9. Resgatando Kassandra

“Anote bem Arisbe! O que Kassandra diz, isso se realiza. Kassandra, a jovem vidente que fascinava todos os corações com sua doçura e suavidade, cantava poeticamente as melodias que brotavam de sua alma alegre e juvenil.”

Nota: Segundo o livro O Calendário de Pedra da Grande Pirâmide do Egito, derivado das medidas da Grande Pirâmide, o nascimento de Cassandra teria ocorrido em torno de 2014 a.C. No mesmo livro o autor indica a proximidade do ano 1500 a.C. como sendo a época em que a filha do faraó, chamada Juricheo, teria encontrado o pequeno Moisés ao banhar-se no rio.


Mais ou menos na época em que Moisés se entregava a sua missão libertadora, em Tróia, na Grécia Antiga, Kassandra também amadurecia para a sua espinhosa missão de advertir Tróia de seu terrível destino por causa do falhar dos filhos do rei que ao invés de consolidarem o reino com sabedoria e dignidade, provocaram o desaparecimento da orgulhosa Tróia.

E, por causa desse falhar, decorrente do orgulho e da vaidade, Kassandra, com sua vidência tinha que antever apenas visões trágicas e deprimentes para transmitir, advertindo à família real e ao povo. Mas eles, ao invés de buscarem as causas de sua vida errada para evitar o infortúnio, se revoltavam contra a vidente, dificultando a sua missão.

Kassandra anunciava que a desgraça adviria por culpa de um dos filhos que em sua arrogância e vaidade não quis reconhecer o erro. Enfeitiçado por Helena foi cometendo erros sobre erros levando todo um povo à desgraça.

E foi só desgraça que restou quando se recorda de Kassandra, e, lamentavelmente, seu nome tem sido utilizado largamente para designar os que apresentam cenários pessimistas para a humanidade.

“Um novo dia traz novo horror! Ai de ti, Helena, que ousaste pisar no palácio. Ai de ti filho de Priamos, que desencadearás o pior destino sobre Tróia. Agora todos deverão partir daqui, todos que ainda se alegram com o Sol. Os deuses mandarão desgraça. O próprio Zeus está irado. Abandonaste um rei, um outro privarás dos filhos. Helena, beleza sem coração, o que procuras aqui?”

O dom maravilhoso concedido a Kassandra, não foi compreendido, pois os seres humanos davam vazão a sua maldade, e ao antever o futuro só havia desgraças para serem apontadas, mas, teimosos, os filhos do rei não corrigiram suas falhas e caminharam para a desgraça, deixando que Tróia fosse aniquilada.

E o nome de Kassandra foi associado a tragédias que suas advertências poderiam ter evitado. Assim a vida de Kassandra ficou gravada na história da humanidade e retransmitido no livro Histórias de Tempos Passados, editado pela Ordem do Graal na Terra, que resgata a imagem de agourenta revelando a sua heróica missão.

Contudo ainda resta uma grande dúvida, uma pergunta não respondida: Por que Kassandra? Por que Tróia? Tróia poderia ter evoluído beneficiadoramente de forma a se constituir num modelo inspirador para os demais povos de como o ser humano deve conduzir a sua existência terrena para evoluir em paz e harmonia através de alegres atividades.

Roselis Von Sass, em O Livro do Juízo Final, páginas 233 a 236, responde:

“Voltemos mais uma vez para Apolo. Muitos espíritos do grupo de elite de Lúcifer se aproximavam das mulheres humanas, disfarçando-se em Apolo, de preferência. Assim aconteceu que por diversas vezes um desses espíritos decaídos, simulando amor, aproximou-se da jovem Kassandra, filha de Príamo, rei dos troianos, apresentou-se como Apolo. Kassandra, que fora estreitamente ligada ao amor divino, e que possuía também um excepcional dom de vidência, era odiada por todos os servos de Lúcifer.

O princípio de Lúcifer dirigia-se contra a atuação do amor de Deus! E em Kassandra estavam ancoradas irradiações do amor! Por isso ela era perigosa! Logo, deveria ser aniquilada ou posta fora de ação…

O espírito maléfico que se aproximara de Kassandra, como sendo Apolo, esperava também subjugar sua alma facilmente. Havia suposto que ela não poderia resistir a Apolo, o senhor do astro solar, uma vez que os raios solares estavam igualmente em conexão de alguma maneira com o amor divino…

Não foi apenas Kassandra que os espíritos de Lúcifer quiseram destruir… seu ódio estendia-se também ao povo troiano que guardava aquela preciosa jóia entre os seus. Simultaneamente, todos os heróis deviam ser atraídos para uma armadilha da qual jamais conseguiriam libertar-se.

Kassandra não foi uma mulher terrena comum, não era vaidosa e nem superficial. Assim que o suposto Apolo a cortejou, intuitivamente sentiu uma repulsa inexplicável. Repudiou-o bruscamente. Seu coração estarrecia uma frieza glacial sempre que ele se aproximava…

Naquela época, o excepcional dom de vidência da jovem Kassandra desenvolvia-se. A desgraça que ameaçava seu povo não lhe pôde ficar oculta. Havia ainda tempo para a desgraça ser afastada, se algo acontecesse imediatamente.

No entanto, nada se fez. Seu pai, Príamo, estava disposto a levar a sério suas visões e advertências e agir de acordo. Entretanto, sua mãe, Hekuba, exercendo grande influência sobre ele, fizera o contrário: proibiu-a expressamente de molestar os demais com as advertências e visões. Caso a ordem não fosse cumprida, ela seria encarcerada.

Hekuba era poderosa. Kassandra teve de presenciar em silêncio como Tróia estava sendo subjugada pelos inimigos e como os melhores heróis troianos iam morrendo em combate.

Três mulheres, cujas almas estavam completamente sob a influência das trevas, foram na realidade os instrumentos na Terra que provocaram a queda de Tróia, causando também a terrível morte da jovem Kassandra…

A primeira delas foi a vaidosa Helena, a suposta filha de Zeus. Ela, a esposa do rei espartano Menelau, tendo sido ferida em sua vaidade, instigou a guerra contra Tróia.

A segunda foi Hekuba. Se houvesse escutado as advertências de sua filha Kassandra em tempo, Tróia poderia ter sido salva.

A terceira foi Clitemnestra, esposa de Agamenon, rei de Micenas. Essa mulher diabólica, quando Kassandra chegara presa em Micenas, mandou encerrá-la hermeticamente num compartimento de uma torre, emparedando-a viva. A vitória de Lúcifer não poderia ter sido mais completa.

Enquanto Kassandra aguardava a morte, encerrada dentro daquela torre, apareceu-lhe o verdadeiro Apolo. Não surgiu numa auréola fictícia como o falso, o qual se havia aproximado dela numa gruta do jardim paterno, pois nenhum dos enteais pode apresentar-se dessa maneira, porque auréolas não existem nos mundos materiais. Apolo, mesmo sem ela, possui algo irradiante que o envolve. Todos os que o vêem sentem intuitivamente uma bem-aventurada alegria de viver que se eleva tal qual uma prece de gratidão em louvor ao Criador.

Kassandra sentiu também imensa alegria ao vê-lo, jubilosa alegria e gratidão. Esqueceu-se do cárcere aterrador em que se encontrava. Reconheceu ao mesmo tempo que Apolo já havia estado próximo dela muitas vezes no decorrer da sua infância. Além disso, foi ele um dos que vieram trazer-lhe alguma alegria à sua solitária infância. Contudo, não foi somente Apolo que permanecera junto de Kassandra até o seu desligamento terreno, mas também outros enteais. Sempre prontos a prestar auxílios, esses entes a fizeram esquecer-se do medonho lugar em que se encontrava.

Com o término da guerra troiana, veio o fim do heroísmo. Os inúmeros heróis que ainda havia naquela época em Esparta, Tróia, Micenas e outros principados, tinham-se deixado seduzir por mulheres superficiais abcecadas pelo poder; todos eles foram induzidos a uma guerra indigna. Não só a ‘bela Helena’ havia instigado a guerra, como também Clitemnestra fez pressão sobre Agamenon para que participasse do combate contra Tróia. Desejava ficar sozinha no palácio de Micenas com o seu amante. E os heróis troianos? A maioria deixou-se prender imperceptivelmente sob a influência das asseclas femininas de Lúcifer, que os incentivavam a ter sempre novas aventuras amorosas.

Os deuses ficaram irados com o esmorecimento dos heróis; haviam descido tanto, que qualquer mulher decaída, tanto no aquém como no além, tinha o poder de influenciá-los. Não só estavam irados, como também abandonaram completamente esses heróis. Outrora, guiavam os homens terrenos que estavam ligados ao heroísmo, fortalecendo-os! Quando os seus protegidos tinham de levantar a espada por uma causa justa, sempre estavam a seu lado, auxiliando-os para a vitória. Porém, heróis que nada possuíam, além de estupidez e presunção, eram-lhes repugnantes. Dia a dia a espécie humana ia se tornando mais asquerosa para eles…

O gigante Palas, às vezes, surgia à noite, no céu. Seu braço estendido segurava uma cabeça humana que parecia ser formada inteiramente de serpentes; a outra mão, fechada em punho, dirigia-se ameaçadoramente para baixo, contra a Terra.

Tremendo de medo e pavor todos observavam tal aparição, e olhavam para o gigante que segurava a cabeça de serpentes. Contudo, o seu punho causou-lhes mais medo do que tudo o mais… Outras vezes, ao anoitecer, assim que o sol se encontrava no horizonte, aparecia também a deusa Atena. Alta como uma torre, achava-se entre o céu e a Terra e segurava igualmente uma cabeça humana da qual saíam serpentes…

‘Atena está irada’, afirmavam com razão os seres humanos! Por toda a parte, quer na Grécia como na Ásia Menor, as mulheres, tomadas de maus pressentimentos, reuniam-se a fim de refletir de que maneira poderiam readquirir a benevolência da deusa… Ao mesmo tempo houve muitos que escarneceram da deusa com punhos ameaçadores, comportando-se como fúrias, em seus acessos perversos de ódio.

Da mesma forma, Atena, como outros tantos grandes enteais, se afastou dos seres humanos. Ela havia despertado outrora nas mulheres um conceito nobre e altivo de feminilidade, proporcionando-lhes uma certa dignidade e grandeza soberana… Mas para isso o tempo já se havia escoado. Não se procurava mais pela legítima feminilidade, tampouco pela caridade, bondade, amor à verdade, senso de beleza e todas as outras virtudes que outrora haviam feito da mulher na Criação posterior uma criatura resplandecente… Na época da guerra troiana, raramente se encontravam em toda a Terra mulheres que ainda honrassem o seu nome.”