Advento e Missão do Filho Do Homem

Profecias Extrabíblicas

Muitos escritos antigos fazem alusão à vinda do Filho do Homem e ao desencadeamento do Juízo Final a isso ligado. Todos nós que vivemos hoje aqui na Terra já tivemos notícia, em algum marco da nossa existência – que abrange várias vidas – desses dois acontecimentos de importância capital para a humanidade.

A primeira indicação sobre um futuro Juízo e o Juiz foram transmitidas por volta de 4500 a.C. quando da construção da Grande Pirâmide, conhecida hoje por Pirâmide de Quéops, edificada por ordem do Senhor como altar e futuro sinal para o Senhor dos Exércitos: “Naquele dia haverá um altar do Senhor no meio da terra do Egito. (…) Servirá de sinal e de testemunha ao Senhor dos Exércitos na terra do Egito” (Is19:19,20). (1) Esse altar do Senhor é conhecido como “a profecia em pedra”, porque traz gravadas as épocas dos principais acontecimentos da humanidade, reconhecidas através de medidas dos corredores e salas. A Pirâmide foi uma obra edificada por ordem do Altíssimo, na qual Suas indicações ficaram totalmente resguardadas de intervenções humanas, como sumiços de papiros, erros de copistas e traduções tendenciosas. Nisso sim se reconhece um ato da Providência divina, que preserva integralmente as legítimas orientações do Onipotente para Suas criaturas humanas...

Desde a época da construção da Grande Pirâmide a humanidade vem sendo advertida de tempos em tempos para mudar de rumo, a fim de poder subsistir na época do Julgamento. Essa missão coube em primeira linha, conforme já dito, aos profetas dos tempos antigos e aos Preparadores do Caminho, os Precursores do Filho do Homem. Mas, além desses, alguns espíritos preparados também advertiram e exortaram seus respectivos povos sobre os acontecimentos futuros, de modo que reminiscências dessas profecias e avisos ainda subsistem aqui e acolá.

O livro hindu Vishnu Purana, de uma época anterior aos textos bíblicos, traz um trecho de onde se depreende nitidamente, em meio a algumas alegorias, o fato principal do mal imiscuído no mundo e da chegada no fim dos tempos atuais de um Emissário que restabelecerá a Justiça e dará início a uma era de paz:

“Quando as práticas recomendadas pelos Vedas e as instituições da lei tiverem quase cessado, e o término da idade de Kali (2) esteja muito próximo, uma porção do ser divino que existe na própria natureza espiritual sob o aspecto de Brahma, que é o começo e o fim, e que abrange todas as coisas, descerá à Terra, (…) e se apresentará sob a forma de Kalki, dotado das oito faculdades sobrenaturais. Destruirá, por seu poder irresistível, todos os salteadores e os Mlechehhas, e todos aqueles cujo espírito esteja devotado à iniqüidade. Restabelecerá a Justiça sobre a Terra, e os espíritos daqueles que vivem no fim da idade de Kali serão despertados e por tal maneira se tornarão transparentes, como o cristal. Os homens que assim forem transformados, pela virtude desta época particular, serão como as sementes dos seres humanos, e darão nascimento a uma raça que seguirá as leis da idade Krita ou da pureza.”

Os hindus aprofundados nas profecias de sua religião retratam a vinda dessa personagem como um magnífico jovem cavalgando um grande cavalo branco, munido de uma espada semelhante a um meteoro, desencadeando morte e destruição por todos os lados. A sua vinda restaurará a Justiça na Terra e promoverá uma era de pureza e inocência.

Uma outra profecia sobre o Juízo admiravelmente conservada até hoje é a dos Hopis, uma nação indígena orgulhosa e pacífica que habita no norte do Estado americano do Arizona. O mito Hopi faz menção à época do Juízo e à figura do Filho do Homem, englobando um ciclo da Criação que vai do início da nação Hopi até o tempo da “grande purificação”, quando o “Grande Espírito virá”. A seguir, algumas palavras elucidativas de um ancião Hopi sobre essa época de depuração mundial: “A profecia afirma que se aproxima um tempo de muita destruição. Este é o tempo. Seja qual for a forma assumida pela terceira grande purificação, as profecias afirmam que ocorrerão vários sinais: as árvores começarão a morrer por toda a parte; lugares frios se tornarão quentes e lugares quentes se tornarão frios; terra afundando nos oceanos e o mar invadindo os litorais; e o surgimento de uma Estrela Azul.”

Essa Estrela Azul corresponde ao Grande Cometa, ou Cometa do Juízo. Uma antiga profecia Maia também faz referência a vinda desse astro (citado da obra A Profecia Maia, de Alberto Beuttenmüller):

“Este grande corpo celeste passará próximo da Terra e causará danos aos terráqueos. A missão desse corpo celeste, contudo, será a de limpar o planeta de todas as impurezas, humanas e inumanas. (…) O astro fará a Terra tremer, os mares invadirem continentes, vulcões acordarem, territórios sumirem, prédios despencarem. Este corpo celeste não poderá ser evitado, pois este será seu destino jamais modificado. Atenta, pois, o Juízo Final não manda aviso.”

Além do Grande Cometa, a profecia também menciona o surgimento de um outro corpo celeste, a “pedra do céu”, que se refere possivelmente ao novo Sol, o qual também está previsto para a era renovada. Essa profecia Maia ainda é especialmente severa para com o ser humano do final dos tempos, e prevê que as formas religiosas baseadas na fé cega sucumbirão:

“Não haverá mais tempo para aprender neste planeta. (…) Só o Conhecimento profundo poderá te tirar desse caos onde te meteste. O planeta Terra, tua casa por milênios, cansou se de tuas fraquezas e de tuas promessas. Agora o tempo é zero. Não mais haverá condescendência para contigo. (…) Esgotaste teu tempo sobre a Terra. Só os eleitos viverão a plenitude da Nova Era de Paz e Fraternidade Universal. Nenhuma religião prevalecerá sobre o Conhecimento, todas sucumbirão. (…) O Novo Tempo será o fim da era da fé cega e da crença, e o início da Era do Saber e do Conhecimento. (…) A raça humana terá de buscar o caminho da iniciação na Terra e no Céu; só assim conseguirá vislumbrar a luminosidade do Grande Espírito.”

Examinando mais atentamente a profecia Maia, a qual é constituída de sete partes, encontramos outros pontos bastante interessantes. Lemos ali a seguinte exortação: “Para sermos felizes devemos nos localizar não no passado ou no futuro, mas no tempo presente.” Uma indicação preciosa essa, de que devemos viver o presente, tal como fazem com toda a naturalidade os animais.

Também diz a profecia que na época da “grande transformação” que precederá a mudança dos tempos, haverá alterações na irradiação do Sol. No final dos tempos, continua a profecia, “cada ser humano será seu próprio juiz, quando ingressar no ‘grande salão dos espelhos’, para examinar tudo o que fez em sua existência; o ser humano viverá no céu ou no inferno, dependendo do seu comportamento, pois cada um decide seu próprio destino.” Por fim, a profecia também afirma que não haveria maneira de evitar o domínio da “cruz desequilibrada”, que alguns estudiosos atribuem à chegada do Cristianismo, na versão feroz dos colonizadores espanhóis.

A sabedoria que se patenteia nessa profecia Maia, na verdade, depõem contra sua presumida autoria. Apesar de terem tido boa vontade em aprender, os Maias nunca chegaram nem perto do saber espiritual alcançado pelos seus antecessores, o elevado povo dos Toltecas. Ao contrário. Assim como os Astecas, os Maias acabaram se degenerando espiritualmente, entregando-se à prática de cultos sangrentos e sacrifícios a “deuses maus”. Os Maias usufruíram do saber dos antigos Toltecas, tomando para si o que já havia sido desenvolvido por esse povo, como é o caso do famoso calendário Maia. Por isso, a chamada profecia Maia muito provavelmente deve ter tido a mesma origem.

A doutrina de um dos Preparadores do Caminho, Zoroaster ou Zoroastro, conserva até hoje alguns fragmentos a respeito do Juízo Final e do Filho do Homem, denominado Saoshyant. No Dicionário das Religiões de John R. Hinnells encontra-se o seguinte esclarecimento sobre o assunto: “Os zoroastrianos não procuram ‘o fim do mundo’. Em vez disso esperam o tempo em que ele será limpo de toda impureza desnatural com que o mal o tem afligido. (…) Nos livros pálavi, a história do mundo se divide em quatro períodos, cada um de 3.000 anos, o último dos quais, segundo se acredita, começou em Zoroastro (isto é, o tempo presente está ‘nos últimos dias’). O Zoroastrismo espera, tradicionalmente, a vinda de um Salvador (Saoshyant; em pálavi Soshyant, nome que significa “Salvador Futuro”), que nascerá de uma virgem fecundada pelo sêmen do profeta Zoroastro, erguerá os mortos dos túmulos e promoverá o Julgamento Universal.” Nos escritos que chegaram até nós, o Saoshyant também é chamado de Astvart-Arta, que significa “Ordem Encarnada” ou “Justiça Encarnada”. Os relatos dizem que os acontecimentos do começo do mundo serão reproduzidos no fim, em sentido inverso, uma imagem para indicar o fechamento de todos os ciclos no Juízo.

A passagem sobre a virgem fecundada pelo sêmen do profeta é, evidentemente, mais uma obra oriunda da fantasia humana, no mesmo patamar, por exemplo, da lenda que diz que Krishna teve um pai divino. Contudo, o conceito do Juízo Final e do Juiz que o instituirá é bastante claro, inclusive da ressurreição, não de mortos, mas de tudo quanto está morto no ser humano. O livro Zoroaster, publicado pela editora Ordem do Graal na Terra, traz um esclarecimento muito mais nítido sobre o Juízo Final e o mencionado Saoshyant, o Filho do Homem:

“Virá o dia em que o Saoshyant chegará do céu. Virá como criancinha e será o Filho do Supremo Deus. Crescerá e aprenderá os caminhos dos seres humanos. Ele lhes trará a Luz do Reino do seu Pai, para que reencontrem o caminho para cima. Ele cuidará deles, como o pastor de seu rebanho. Depois virá o último dia: o Juízo. Grande será o Saoshyant; não será mais um homem, mas sim, somente Deus. Os seres humanos terão medo, porque praticaram o mal. O Juiz Universal, porém, julgá-los-á conforme suas obras. Terão que transpor a ponte. Quem houver sido mau cairá e nunca mais voltará. Mas aqueles que transpuserem a ponte entrarão no Reino Eterno do Saoshyant.”

Não há de fato o que comentar sobre essa passagem, tão clara ela é. Essa ponte que precisa ser transposta é chamada Ponte Chinvant ou Tschinvat, que significa “Ponte do Retribuidor”. Mencione-se ainda que o conceito de atravessar a ponte, que na doutrina de Zoroaster equivale a passar pelo Juízo, aparece também no Islamismo. No Dicionário de John Hinnells lemos o seguinte sobre o verbete Qiyama: “Ressurreição no Islamismo, seguida do Juízo Final. As almas julgadas cruzam uma ponte estreita, que se estende sobre o inferno; os pecadores cairão nas profundezas, mas os salvos entrarão no Paraíso.”

Em sua História da Civilização, Will Durant transmite outros conceitos do Zoroastrismo, que novamente apresentam paralelos com um período de purificação do mundo seguido de uma era feliz, bem como o processo de ascensão ao Paraíso:

“O reino de Ahuramazda virá, e Arihman e todas as forças do mal serão exterminados; as almas dos bons começarão uma nova vida, em um mundo sem mal, sem trevas e sem dor. (…) As almas dos pecadores passarão para Arihman, para o castigo eterno, enquanto que as dos puros se salvarão através de sete esferas, perdendo em cada uma delas uma parte dos elementos que ainda contiverem e, assim, até serem introduzidas à plena irradiação do céu.”

O Arihman, cujo significado é “Espírito Destruidor” é Lúcifer, e Ahuramazda, nome que significa “Senhor Sábio”, é o Criador. O rei persa, Dario I já havia se referido a Ahuramazda como o Criador do céu, da Terra e do homem (cf. Esd4:5). Outros ensinamentos sobre os efeitos da reciprocidade indesviável aparecem em algumas partes da obra conhecida como “Avesta”, que teriam sido escritas por Zoroaster. Provavelmente não foram, mas vê-se que o conceito foi absorvido pelo adepto que a escreveu:

“Eu te reconheci benéfico, ó Senhor Sábio, vendo-Te no princípio, quando nasceu a existência, assinar um salário à ação e à palavra: retribuição má ao mau, boa ao bom, por Tua habilidade, na última curva da Criação. (...) Ensina-me, em Tua qualidade de Justiça, a posse do bom pensamento.”

No antigo Egito, a certeza sobre um julgamento individual também permaneceu, apesar das distorções que os adeptos de Rá inseriram no conhecimento primordial daquele povo. Os egípcios temiam o que chamavam de segunda morte, que seria a definitiva. Acreditavam que, após a morte, o coração era pesado numa balança diante do deus Osíris, e caso este pesasse mais que “a pluma da justiça de Maat”, a deusa da ordem universal, o morto seria engolido por um monstro, o que acarretaria a morte definitiva do indivíduo. A literatura sapiencial egípcia, apesar das muitas distorções, sempre ensinou a responsabilidade pessoal dos atos da pessoa humana diante do Criador.

Os filósofos gregos também ensinavam, já no século V a.C., que após a morte as pessoas eram julgadas pelos seus atos, o que ocorria no tribunal dos lendários irmãos Minos e Radamanto. O mito helênico de Hermes apresenta a mesma imagem egípcia de um deus pesando as almas com uma balança, instrumento que teria sido inventado por ele próprio. Posteriormente, a iconografia cristã colocou o arcanjo Gabriel neste papel de avaliar as almas com ajuda de uma balança.

A idéia de um julgamento derradeiro, levado a efeito por um bem determinado Juiz, permeia a história de muitos outros povos. No livro Revelações Inéditas da História do Brasil, a autora Roselis von Sass apresenta um panorama muito detalhado das crenças dos antigos povos indígenas do Brasil. Diz a escritora: “Todos os antigos povos do Brasil veneravam um Ser Supremo: Deus. Os Tupis e Guaranis, que apesar de várias diferenças tinham uma doutrina uniforme de fé, denominavam esse Supremo Ser: ‘Nyanderuvusu’. Além de Deus eles veneravam também uma ‘Mãe Primária’ ou ‘Mãe Universal’ e seus filhos gêmeos, ‘Nyanderykey’ e ‘Tyvyry’! (Filho do Homem e Filho de Deus).”

Mais adiante a autora cita uma passagem do livro A Mitologia Heróica de Tribos Indígenas do Brasil, de Egon Schaden, e dá novos esclarecimentos: “No que se refere ao Juiz, Salvador, Herói (Filho do Homem), que matou o dragão, está descrito no livro de Egon Schaden como ‘herói civilizador mítico’ ou como ‘herói civilizador’, cuja vinda estará ligada a graves catástrofes da natureza… Existem no livro dele várias indicações, embora muito obscurecidas, a respeito do Juiz… Num capítulo onde se faz menção da vida religiosa de uma tribo guarani, podemos ler o seguinte: ‘Quando Nyanderuvusu resolver a destruição da Terra, caberá a Nyanderykey retirar a cruz de madeira que a suporta. E a Terra desabará…’ O texto correto, conhecido pelos Guaranis, dizia o seguinte: ‘Quando Nyanderykey, o Salvador e Herói, vier como Juiz para as criaturas humanas, ele ordenará aos seus servos que derrubem a cruz de madeira, queimando-a. Pois a cruz de madeira foi implantada na Terra por Anyay (Lúcifer) como sinal de seu domínio na Terra…’.” Mencione-se de passagem que Isaías faz uma alusão a isso em seu livro bíblico profético: “Mas naquele Dia, diz o Senhor dos Exércitos, a estaca, firme no lugar, será retirada: ela vai ceder e cair, e tudo o que nela estava pendurado virá ao chão – porque assim falou o Senhor” (Is22:25).

Os famosos Oráculos Sibilinos também fazem menção ao Filho do Homem e ao Juízo Final. Nesses Oráculos se diz que um Rei-Messias introduzirá o Reino eterno de Deus sobre todos os homens, e que todos os povos reconhecerão a Lei de Deus. Apesar de esses Oráculos terem chegado até nós bastante desfigurados devido a múltiplas interpolações cristãs, ainda é possível extrair deles algumas informações úteis, particularmente nos livros 3 e 4, que são os mais antigos. Neles se pode ler que o Senhor enviará um Rei do Sol para executar Seu Juízo, que as nações serão castigadas e que grandes sinais no céu e na Terra anunciarão sua aproximação. Também há um angustiante chamamento aos seres humanos para que se arrependam e mudem de conduta, do contrário Deus purificará o mundo pelo fogo. O primeiro trecho reproduzido a seguir descreve a vida dos homens piedosos (que continuarão existindo) e a Ira do Todo-Poderoso para com os idólatras; o segundo trecho narra como será a vida na Terra após o Juízo:

“A raça santa de homens piedosos continuará existindo, prostrados diante da Vontade do Altíssimo.(…) Eles não honram, movidos por vãos enganos, nem as obras dos homens, de ouro ou de bronze, de prata ou de marfim, nem as imagens de madeira ou de pedra de deuses já mortos, estátuas de argila pintadas de vermelho. (…) Pelo contrário, erguem ao céu seus braços santos, sem deixar de purificar com água sua pele desde que, madrugadores, abandonam o leito; e honram só o Imortal que eternamente nos protege. (…) O Imortal imporá a todos os mortais ruína, fome, sofrimentos e lamentos, guerra, peste e dores que causarão lágrimas, porque ao Imortal, Criador de todos os homens, não quiseram honrar com religiosa piedade, e honraram com veneração os ídolos.”

(OrSib3:573-605)

“Terá lugar, então, o Juízo, em que o próprio Deus será novamente Juiz do mundo; a quantos por impiedade pecaram, outra vez a terra amontoada sobre eles os ocultará, e o Tártaro tenebroso e as profundezas horríveis da Geena. E quantos são piedosos novamente viverão sobre a Terra, porque Deus conceder-lhes-á, ao mesmo tempo, espírito e graça por sua piedade. Então todos se verão a si mesmos ao contemplar a agradável luz do brando Sol. Bem-aventurado o homem que nesse tempo chegar a viver sobre a Terra.”

(OrSib4:179-191)

Pouco depois da época da Sibila de Cumas, (3) no século I a .C., o poeta latino Virgílio elaborou um poema onde exaltava o nascimento de uma criança, à qual se vinculava uma nova Idade de Ouro, “quando a natureza reassumirá sua forma paradisíaca e a serpente perecerá”.

Os textos conhecidos como “Documentos de Sadoc”, descobertos numa sinagoga do Cairo em fins do século XIX, têm sua autoria atribuída aos essênios. Neles aparecem igualmente narrativas sobre uma batalha final que ocorreria entre o bem e o mal no mundo. Segundo os pesquisadores, os essênios acreditavam na preexistência da alma e sabiam da reencarnação, mas negavam a ressurreição da carne. A serem verdadeiras essas informações, esse grupo teria sido um dos mais evoluídos daquela época. Flavio Josefo certamente devia ter suas razões para elogiar os essênios no século I da nossa era: “Os essênios são as pessoas mais honestas do mundo; são tão boas como as suas palavras”, garantiu o historiador. Um aspecto notável é a profunda reverência para com o nome do Criador. Pronunciar o santo nome era uma transgressão passível de expulsão da comunidade.

Sobre os chamados Manuscritos de Qumran, ou Manuscritos do Mar Morto como são mais conhecidos, encontrados em 1947 e cuja autoria também se atribui aos essênios, é significativa a menção de permanente luta entre o bem e o mal até o “Dia derradeiro”, em que se assistirá ao triunfo do Príncipe da Luz sobre o Anjo das Trevas. Os essênios aguardavam a vinda de um Messias que seria ao mesmo tempo rei e sacerdote.

Os Manuscritos de Qumran falam sobre a “diferente retribuição dos que buscam a Verdade, que se levantarão para o Julgamento e serão recompensados por toda a eternidade, e dos filhos da iniqüidade, que desaparecerão completamente.” O Príncipe da Luz é designado também de “Filho de Deus” e “Filho do Altíssimo”, a quem são atribuídas as funções de efetuar o Julgamento, libertar os cativos e estabelecer a Era da salvação. Os filhos da Luz são regidos por esse Príncipe da Luz; eles “trilham os caminhos da Luz e praticam a Verdade”, enquanto os “filhos da iniqüidade trilham os caminhos das trevas”. João disse praticamente a mesma coisa em seu Evangelho (cf. Jo3:20,21).

A comunidade de Qumran esperava por dois messias distintos, onde o primeiro abriria caminho para a atuação do segundo: um Messias-real, descendente de Davi, e um Messias-sacerdote, que seria de máxima importância para o mundo. Mas nenhum dos dois tinha qualquer função expiatória de pecados... Os essênios de Qumran aguardavam a chegada de um dia crítico em que Deus interviria na História. Aliás, não somente eles, mas o povo judeu em geral acreditava que um dia o Senhor Deus iria interferir na História humana e manifestar Seu poder real diante de todo o mundo: era o “Dia do Senhor”, vaticinado pelos profetas do Antigo Testamento. Todos esses textos de Qumran são muito antigos, alguns com data estimada de composição no século III a.C. Nesses escritos há especialmente duas passagens muito nítidas sobre o tempo do Juízo Final. A primeira diz o seguinte:

“Mas Deus, em Seus mistérios de inteligência e em Sua gloriosa sabedoria, pôs um termo à existência da perversidade; e no momento da visita Ele a exterminará para sempre. E a Verdade se instalará permanentemente no mundo; pois o mundo se enlameou nos caminhos da impiedade, sob o domínio da perversidade até o momento do Julgamento decisivo.”

(Regra, IV, 18-20)

A frase “a Verdade se instalará permanentemente no mundo” indica a Palavra da Verdade trazida pelo Filho do Homem. O segundo trecho fala da chegada de uma personalidade especial no final dos dias, chamada de Mestre da Justiça:

“E o bastão (o Legislador) é o pesquisador da Lei… E os nobres do povo são aqueles que vêm para cavar o poço por meio dos preceitos que foram promulgados pelo Legislador, para que neles caminhassem todo o tempo da impiedade… até a chegada do Mestre da Justiça no final dos dias.”

(Escrito de Damasco, A, VI, 7-11)

Os essênios acreditavam que o Mestre da Justiça viria para explicar a sabedoria de todos os profetas anteriores. Nesse mesmo manuscrito intitulado Escrito de Damasco está dito que o Mestre da Justiça será levantado por Deus nos últimos tempos “para mostrar à última geração o que Deus estava para fazer com a última geração” (Ed1:11). O derradeiro estágio da promessa ocorrerá quando Deus “revelar através dele novas instruções”. Num outro manuscrito, que comenta o livro do profeta Habacuc, se diz que embora esse profeta soubesse o que iria acontecer nos últimos dias, foi somente ao Mestre da Justiça que “o tempo do cumprimento foi revelado”, pois a ele “Deus fez conhecer todos os mistérios das palavras dos seus servos, os profetas”.

Um outro fragmento desses Manuscritos é bastante elucidativo sobre a natureza e missão do Filho do Homem:

“Ele será chamado grande e designado com Seu nome. (…) Ele será chamado Deus, e eles vão designá-lo Filho do Altíssimo. (…) Seu reino será um reino eterno, e todos os seus caminhos serão em Justiça. Ele vai julgar. Vai julgar a Terra com Justiça, e todos vão fazer a paz.”

(4Q246)

Os estudiosos se perguntam porque esse Filho do Altíssimo aparece aqui como um herói militar, numa descrição tão diferente de Jesus e seu ministério…

Por fim, temos mais essa significativa declaração extraída dos Manuscritos, cuja alusão à redenção efetivando-se através da Lei da Reciprocidade nem precisa de comentários, de tão clara: “Quanto a mim, minha justificação é com Deus. Ele apagará minhas transgressões por meio da Sua Justiça.”

No século II da nossa era, o bispo Pápias escreveu sobre um tempo “em que a Criação, renovada e liberta, produzirá fartamente todos os tipos de alimentos, com o orvalho do céu e a fertilidade da terra”. Nesse mesmo século, o teólogo Tertuliano parece ter vislumbrado uma seqüência lógica para o estabelecimento da Justiça no mundo, cujo ápice seria dado pelo próprio Espírito Santo: “Tudo amadurece, a Justiça também. Em seu berço, ela não foi senão natureza e temor a Deus. A Lei e os profetas foram sua infância; o Evangelho, sua juventude; o Espírito Santo lhe dará sua maturidade.” Tertuliano, que abominava o uso de imagens, era um cristão muito lúcido, pois para ele a morte de Cristo não tivera nenhum caráter expiatório, devendo servir apenas para levar o pecador ao arrependimento. Acreditava que, uma vez batizado, o cristão não poderia cometer mais nenhuma falta grave, sob pena de perder a salvação.

Por volta do ano 450 da nossa era, um asceta chamado Comodiano deixou consignada uma significativa profecia sobre a atuação do Filho do Homem, chamado por ele de “rei justo”. Aqui, alguns extratos:

“Retornada a paz e suprimidos os males, o rei justo e vitorioso submeterá os vivos e os mortos a um julgamento terrível. (…) Aos justos ele concederá a paz eterna, reinará com eles nesta terra e fundará a cidade santa. E esse reinado dos justos durará mil anos.”

Na Idade Média também houve quem intuiu acertadamente o advento da época do Juízo e a posterior instauração do Reino de Mil Anos. Nos seus sermões pronunciados em Florença nos anos de 1490 e 1491, o dominicano Girolamo Savonarola (1452 – 1498) predisse que os inúmeros vícios da Igreja eram prenúncios da proximidade do Juízo Final. Savonarola, naturalmente, foi excomungado, preso, enforcado, e teve seu corpo reduzido a cinzas.

O abade calabrês Joaquim de Fiore (1130? – 1202), por sua vez, afirmava que passada a época das provações viria “o tempo do Espírito, a hora da compreensão espiritual”. Após a travessia de um período trágico (Juízo Final), o mundo de miséria e injustiça se transformaria numa terra de felicidade. Nesse tempo, afirmava ele, não haveria mais necessidade de se escrever livros para explicar as Escrituras, porque o Evangelho segundo a letra seria substituído pelo Evangelho Eterno. Nessa época áurea, dizia o abade, “a Verdade nos será dada em sua simplicidade, e os fiéis contemplarão os mistérios em plena luz”; será “o tempo do Espírito, a hora da compreensão espiritual”. A humanidade veria, então, a decifração da Mensagem divina. Esse “Evangelho Eterno” aludido pelo abade é seguramente o mesmo indicado no livro do Apocalipse, designado ali de “Mensagem a anunciar aos habitantes da Terra, a toda nação, tribo, língua e povo – um Evangelho Eterno” (cf. Ap14:6), que outro não é senão a Palavra da Verdade trazida pelo Filho do Homem. Eterno será porque escrito pelas próprias mãos dele, e não por terceiros décadas depois de sua passagem pela Terra.

Joaquim de Fiore anteviu uma época de profundo reconhecimento espiritual, designado por ele de “terceiro estado da humanidade”, sob o domínio do próprio Espírito Santo. Segundo ele, depois do tempo da lei e da graça (Antigo e Novo Testamentos) viria o tempo da “maior graça”, durante o qual a natureza se transformaria e se embelezaria, e a liberdade espiritual floresceria no mundo. Nessa idade de plenitude, cessariam as preocupações e os sofrimentos. Essa época seria um novo Pentecostes, onde o Espírito Santo operaria a conversão e faria os seres humanos desejarem a felicidade eterna. O povo desse terceiro estado seria repleto do Espírito, sábio, pacífico e digno de amor. Joaquim de Fiore traça algumas metáforas para descrever os três períodos da humanidade que concebeu:

“O primeiro estava sob a luz das estrelas; o segundo é o momento da aurora; o terceiro será o do pleno dia. O primeiro era o inverno; o segundo, a primavera; o terceiro será o verão. O primeiro trouxe urtigas; o segundo traz rosas; o terceiro trará lírios. O primeiro produziu ervas; o segundo produz espigas; o terceiro fornecerá frumento.”

Numa outra parte de sua obra, Joaquim de Fiore reafirma objetivamente suas convicções sobre os três estados e a Verdade total que seria trazida pelo Espírito Santo, o segundo Filho de Deus-Pai, em cumprimento da promessa de Jesus:

“Sabei que o primeiro estado está relacionado ao Pai, o segundo ao Filho de Deus, e o terceiro ao Espírito Santo. (…) Assim como no primeiro período o Pai mostrou-se terrível e amedrontador, Deus-Filho, no segundo, mostrou-se cheio de piedade, mestre e doutor que manifesta a Verdade. (…) Mas, no terceiro estado, o Espírito Santo se mostrará e se oferecerá como a chama e o fogo do amor divino, como a adega do vinho espiritual, como a farmácia dos ungüentos espirituais. Então, não apenas nossa inteligência verá na simplicidade a Verdade total da sabedoria do Filho encarnado e do poder de Deus-Pai, mas também o homem poderá experimentar, apalpar e saborear a promessa de Cristo: ‘Quando vier o Espírito da Verdade, ele vos ensinará toda a Verdade’.”

O franciscano José de Parma, discípulo de Joaquim de Fiore, escreveu uma obra intitulada Introdução ao Evangelho Eterno, que foi queimada pela Igreja no ano 1260. Os trechos a seguir, selecionados da compilação de um manuscrito sobrevivente, único no mundo, feita pelo escritor George Sand em 1837 e reproduzida por Jean Delumeau em sua obra Mil Anos de Felicidade, demonstram que o discípulo compreendeu muito bem seu mestre, e também esclarecem por que o destino do texto original foi a fogueira:

“A religião tem três épocas como o reinado das três pessoas da Trindade. O reinado do Pai se estendeu durante a lei mosaica. O reinado do Filho, isto é, a religião cristã, não deve durar para sempre. As cerimônias e os sacramentos, nos quais essa religião se envolve, não devem ser eternos. Deve vir um tempo em que esses mistérios cessarão, e deve então começar a religião do Espírito Santo, na qual os homens não terão mais necessidade de sacramentos, e prestarão ao Ser Supremo um culto puramente espiritual. O reinado do Espírito Santo foi predito por São João, e é esse reinado que vai suceder à religião cristã, como a religião cristã sucedeu à lei mosaica. (…) Essa religião não abjurará o espírito do Cristianismo, mas o despojará de suas formas.”

Além das concepções de Joaquim de Fiore e José de Parma sobre o advento do Reino do Milênio, sob o império do Espírito Santo encarnado, ainda encontramos aqui e ali outros textos medievais que fazem referências à época do Juízo Final. Os textos escatológicos que conseguiram sobreviver às chamas inquisitoriais da Idade Média são, via de regra, de difícil interpretação, dada a abundância de alegorias e metáforas, mas o cântico milenarista reproduzido a seguir, datado do ano 1419, constitui uma exceção pela sua clareza:

Vigia, chama sem descanso,
Tu que conheces a Verdade,
Monta a guarda.
Toma o vinho, a água, o pão.
Pois se aproxima tua hora,
E deles terá necessidade.
Anuncia o Dia em que virá teu Senhor,
Anuncia seu grande poder.
Em breve ele descerá à Terra,
E te ordenará que retornes à tua casa.
A Verdade governará,
A mentira será vencida eternamente.
Homem, presta bem atenção,
Guarda isto na memória.

Cabe destacar que ainda no século XIII circulou na Europa um documento escatológico anônimo intitulado “Reformation Kaiser Sigmunds” (Reforma do Imperador Sigismundo), que depois de afirmar que “o mundo está subvertido” e que “não há mais ordem”, anunciava a vinda nos últimos dias de um rei-sacerdote de origem germânica. Este seria chamado de Secundus Davi – novo Davi, e Lux Mundi – Luz do Mundo, um título que Jesus também deu para si mesmo: “Enquanto estou no mundo, sou a Luz do Mundo” (Jo9:5).

A previsão da chegada de um enviado de origem germânica no final dos tempos também não é nenhuma obra do acaso. Os germanos descendem de um povo antiqüíssimo, que por primeiro recebeu a revelação da existência de um grande e único Criador, e agora, no fechamento do ciclo de todo o existir, deveriam ter constituído a ancoragem para a transmissão da última Mensagem proveniente da Luz. O significado original da palavra germânico é: aquilo que é genuíno, puro, verdadeiro. Eram essas as qualidades que se esperava desse povo na época da vinda do Filho do Homem… Vários espíritos preparados atuaram nesse grupo humano, a fim de aparelhá-lo para sua missão nos últimos tempos, dentre os quais, Lutero. Além de ter contribuído para a eliminação dos dialetos então existentes na língua alemã, o Reformador também deu uma sacudida prévia nos germanos com seu “Apelo à Nobreza da Nação Alemã”, de 1520, onde procurou lhes abrir os olhos contra os desmandos da Igreja na época. Referindo a seus patrícios alemães, o teólogo Schleiermacher dirigiu-lhes a seguinte exortação no início do século XIX: “Não é uma predileção cega pelo chão pátrio ou pelos que comigo compartilham constituição e língua que me faz falar assim, e sim a convicção interior de que vocês são os únicos capazes e portanto também dignos de que lhes seja estimulado o sentido para coisas sagradas e divinas.”

No início do século XVI surgiu uma obra de um autor anônimo alemão intitulada O Livro dos Cem Capítulos. O historiador Jean Delumeau se deu ao enorme trabalho de organizar o texto, segundo ele bastante confuso. O foco é o anúncio de uma vingança divina em razão do desregramento religioso, moral e social que imperam na Terra. O texto descreve a vinda de um rei que restauraria a justiça, após um período de grande sofrimento, com desordem dos elementos, grandes tremores de terra e epidemias. O autor afirma que “ele será muito sábio e rigoroso em seus julgamentos”, e que “Deus lhe concederá a coroa que dá o poder de submeter o mundo inteiro”. Esse rei salvador iria regenerar e pacificar toda a Terra e estabelecer o milênio de felicidade.

Na época contemporânea, destacam-se certas frases de Jakob Lorber (1800-1864). São bastante significativas as passagens a seguir, extraídas de suas obras, sobre os acontecimentos concernentes ao Juízo Final: “E logo chegará a hora em que a estrutura social de sua sociedade, que vocês julgam eterna, desmoronará. (…) Horríveis cataclismos acontecerão, calamidades nunca vistas assolarão o planeta. Acidentes, doenças e catástrofes naturais precederão a grande destruição, e serão as últimas tentativas de salvação do que pode ser salvo. (…) O desenvolvimento dos acontecimentos não se dará de maneira abrupta, de uma só vez, mas sim gradativamente, como o verão transforma-se em outono e o outono em inverno. Ocorrerão grandes terremotos na Terra e tempestades no mar. Em muitas regiões o mar engolirá a costa e os homens ficarão apavorados, pensando nos desastres que ainda assolarão a Terra. (…) Muitos sinais nos céus e muitos videntes e profetas avisarão os seres humanos, mas poucos ligarão. (…) E assim vocês têm avisos e profecias mais do que suficientes.”

  1. A história da construção dessa Pirâmide e seu significado profético é narrada com riqueza de detalhes por Roselis von Sass na obra A Grande Pirâmide Revela Seu Segredo. Retornar
  2. Os hindus denominam a era atual de “Kali-Yuga”, a Idade Negra. Retornar
  3. Em O Livro do Juízo Final, a escritora Roselis von Sass dá informações pormenorizadas sobre a autora dessa obra, a vidente Sibila de Cumas. Retornar