenas porque não se pode vê-los. Eles adquirem forma num mundo de matéria mais fina, que circunda estreitamente a Terra de matéria grosseira. (10) Por ser de matéria fina não conseguimos percebê-los com os nossos olhos, que são constituídos de matéria grosseira.

Nesse mundo de matéria mais fina os pensamentos e sentimentos intuitivos adquirem formas, segundo o que foi pensado ou intuído. É fácil compreender que formas originadas de cobiça, inveja ou ódio não podem ser bonitas, tampouco ter uma atuação benfazeja entre os seres humanos. As formas de sentimentos intuitivos originadas do ódio são chamadas de fúrias, e visam unicamente a destruição.

As formas de pensamentos e sentimentos intuitivos são atraídas para junto daquelas pessoas que trazem alguma característica de igual espécie; no caso das fúrias é o ódio, em maior ou menor grau. Agarram-se a essas pessoas e influenciam-nas continuamente com o ódio de que são constituídas. Daí para uma ação violenta, visível na matéria grosseira, é um passo muito curto.

Essa é a razão do crescimento desmesurado da violência em nossa época, um efeito automático do Juízo Final, que libera as fúrias sobre a humanidade, restituindo aos seus fomentadores aquilo que formaram com tanto empenho durante milênios.

Só estará livre dessas influências más na época do Juízo aquele ser humano que tiver algo contrário dentro de si em relação à espécie dessas configurações: amor no lugar de ódio, nobreza em lugar de sordidez, altruísmo em lugar de egoísmo, coragem em lugar de medo, e assim por diante.

É também bastante comum, num conflito armado, ouvirmos notícias dando conta que um dos lados ou ambos atacaram a população civil, matando inocentes.

Não há inocentes envolvidos numa guerra. Todos, civis e militares que sofrem num conflito armado angariaram para si o carma de passar por essa experiência terrível, através do seu modo de ser nesta ou em outras vidas. Aliás, o número de civis mortos em guerras aumentou extraordinariamente nos últimos tempos, consequência também do aceleramento do retorno cármico sobre a humanidade. O gráfico a seguir mostra o percentual de mortes de civis em guerras ao longo do tempo: (11)

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Para conseguir resultados assim tão expressivos, os governos têm gastado uma média de 800 bilhões de dólares por ano em armamentos. Só para efeito de comparação, a indústria mundial de semicondutores movimentou 150 bilhões de dólares em 1995, e a de medicamentos 200 bilhões de dólares. Em 1996, de acordo com o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, foram gastos 811 bilhões de dólares em armas, ou seja, mais de 1,5 milhão de dólares por minuto…

Muitos dos que sobrevivem a uma guerra passam a fazer parte do imenso contingente de refugiados que perambula hoje pelo mundo. Quando o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) foi fundado, havia no mundo, mais precisamente na Europa, cerca de 1,2 milhão de refugiados; em 1992 o contingente de expatriados era de 17,5 milhões; em fins de 1995 eram cerca de 27 milhões, e em 1997 havia aproximadamente 50 milhões de pessoas sem pátria ou sem assistência em todos os continentes da Terra. Só a guerra na ex-Iugoslávia gerou no total mais de 4,5 milhões de refugiados de 1991 até 1995, o que corresponde a um quinto de toda a população da Federação Iugoslava antes do conflito. O ACNUR é hoje um dos órgãos mais requisitados da ONU, contando com cinco mil funcionários e 193 escritórios espalhados em 114 países.

Para uns, a vivência de um sofrimento tão profundo, como é o envolvimento direto numa guerra, possibilita um maior amadurecimento interior, ao mesmo tempo que traz o resgate da culpa de outrora, caso tal sofrimento seja reconhecido como um justo efeito retroativo e não dê origem a uma revolta pela situação vivida.

Para os já condenados no Juízo porém, a guerra, além de ser também um efeito retroativo, é mais um instrumento para limpar a Terra de sua presença, um aglomerado de almas desfiguradas, pestíferas, que um dia puderam ser chamadas de seres humanos.

Certamente ninguém poderá qualificar como atitude de seres humanos quando soldados da Libéria cozinham e comem o coração do inimigo morto, ou quando invocam propriedades medicinais para comer outras partes de um cadáver, como os órgão genitais, os pés e as mãos, ou ainda quando arrancam com a faca a pele do peito de uma criança.

Casos isolados de atrocidades? Quando equipes da ONU visitaram um campo de refugiados da etnia hutu, em Ruanda, massacrados por soldados da etnia tutsi, viram mulheres pisoteadas, crianças arrebentadas por granadas e homens com rostos arrancados. No Burundi, uma menina hutu de um ano teve os genitais mutilados por milicianos tutsis, maneira de avisar que dali jamais sairiam membros da tribo rival… No Paquistão, uma das facções muçulmanas em luta incendiou casas com os ocupantes dentro. Na chamada “limpeza étnica” que desencadearam na Bósnia, os sérvios estupraram meninas e degolaram meninos; relatos de refugiados bósnios falam de soldados enlouquecidos, correndo pelas ruas com facas, caçando mulheres. Num campo de concentração sérvio, crianças bósnias de 6 anos foram violadas repetidamente enquanto seus parentes e irmãos eram forçados a assistir. Num outro caso, três moças muçulmanas foram acorrentadas a um muro, violadas pelos soldados sérvios por três dias e posteriormente ensopadas com gasolina e queimadas.

Investigações realizadas pela ONU recolheram evidências que detalham como mais de cem homens, mulheres e crianças muçulmanas foram lentamente mortos com facas por milicianos sérvios, e como um avô foi forçado a comer o fígado do neto. Houve casos de prisioneiros obrigados a beber óleo de motor, e o de um detento forçado a arrancar com uma dentada os testículos de outro. Em Broko, cidade capturada pelos sérvios, os mortos eram retirados das valas e levados a um frigorífico, onde eram transformados em comida para os animais… Uma timorense diz ter visto um soldado indonésio matar a mãe de um recém-nascido e depois pôr a criança que chorava para mamar o sangue que escorria do seio dela… Relatos da guerra civil na Argélia contam que guerrilheiros fundamentalistas degolaram um recém nascido de 12 dias no colo da mãe, utilizaram um forno de fogão para assar um bebê de 4 meses e rasgaram à faca o peito de outro bebê de 6 meses.

É impossível encontrar nos escaninhos da História um período mais sombrio, mais marcado pelo terror do que o século XX. A impressão que se tem é de que passamos por alguns momentos de horror, antes, para chegar finalmente ao reinado do terror, nestas décadas que assinalam o ocaso do segundo milênio.” Essas palavras são do jornalista e escritor Rodolfo Konder. Alguém ainda discorda delas?

Em novembro de 1995 foi lançado em Paris uma obra intitulada “Le Livre Noir” (O Livro Negro), que contava em detalhes as atrocidades praticadas pelos nazistas durante o extermínio de cerca de 800 mil judeus na ex-União Soviética. O jornalista francês, Gilles Lapouge, depois de transcrever num seu artigo algumas passagens mais escabrosas, desabafou: “Essa é a crônica interminável, incansável, do horror. Impossível ler por muito tempo essa litania que dá ânsia de vômito. E, no entanto, é preciso lê-la. Conhecê-la. Para saber até que ponto o homem é capaz de descer, em que pocilga ele pode chafurdar.”

Faço minhas essas últimas palavras de Gilles Lapouge, apenas adicionando um esclarecimento. Criaturas capazes de tamanha selvageria (as quais, repito, não são mais efetivamente seres humanos) são os instrumentos – não por isso menos culpados – que trazem o desencadeamento na matéria, nessa forma horrível, do carma das pessoas atingidas. É o retorno de crimes de mesma envergadura cometidos por essas pessoas em outras vidas ou mesmo nesta.

Em alguns casos é possível identificar parte deste processo de ação e retorno num intervalo curto de tempo. A etnia hutu, que hoje sofre barbaridades inqualificáveis nas mãos da etnia tutsi, matou quase um milhão de tutsis em 1994, num dos maiores genocídios de que já se teve notícia. Na Bósnia, os sérvios obrigaram a população muçulmana a fugir a pé de suas cidades conquistadas. No final da guerra deu-se o inverso: o exército da Croácia tomou duas cidades dos sérvios e o que se viu foram extensas filas de civis sérvios fugindo dos combates.

A cobra morde o próprio rabo. O próprio mal se aniquila por toda a parte. A sujeira e a imundície estão sendo forçadas a vir à tona para serem varridas da Terra. As guerras são apenas uma parte desse processo, apesar de hoje ocorrerem em tal número e intensidade que mal se consegue ter uma visão aproximada da real situação no mundo.

Uma amostragem aleatória de apenas dois meses (entre março e maio de 1995), abrangendo apenas as notícias sobre guerras veiculadas em jornais, apresentou o seguinte panorama dos conflitos mundiais:

Esses números chocam, ou pelo menos deveriam chocar, se não estivéssemos tão acostumados com notícias diárias sobre guerras e revoluções. No entanto, se considerarmos o número estimado de mortos nos conflitos ocorridos desde a Segunda Grande Guerra até o presente, chegaremos à conclusão que o número aproximado de vítimas de guerras é pelo menos dez vezes maior do que o noticiado.

Numa reportagem publicada no jornal O Estado de S. Paulo em março de 1995, sob o título “Países africanos sangram no esquecimento”, pode-se ler o seguinte: “Para que os jornais falem da África, é preciso que milhões de infelizes morram de fome ou em conflitos étnicos como na Etiópia, na Somália, em Ruanda e, agora, no Burundi. Entretanto, não há apenas esses. Há dezenas de Estados (se assim merecem ser chamados) dos quais jamais se houve falar e que continuam sua existência como fantasmas sangrando.” A matéria prossegue mostrando a situação caótica de guerras em Serra Leoa, Libéria, Sudão, Moçambique, Angola e Camarões.

As tentativas humanas de interromper os conflitos no mundo resultam quase sempre infrutíferas. O desembarque de tropas americanas na Somália, por exemplo, com apoio da ONU, para garantir “ajuda humanitária à população” e tentar por fim à guerra civil foi um fracasso completo. Os soldados americanos saíram da Somália e a guerra civil continuou, mais devastadora do que nunca. Dezenas de acordos de cessar-fogo são assinados e sistematicamente desrespeitados nos quatro cantos do mundo pelos países beligerantes. A cada ano são gastos cerca de três bilhões de dólares nas várias operações de manutenção da paz patrocinadas pela ONU, com resultados pífios.

Nenhuma resolução da ONU pode impedir o desencadeamento de um efeito retroativo sobre uma comunidade ou nação. Os soldados das forças de paz da ONU, os chamados “boinas azuis”, estão estacionados hoje em mais de quinze países, e nem por isso os conflitos nessas regiões arrefeceram. Na guerra civil da ex-Iugoslávia eles foram usados até como escudos humanos contra bombardeios da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), um dos fatores que levou a Corte Internacional de Justiça de Haia a condenar os dirigentes sérvios por crimes contra a humanidade.

A Corte de Haia, aliás, não consegue obter nenhum efeito prático de suas condenações, que têm um caráter meramente simbólico. O mesmo vale para as determinações da Convenção de Genebra, que dispõem sobre o tratamento a ser dado aos prisioneiros de guerra. Essas determinações são sistematicamente ignoradas durante os conflitos. Na prática, não é possível humanizar uma guerra, ou torná-la menos cruel.

A Convenção de Genebra e a Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança proíbem, por exemplo, que crianças participem de conflitos. As estimativas do número de crianças atualmente lutando em guerras em todo o mundo variam de 50 mil a 250 mil… De acordo com dados da Unicef, entre 1980 e 1988 morreram 330 mil crianças no conflito de Angola e cerca de 490 mil em Moçambique. Estima-se que em todo o mundo, nos últimos dez anos, mais de 2 milhões de crianças morreram em conflitos e outras 4 milhões sofreram mutilações. A Convenção dos Direitos da Criança, órgão da ONU, estima em 200 mil o contingente do exército de crianças, espalhado por 32 países.

Os sofrimentos, os horrores e os rios de sangue que correm de todos esses conflitos são devidos às assim chamadas guerras convencionais. Porém, sempre há o perigo de eclosão das “não convencionais”, com a utilização de armas químicas e biológicas.

As armas químicas fizeram sua estréia na Primeira Guerra Mundial, eliminando cerca de 40 mil soldados. Durante a Segunda Guerra Mundial elas foram produzidas pelos alemães que, contudo, não chegaram a utilizá-las. Não há, compreensivelmente, informações sobre sua produção naquela época pelos países aliados.

Essas armas são tão pavorosas, pela forma cruel com que liquidam os atingidos, e de controle tão precário, já que sua atuação depende do movimento dos ventos, que foram proibidas por tratados internacionais. (12)

Isso não impediu que em 1988 o governo do Iraque utilizasse um tipo de gás de nervos, o tabun, sobre sua população civil, matando mais de cinco mil pessoas. Em 1985, o chefe da comissão da ONU que supervisionava o desarmamento do Iraque, Rolf Ekeus, anunciou: “Bagdá fabricou toneladas de substâncias nocivas que puseram o mundo à beira de uma imensa catástrofe.” A ex-União Soviética, por sua vez, continuou fabricando armas químicas até 1987, depois de ter assinado em 1972 o Tratado de Não Proliferação de Armas Químicas. Em julho de 1995 a Rússia, herdeira da União Soviética, anunciou que iria destruir 40 mil toneladas de armas químicas. Uma notícia que seria até auspiciosa, se o custo estimado para essa destruição não fosse de 8 bilhões de dólares e o montante do arsenal russo não estivesse estimado entre 300 e 700 mil toneladas deste tipo de arma. Em abril de 1997, a China finalmente ratificou o Tratado de Proibição de Armas Químicas, mas em maio do mesmo ano os Estados Unidos impuseram sanções a duas empresas chinesas que estavam vendendo armamento químico ao Irã… Também em abril, Israel (que se suspeita estar desenvolvendo um programa de armas químicas numa instalação próxima de Tel-Aviv) acusou a Síria de estar desenvolvendo o mortífero gás VX. As suspeitas envolvendo China e Israel já tinham precedentes, como se verá mais à frente.

As armas químicas são classificadas em vários tipos, dependendo do efeito que produzem no organismo. As mais simples provocam vômitos, queimaduras e cegueira temporária; depois vem as que queimam o revestimento dos pulmões, afetam os rins e o sangue e provocam morte por asfixia; as mais letais são os chamados gases de nervos, como o tabun e o sarin, que atacam o sistema nervoso e podem matar em 15 minutos. A inalação de uma dose ínfima de sarin, de 0,6 miligrama, é suficiente para matar uma pessoa.

A substância denominada “agente laranja”, lançada pelos americanos no Vietnã na década de 60, também foi uma arma química, aliás uma arma muito eficaz, efetivamente criminosa. Criminosa contra a natureza. O composto químico possuía um hormônio sintético que induzia a um crescimento cancerígeno vertiginoso nas plantas, as quais ficavam tão grandes que explodiam ou se tornavam inertes. Relatos da época falam em bananas de cinquenta centímetros, ervas daninhas gigantescas e centenas de hectares de florestas mutiladas. Em seu livro Crimes Corporativos, Russel Mokhiber descreve o que se via depois da aplicação do agente laranja: “Após a pulverização, as florestas ficavam silenciosas. Não havia mais o ruído dos insetos, dos pássaros ou de outros animais. Os peixes mortos boiavam nos rios. Os soldados apelidaram as florestas pulverizadas de ‘terra dos mortos’.”

Será que existe a possibilidade de essas cenas se repetirem em futuro próximo? No que depender dos dirigentes de algumas nações, é quase uma certeza. Em fevereiro de 1996, o jornal The New York Times informava que a Líbia estava prestes a concluir uma fábrica de armas químicas com capacidade de produzir várias toneladas de gases mortais por dia. Em março, uma alta fonte dos Estados Unidos informou que empresas da China estavam fornecendo ao Irã várias fábricas (praticamente completas) para produção de gases letais. Em agosto, a revista inglesa Jane’s Sentinel, especializada em assuntos militares, afirmou que Israel estava produzindo armas químicas num laboratório secreto, no deserto de Neguev.

Ainda mais terríveis que as armas químicas são as chamadas armas biológicas, feitas com vírus ou bactérias. Essas armas ainda não estão sujeitas a nenhum controle internacional efetivo, o que na verdade não faz a menor diferença. (13)

Uma das armas biológicas mais mortíferas já produzidas é a elaborada com o bacilo antraz. Ao entrar no pulmão o antraz gera bactérias que se multiplicam no organismo, ocasionando febre, convulsões e hemorragias; a morte sobrevém em dois dias. A vítima morre afogada internamente nos líquidos que o organismo produz na inútil tentativa de se defender. Uma matéria que apareceu no jornal Washington Post sobre o assunto, em novembro de 1997, informava que a inalação de um nono de um milionésimo de grama de antraz é suficiente para matar uma pessoa com uma segurança de 100%. A violência do ataque do bacilo do antraz no organismo humano é comparável à ocasionada pelo vírus Ebola.

O Escritório de Avaliação Tecnológica sobre Armas de Destruição em Massa, sediado nos Estados Unidos, estima que uma única ogiva de esporos de antraz que caísse sobre Washington provocaria a morte de 30 a 100 mil pessoas. Além disso a arma tem efeito residual, como se fosse um gigantesco inseticida humano. Uma matéria publicada pelo jornal Folha de S. Paulo em maio de 1995, dizia: “os esporos de antraz sobrevivem no solo quando enterrados em locais não atingidos pela luz solar; a ilha Gruinard, onde a Inglaterra detonou uma bomba experimental de antraz durante a Segunda Guerra Mundial, ainda é inabitável.” Em novembro de 1997, o jornal Sunday Times informou que os militares iraquianos haviam transformado aviões agrícolas em “zangões” comandados por controle remoto, adaptados para carregar até uma tonelada de antraz…

A produção do antraz em laboratório é muito barata e de fácil execução, daí o descrédito mútuo entre os países que se propuseram a não mais fabricar armas biológicas com esse bacilo. Em 1979, por exemplo, houve um misterioso surto de antraz nas vizinhanças de um local de pesquisas militares na ex-União Soviética, fato que na época não surpreendeu absolutamente os Estados Unidos. O chefe da Seção de Epidemiologia do Departamento de Saúde do Estado de Minnesota, Michael Osterholn, acredita que pelo menos 16 países e um sem-número de grupos terroristas estejam aptos a produzir armas biológicas.

Um fato curioso ocorrido na Rússia foi o anúncio da descoberta de um antídoto contra o vírus Ebola, em dezembro de 1995. O porta-voz da notícia foi o Dr. Viktor Mikhailov, que não é conhecido como pesquisador médico, e sim como físico e ministro da Indústria e Energia Nuclear. O antídoto descoberto, a “imunoglobulina G”, estava aparentemente sendo pesquisado num laboratório secreto de desenvolvimento de armas biológicas… Em fevereiro de 1998, um desertor do programa de armas biológicas da ex-União Soviética afirmou numa entrevista que os planos de Moscou para a Terceira Guerra Mundial incluíam o preparo de centenas de toneladas de bactérias antraz e muitas toneladas de vírus que causam varíola e peste.

Talvez a ameaça mais inusitada (e assustadora) seja realmente a utilização do agente da varíola como arma de guerra, uma doença atualmente erradicada. A varíola mata 30% de suas vítimas de uma forma muito dolorosa: pústulas cobrem todo o corpo e se enrijecem, o sangue escorre da boca, nariz e outros orifícios. Michael Osterholn diz que relatórios dos serviços secretos americanos sugerem que vários governos detêm o vírus da varíola, possivelmente até o Iraque.

Um tipo de arma biológica também bastante “eficiente” é a produzida com a bactéria Clostridium botulinum, que causa o botulismo. Estima-se que oitenta gramas da toxina secretada por essa bactéria sejam suficientes para eliminar a vida humana numa área de 2,5 km².

A citada reportagem do jornal Folha de S. Paulo sobre armas biológicas apresentou uma comparação da letalidade das armas químicas e biológicas:

“Para matar metade da população de um ambiente são necessários:

O gás sarin é tão mortal quanto um ataque militar de 100 projéteis de artilharia por quilômetro quadrado. A toxina do botulismo é 10 mil vezes mais letal que o sarin, e os esporos do antraz são 10 vezes mais mortais que a toxina do botulismo.”

Ainda no campo das armas biológicas, há notícias de que os Estados Unidos e a ex-União Soviética desenvolveram experiências com armas feitas de alguns tipos de vírus de fácil transmissão, muito mais difíceis de controlar. Por aí se pode ter uma idéia de quão terríveis são as armas químicas e biológicas, e todas elas de fabricação relativamente simples.

Quando a polícia japonesa invadiu as instalações da seita “Verdade Suprema”, encontrou toneladas de produtos para a fabricação de armas químicas e biológicas. Enquanto algumas estimativas davam conta de que o material apreendido seria suficiente para matar mais de quatro milhões de pessoas, alguns especialistas afirmaram que a quantidade de substâncias tóxicas em poder da seita seria suficiente para aniquilar a população do planeta.

Hoje, ninguém sabe ao certo quantos países ainda fabricam ou mantêm arsenais de armas químicas e biológicas. Em fevereiro de 1998, o The Wall Street Journal informou que pelo menos 25 países já tinham ou estavam desenvolvendo armas químicas ou biológicas. Somente após uma intensa pressão internacional, o Iraque admitiu ter produzido armas biológicas (utilizando as toxinas do botulismo e do antraz) com objetivos ofensivos nos anos de 1989 e 1990. Segundo fontes da ONU, o Iraque produziu o dobro ou o triplo da quantidade admitida da toxina do botulismo. E mesmo essa quantidade já seria suficiente para dizimar várias vezes a população da Terra. Em 1997, os inspetores da ONU descobriram que além do antraz e das toxinas do botulismo, o país também produziu com fins bélicos a aflatoxina (um potente cancerígeno), o bacilo do cólera e as bactérias estafilococos, shigela e salmonela.

E armas nucleares? Será que com o fim da guerra fria entre Estados Unidos e União Soviética, acabou também o perigo de uma hecatombe nuclear? Uma rápida análise sobre o poderio nuclear mundial e as notícias que vazaram ultimamente sobre o desenvolvimento de armas atômicas mostra que essa esperança também não tem razão de ser. Além disso, o ser humano nunca inventou uma arma que não tivesse utilizado…

Os especialistas William Arkin e Robert Norris, responsáveis pela publicação Nuclear Notebook, afirmam que as armas nucleares desmanteladas até agora por Estados Unidos e Rússia, por força dos tratados de redução de armas, eram equipamentos obsoletos, e que os dois países continuam com seus programas de desenvolvimento e renovação dos respectivos arsenais nucleares.

Em 1970, quando entrou em vigor o Tratado de Não Proliferação Nuclear, Estados Unidos e União Soviética tinham juntos 7.455 ogivas nucleares. Em 1995, depois de mais dois tratados de limitação de armas nucleares, de outros dois de redução dessas armas, e da desativação de cerca de 7.000 ogivas, Estados Unidos e Rússia tinham juntos 16.900 ogivas nucleares, capazes, segundo estimativas, de acabar com a vida na Terra por 14 vezes. (14) Em 1997, de acordo com o The Bulletin of the Atomic Scientists, os dois países tinham estocados em seus territórios 21.550 ogivas. Nessa corrida atômica, só os Estados Unidos já despenderam cerca de 4 trilhões de dólares, e continuam gastando outros 33 bilhões de dólares por ano para manter suas armas nucleares estratégicas prontas para serem usadas a qualquer momento. O especialista Brian Hall informou que o Pentágono vai reservar entre 3 mil a 4 mil ogivas nucleares acima do teto especificado pelo primeiro tratado de redução de armas, como uma “margem de segurança” para se contrapor a possíveis relações hostis futuras com a Rússia…

O resultado do investimento mundial neste setor é que o poder destrutivo do arsenal nuclear do planeta equivale hoje a 4,2 toneladas de dinamite para cada habitante do planeta… Isto, naturalmente, se essa estimativa corresponder à realidade…

A França declara possuir 500 ogivas nucleares, a China 300 ogivas e a Grã-Bretanha 250 ogivas. Estima-se que Israel tenha cerca de 200 ogivas, a Índia 20 ogivas (15) e o Paquistão 10 ogivas. Com o fim da União Soviética, a Ucrânia, a Bielorússia e o Kasaquistão já nasceram como potências militares nucleares, com muitas ogivas em seus territórios (os últimos informes indicam que essas armas estão sendo desmanteladas). A África do Sul já teve armas nucleares, mas anunciou que “desistiu” delas. (16) Suspeita-se ainda que a Coréia do Norte e o Irã estejam desenvolvendo armas nucleares. Em relação ao Iraque há certeza de que o país planejava equipar seus mísseis com cargas atômicas. Taiwan e Coréia do Sul também já tentaram implantar seus programas de armas atômicas. Até a Suíça desenvolveu um programa de construção de armas nucleares, ativo até 1988 de acordo com um historiador militar suíço.

Há estimativas de que as nações nucleares disponham atualmente de mais de 30 mil ogivas, outras falam em até 45 mil ogivas… É impossível saber com exatidão o número certo. Ainda mais se considerarmos a informação do Dr. Gilberto Dupas, do Instituto de Estudos Avançados da USP, de que para se fazer uma bomba nuclear são necessários apenas 15kg de urânio e 7kg de plutônio, e que os Estados Unidos têm estocados 990 toneladas de urânio e 98 toneladas de plutônio (estima-se que a Rússia tenha uma quantidade 20% maior de urânio e plutônio).

Em 29 de maio de 1995 a China testou seu primeiro míssil balístico intercontinental lançado de base móvel (mais difícil de ser detectado). Esse tipo de míssil pode levar ogivas nucleares a alvos distantes até 8 mil quilômetros. No dia 15 de maio de 1995, a China havia feito um teste nuclear subterrâneo, horas após assinar o Tratado de Não Proliferação Nuclear, que visa justamente evitar a disseminação de armas atômicas e a prática de testes pelo mundo. A China argumentou que havia feito até então apenas 45 testes nucleares, enquanto que os Estados Unidos já tinham feito 1.030. Uma diferença insuficiente para intimidar alguns funcionários do governo chinês, que ameaçaram fazer chover bombas atômicas sobre Los Angeles, casos os Estados Unidos defendessem Taiwan numa futura invasão por parte da China. Taiwan, aliás, já está se preparando para qualquer eventualidade: em abril de 1998, o país testou “com sucesso” seu próprio míssil supersônico.

Até hoje foram realizadas mais de duas mil explosões nucleares pelos países pertencentes ao chamado “clube atômico”. Foram testadas sempre apenas bombas nucleares, e nunca os chamados “mísseis nucleares de ogivas múltiplas”. A potência destes últimos – capazes de fazer explodir bombas de hidrogênio sobre vários alvos ao mesmo tempo – é tão grande, que havia o receio de que, explodindo, provocassem uma reação em cadeia que destruísse o planeta… (17)

Em junho de 1995 a França anunciou a necessidade de retomar os testes nucleares subterrâneos no Atol de Mururoa, rompendo um acordo feito em 1992 com os Estados Unidos, Inglaterra e Rússia, que estabelecia uma moratória desse tipo de teste. A justificativa francesa foi de que as explosões eram necessárias para permitir futuras simulações em programas de computador. Essa alegação foi prontamente rebatida pelo renomado cientista Dr. Frank Barnaby, que asseverou ser o verdadeiro objetivo dos militares franceses concluir o desenvolvimento de duas novas ogivas para mísseis. Jornalistas especializados afirmaram que os testes indicavam que a França continuava interessada na energia nuclear para o combate, e não apenas para dissuasão. Por outro lado, a imprensa francesa afirmou que o país pretendia desenvolver uma série de armas nucleares miniaturizadas, suspeita essa confirmada pelo cientista francês Pierre Jaeglé, do Laboratório de Espectroscopia Atômica e Iônica da Universidade de Paris.

Num quadro que parece originário de um filme sobre o apocalipse, o presidente da França carrega o código numérico necessário para ativar o arsenal nuclear do país dentro de um medalhão de prata, pendurado no pescoço. E foi paramentado desta forma que o presidente Jacques Chirac, fazendo alusão ao término dos testes franceses afirmou: “A segurança do nosso país e a de nossos filhos está assegurada…” Uma crença que certamente não é compartilhada pelo ministro da Defesa da Rússia, Igor Rodionov, que em novembro de 1996 declarou que seu país iria apontar suas armas nucleares contra os países europeus, caso a aliança militar ocidental continuasse a se expandir… O ministro da defesa russo, aliás, é uma das três autoridades do país que carregam uma maleta com a qual se pode autorizar um ataque nuclear; os outros dois personagens armagedônicos são o presidente e o chefe do Estado-Maior.

Uma semana após o anúncio da retomada dos testes por parte da França, os Estados Unidos anunciaram que poderiam retomar os testes nucleares “de pequeno porte”. No dia seguinte a Rússia declarou que teria de retomar os seus testes, caso os Estados Unidos o fizessem. O presidente russo declarou que se reservava o direito de retomar experiências nucleares se os “supremos interesses” do país estivessem ameaçados.

Enquanto isso a China continuava explodindo impassivelmente suas bombas atômicas e, de acordo com o jornal inglês Sunday Telegraph, também estaria repassando ao Irã tecnologia para o enriquecimento de urânio, capacitando-o assim a fabricar armas nucleares. Na hipócrita linguagem diplomática que caracteriza o relacionamento das nações contemporâneas, os Estados Unidos manifestaram “pesar” diante do novo teste chinês. E silenciaram ao descobrir que a Rússia havia conseguido adquirir, através de um intermediário europeu, um supercomputador para simulação de testes nucleares, driblando os controles americanos de exportação de alta tecnologia.

A França explodiu todas as bombas que quis no Atol de Mururoa, até completar a série prevista de testes. Ignorou completamente os protestos mundiais contra os experimentos e tampouco mostrou-se preocupada com a informação veiculada pelo jornal japonês Yomiori Shimbun, que em janeiro de 1996 anunciou terem sido detectados vazamentos de Iodo 131 (radioativo) no Atol, após a conclusão dos testes.

Também outros países contribuem significativamente para a montagem do pesadelo nuclear. Em agosto de 1997, a revista inglesa Jane's Intelligence afirmou que Israel poderia se ver tentado a lançar um ataque nuclear preventivo, já que seu arsenal estava vulnerável a um ataque. Na mesma época, o primeiro-ministro indiano declarou que não aceitaria pressões para revisar sua política nuclear, que inclui a opção de fabricar armas. Em setembro, o vice-presidente dos Estados Unidos confirmou a existência de um relatório russo-americano dando conta que o Irã estava tentando adquirir armas nucleares e fabricar mísseis de longo alcance. Também em setembro, satélites americanos detectaram o disparo de um míssil “Rodong-1”, da Coréia do Norte, que tem alcance para atingir o Japão. Em março de 1998, o novo primeiro ministro indiano, Atal Bihari, ameaçou: “Vamos exercer todas as opções, incluindo a nuclear, para proteger a segurança e a soberania nacional.” Em abril de 1998, o Paquistão, vizinho beligerante da Índia, testou com êxito um míssil com alcance de 1,5 mil quilômetros.

Em relação à Rússia a maior preocupação hoje é quanto à segurança de suas instalações nucleares.

Numa ocasião, a eletricidade que abastece a Frota Norte no Ártico foi cortada por falta de pagamento e houve perda do controle sobre os reatores nucleares em vários submarinos desativados. Segundo especialistas americanos, nenhuma das quase noventa localidades em que estão estocadas as 700 toneladas de materiais nucleares em grau de produção de armas, conta com segurança adequada. De acordo com uma matéria publicada pela revista Seleções em junho de 1997, cerca de 33 toneladas de plutônio estão estocadas no complexo de Chelyabinsk-65, sudoeste da Rússia, num armazém velho, com janelas e um cadeado na porta; no porto de Murmansk, próximo à Finlândia, uma área de armazenamento de lixo nuclear é vigiada por dois homens e um cão.

Um informe americano remetido à OTAN admitia que não se podia mais descartar a hipótese de lançamentos não autorizados de armas nucleares russas… Em janeiro de 1995, segundo fontes americanas, o país confundiu um foguete científico da Noruega com um ataque inimigo, e esteve a ponto a lançar uma retaliação atômica contra os Estados Unidos; foi a primeira vez que os russos ativaram o botão nuclear. Em maio de 1997, o Washington Post citou um estudo da CIA (Agência Central de Inteligência) informando que defeitos nos mecanismos de controle do arsenal nuclear russo deixaram, em várias ocasiões, alguns mísseis em “posição de combate”. Na mesma época, um ex-ministro da Defesa da Rússia advertiu publicamente que os mísseis nucleares poderiam escapar do controle dos militares, em razão da precária situação econômica das Forças Armadas. Em setembro, o cientista russo Alexei Yablokok informou que a Rússia detém várias bombas nucleares portáteis, mas não se sabe onde elas estão…

Em março de 1998, o escritor Brian Hall escreveu uma matéria sobre a ameaça nuclear atual, após o fim da guerra fria. Segundo ele, as forças nucleares americanas estão sendo aprimoradas quase tão rapidamente quanto as russas se deterioram, o que aumenta a instabilidade. Ele adverte: “É amplamente divulgado que a ameaça de um holocausto nuclear diminuiu com o relaxamento das tensões da guerra fria e a falta de qualquer razão concebível para o uso de armas nucleares. Na verdade, o fim da guerra fria e o colapso da estrutura militar russa criou uma situação na qual os riscos de uma 'troca de tiros' nuclear nunca foram, com fundamento, tão altos.” Abaixo, alguns dados significativos extraídos do artigo:

Há também notícias sobre roubos de material nuclear. Em dezembro de 1994, cerca de 3kg de urânio altamente enriquecidos foram apreendidos em Praga, capital da República Tcheca. Em maio de 1995 a polícia romena confiscou 1,7 quilo de uma substância que se acreditava ser “mercúrio vermelho”, a qual pode ser utilizada na produção de bombas nucleares portáteis. Em junho de 1995, um contrabandista colombiano confessou ter recebido em Moscou 200 gramas de lítio e 363 gramas de plutônio, matéria prima para a fabricação de explosivos nucleares. Em outubro de 1995, o governo americano obteve provas irrefutáveis de que o crime organizado na Rússia estava por trás de um carregamento de berílio, confiscado posteriormente pela polícia de Lituânia. Alguns pedaços de berílio continham urânio altamente enriquecido, num nível suficiente para ser usado em armas nucleares. Em maio de 1996, um cientista russo foi preso na Sibéria sob a acusação de contrabandear para o exterior materiais que poderiam ser usados na fabricação de bombas atômicas; nesse mesmo mês, a polícia da Lituânia apreendeu 13 kg de urânio e deteve seis pessoas que tentavam vendê-lo. Em março de 1998, a polícia italiana apreendeu uma barra de urânio enriquecido e deteve 14 integrantes de uma rede de tráfico de material radioativo, comandada pela Máfia siciliana.

Para emoldurar o sombrio quadro de pré-catástrofe nuclear que atravessamos deve ser dito ainda que nunca houve tantos tiranos ensandecidos na Terra como agora, no nosso século, e a perspectiva dos que ainda poderão surgir são ainda mais aterradoras. (18)

Em 1957, o líder chinês Mao-Tse-Tung acreditava que uma guerra nuclear ajudaria a provocar a derrota final do capitalismo. Numa conversa com o líder italiano Palmiro Togliatti ele teria dito: “Quem lhe disse que a Itália deve sobreviver? Restarão três milhões de chineses, e isso será bastante para a raça humana continuar.” Em 1962, durante a crise dos mísseis soviéticos em Cuba, que pôs o mundo à beira de uma guerra nuclear, o ditador cubano Fidel Castro enviou cartas ao dirigente soviético da época, Nikita Kruschev, sugerindo que este tomasse a iniciativa de lançar um ataque nuclear contra os “imperialistas” (Estados Unidos). Na época, o chefe do Estado-Maior dos Estados Unidos, general Maxwell Taylor, queria desfechar um ataque às plataformas de mísseis; neste caso, como revelariam mais tarde funcionários do Kremlin, Kruschev não teria hesitado em atacar nuclearmente os Estados Unidos.

Mais recentemente, em 1995, o deputado Vladimir Jirinovski, que foi candidato à presidência da Rússia, declarou simplesmente o seguinte durante a Conferência de Segurança e Cooperação na Europa, realizada em Viena: “A Rússia vencerá a Terceira Guerra Mundial, sem dúvida nenhuma!” No mesmo ano, o general russo Alexander Lebed declarou que se a OTAN tentasse estender sua influência até a Polônia, isso provocaria a eclosão da Terceira Guerra…

Em maio de 1997, o vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Boris Berezovski, anunciou que a nova doutrina de segurança nacional incluía “o direito ao primeiro ataque com armas nucleares em caso de ameaça”. Em junho, o país testou “com êxito” o lançamento do míssil intercontinental SS-19, de 27m de comprimento, raio de alcance de 10 mil km e capacidade para seis ogivas nucleares. Uma reportagem sobre o lançamento informava que além de verificar a eficiência do míssil, o teste objetivava demonstrar que a Rússia conservava sua capacidade de reagir a um ataque de surpresa. Em outubro, o jornal The Washington Times informou que a Rússia estava reduzindo os gastos em armamento convencional e ampliando os investimentos no seu escudo nuclear. Em dezembro, a CIA avisou que alguns funcionários do governo russo queriam incluir na doutrina de segurança a opção do “uso limitado” de armamento nuclear, para impedir que um conflito regional se ampliasse.

O brigadeiro americano George Lee Butler, que chefiou por mais de três anos o Comando Estratégico Americano (Stratcom), declarou o seguinte depois de uma crise de consciência: “Fui responsável pelos planos de guerra com mais de 12 mil alvos, muitos deles a ser atingidos por repetidos golpes nucleares.” O brigadeiro falou sobre duas crises militares que viveu durante seu comando, em 1979 e 1980, que demonstra o grau de risco de se manter forças nucleares em alerta máximo: Na primeira crise, aviões interceptadores e um posto de comando aerotransportado foram lançados aos céus depois que os dados de uma simulação bélica foram transferidos por equívoco para o computador militar errado. Na segunda crise, as tripulações de bombardeiros saltaram para dentro dos aviões e ligaram as turbinas, as equipes de lançamento de mísseis receberam ordens de preparar o acionamento dos códigos de disparo, e o então assessor de Segurança Nacional, Zbignew Brzezinski, foi aconselhado a acordar o presidente Jimmy Carter com a notícia de que o país seria destruído em breve. O alarme era de que estava em curso um “ataque total” de mísseis soviéticos. Posteriormente soube-se que a causa do alarme fora uma falha num chip de computador de US$0,64 no Centro Militar de Advertência de Colorado Springs. O funcionário de plantão no Centro Militar levou oito minutos para decidir se o ataque era real e por isso foi demitido; ele deveria ter tomado uma decisão em três minutos…

Os prenúncios de guerra vão mais além. Em 1996, satélites de espionagem americanos descobriram que os russos estavam construindo um enorme complexo militar secreto nos montes Urais, a despeito da monumental crise econômica que assolava o país já há anos. O especialista militar russo, Pavel Felgengauer, confirmou que a base, conhecida como “mão morta”, foi concebida para desfechar o chamado “segundo ataque”, isto é, uma represália nuclear maciça a um ataque surpresa. O sistema funcionaria automaticamente após um ataque inimigo… Nos Estados Unidos, alguns meses depois dessa notícia, a Força Aérea assinava um contrato de mais de um bilhão de dólares para que um consórcio de empresas desenvolvesse um sistema de laser aerotransportado, capaz de destruir mísseis balísticos em pleno vôo. O objetivo declarado era o de proteger tropas e bases contra mísseis armados com ogivas convencionais, químicas, biológicas e nucleares…

Atualmente está em desenvolvimento armas portáteis a laser, acústicas, de torvelinho (provocam ondas de choque) e de microondas. Até o advento da Terceira Guerra, a capacidade inventiva humana continuará a ser aplicada predominantemente nessas coisas, sempre com grande êxito.

A Terceira Guerra Mundial de fato virá, mas não haverá vencedores nem vencidos entre os povos, que se exterminarão mutuamente. Será mais um ato de limpeza na Criação durante o Juízo, cuja forma, horrível, foi preparada com afinco pelos próprios seres humanos. (19) Serão protegidos disso aqueles que não tiverem contribuído para esse gigantesco e terrível carma coletivo, ou seja, aqueles que sempre observaram as Leis instituídas pela Vontade do Criador, ou que, ainda em tempo, submeterem sua própria vontade a elas.

A inflexível e incorruptível Lei da Reciprocidade é a guardiã da Justiça divina. A atuação automática dessa Lei impede a ocorrência de qualquer injustiça nos efeitos retroativos de toda a atuação humana.

Não foi, por exemplo, nenhum acaso o fato de a cidade de Kokura ter sido poupada do lançamento da segunda bomba atômica sobre o Japão, no final da Segunda Guerra. Esta cidade tinha uma fábrica de armas e, por isso, era o alvo prioritário. Mas o mau tempo impediu que a tripulação do bombardeiro americano identificasse visualmente a fábrica, condição incontornável para o lançamento da bomba, de acordo com as ordens recebidas. Por três vezes o avião sobrevoou a cidade, mas as nuvens sempre encobriam a visão. Por essa razão o avião teve de rumar para o alvo secundário: a cidade de Nagasaki.

Assim como há 50 anos a Lei da Reciprocidade não permitiu que os moradores da cidade de Kokura fossem atingidos por uma hecatombe nuclear, ela protegerá também, de forma automática, aqueles seres humanos que não tiverem de experimentar os horrores advindos da eclosão da Terceira Guerra Mundial.

  1. Ver, a respeito, a obra Os Primeiros Seres Humanos, de Roselis von Sass. Voltar
  2. A obra Os Primeiros Seres Humanos, de Roselis von Sass, traz informações detalhadas sobre o início do falhar da humanidade. Voltar
  3. Em 21 anos de ocupação pela Indonésia, 310 mil timorenses foram mortos, cerca de 44% da população existente antes do conflito. Voltar
  4. A ocupação chinesa no Tibet já produziu 1,5 milhão de vítimas. Voltar
  5. O nome atual da Birmânia é Myanmar, dado pelo atual regime militar, que tomou o poder num golpe de estado em 1988, onde mais de mil manifestantes pró-democracia foram mortos. Voltar
  6. Estima-se que mais de 50 mil pessoas já tenham morrido na guerra civil do Sri Lanka. Voltar
  7. Em 19 anos de guerra civil morreram mais de 500 mil angolanos. Voltar
  8. Em dezembro de 1996 um acordo de cessar fogo estancou a guerra civil na Guatemala (a mais longa do século), que eclodiu em 1960 e matou cerca de 140 mil pessoas até então. Voltar
  9. A guerra civil na Libéria começou em 1989 e até fins de 1995 havia produzido 150 mil mortos e 1,2 milhão de refugiados, cerca de metade da população do país. Voltar
  10. Ver, a respeito, a dissertação “No Reino dos Demônios e dos Fantasmas”, da obra Na Luz da Verdade, Volume II, de Abdruschin. Voltar
  11. Fonte: UNICEF. Voltar
  12. O último desses tratados é a Convenção sobre Armas Químicas, que após duas décadas de negociações ainda aguardava ser ratificado por 77 países em fins de 1997. E o tratado é bastante generoso, pois estipula aos países signatários um prazo até 2007 para a destruição de todos os armamentos químicos. Estima-se que só nos Estados Unidos, o custo para o desmantelamento do arsenal químico seja de 27 bilhões de dólares. Voltar
  13. Em 1993, cerca de 125 países assinaram a “Convenção sobre Armas Biológicas”. As posteriores resoluções dessa Convenção, que proíbem os países signatários de desenvolver um programa de fabricação desse tipo de arma, sem, no entanto, estabelecer meios de coação e punição, chegam a ser ridículas, de tão ineficientes.

    A matéria publicada pelo jornal Folha de S. Paulo em maio de 1995 dizia: “O resultado mais visível de uma série de reuniões entre países signatários da CAB (Convenção de Armas Biológicas), para sua revisão, é uma série de acordos para dar seguimento às reuniões…Voltar

  14. As estimativas de quantas vezes a Terra pode ser destruída pelo arsenal nuclear global é muito variada. Segundo Mikhail Gorbachev, ex-presidente da União Soviética, as armas nucleares existentes seriam capazes de destruir a vida na Terra centenas de vezes. Voltar
  15. Quando a Índia explodiu a sua primeira bomba atômica, em 1974, o governo tranquilizou o mundo informando tratar-se de uma explosão com “fins pacíficos” Voltar
  16. Os jornalistas Peter Hauman e Steve McQuillan recentemente lançaram um livro em que afirmam que a África do Sul fabricou 24 bombas atômicas (e não seis como divulgado) e que nem todas foram destruídas. Voltar
  17. A bomba de hidrogênio, ou bomba termonuclear, é várias vezes mais potente que uma bomba atômica “convencional”, como a que dizimou a cidade de Hiroxima. O início da reação em cadeia que a faz explodir é, inclusive, provocado pela explosão prévia de uma bomba nuclear “comum” em seu interior. Voltar
  18. Cita-se no texto apenas alguns dos líderes que fizeram menção explícita à guerra nuclear. Por essa razão, não se alude aos desvarios de Hitler, Mussolini, Stalin, Franco, Ceaucescu, Bokassa, Idi Amin, Sadam Hussein, Kadafi, Pinochet, Kim Il Sung, Enver Hoxha e ainda outros de triste memória. Voltar
  19. A respeito da profecia sobre a Terceira Guerra Mundial, ver a reprodução da 3ª Mensagem de Fátima em O Livro do Juízo Final, de Roselis von Sass. Voltar