2. Século XX da Era Cristã

O desenvolvimento tecnológico da humanidade atingiu um nível não imaginado no início do século que revolucionou os transportes e as comunicações. Em poucas horas se vai de São Paulo a Tóquio em modernos e confortáveis aviões. Em poucos segundos fabulosos montantes financeiros são transferidos de um país para outro, podendo gerar pânico e caos econômico. O complexo tecnológico e as comunicações digitais por satélites também permitem que as imagens sejam transmitidas de um canto para outro da Terra em tempo real, instantaneamente, mas predominam as imagens de tragédias e catástrofes como terremotos, tufões, aviões explodindo, submarinos atômicos afundando irrecuperavelmente no fundo do mar, com seres humanos em seu interior.

Os geólogos com seus equipamentos advertem: A Terra está sujeita a sofrer abalos sísmicos de grande intensidade a qualquer hora, e não há como prever a ocorrência desses eventos catastróficos para os seres humanos.

Apesar de todo o progresso tecnológico e científico o Planeta está estressado: destruição do solo e de florestas. Poluição em todas as modalidades. Aquecimento do Planeta. Explosões solares. Alterações climáticas. População excessiva. O habitat terrestre está deteriorado. Com mais de 6 bilhões de habitantes, a maior parte vivendo em precárias condições, nos países mais pobres, distanciados dos progressos tecnológicos e da economia de mercado que requer renda para integrar o consumo, e sem condições de subsistência porque as economias auto-suficientes de subsistência foram desintegradas. As populações vão sendo empurradas para as regiões urbanas, sem preparo, sem qualificação profissional. As cidades vão perdendo as características de aprazíveis locais para a moradia e convivência pacífica de seres humanos. A infraestrutura não acompanha o explosivo crescimento da população que ocupa desordenadamente o solo, criando bolsões de miséria, sem saneamento, sem água encanada, sem escolas, sem áreas de lazer. Há muita coisa para ser feita, mas muitas pessoas permanecem desocupadas porque não há empregos e tampouco alternativas para a utilização dessa mão de obra em benfeitorias. A violência se esparrama pelas cidades. Sem ordem, sem lei.

No Estado moderno, o poder público desestruturado não consegue restabelecer a normalidade na vida urbana. As novas gerações perderam o rumo. Não estão aptas a assumirem a condução do futuro. O caos nos aguarda. As drogas vão ganhando espaço, produzindo uma geração violenta, sem aptidões para uma construção duradoura e harmoniosa. A vida se tornou áspera e difícil. As pessoas se quedam desanimadas, deixando a vida rolar.

No final do milênio, o mundo vive a nova globalização. É a globalização econômico-financeira dotada de poderosa máquina de produzir riquezas e acumulação concentrada de capital financeiro, apta a farejar e aproveitar as melhores oportunidades de ganho em todo o Planeta. A nova globalização dissemina a cultura e os costumes americanos pelo mundo, embora o que chegue primeiro nos países atrasados sejam os maus costumes e o que há de pior por lá, porque isso exerce maior atrativo sobre a população sem aspirações mais elevadas. Até recentemente, na era cristã, o mundo viveu a globalização religiosa. Agora tudo se acelera, não há mais espaço para dogmas, mas o ser humano baixou as antenas e nada mais quer captar do mundo espiritual. A religião preferida pelos seres humanos é a do dinheiro.

A nova globalização está mostrando um novo perfil das nações, da sociedade, das religiões, das empresas e da própria família, tudo assumindo novos contornos, tomando direções movidas pelo imediatismo e pela ausência de alvos mais elevados, o que se evidencia no aceleramento da decadência e degeneração geral que se transforma num verdadeiro “salve-se quem puder”, cercado de contínuo aumento da violência urbana. Não se pode, porém, afirmar que a culpa caiba exclusivamente à mídia, se bem que os autores e produtores captam antes, com a sua inspiração, o que está se formando no mundo da matéria fina em função dos maus desejos humanos, e multiplicam essas imagens tenebrosas. Já a multiplicação exponencial do que há de pior no ser humano acelera a eclosão das ocorrências maléficas no plano concreto da matéria. Assim estamos próximos do inferno criado e alimentado pelos próprios seres humanos.

A globalização também ocorre nessa esteira de objetivos imediatistas voltados para a ampliação e consolidação do poder e dominação, visto que não há confiança mútua entre povos e indivíduos, cada qual procurando se cercar daquilo que amplie o poderio próprio e enfraqueça o alheio. Assim a luta não apresenta trégua e não há tempo nem energias para um esforço contínuo em prol da melhoria geral.

Assim, ao lado da destruição ambiental, também as nações, a sociedade, as famílias, as religiões, tudo se transforma em escombros porque se assentaram em bases frágeis distanciadas das Leis da Criação, cujo reconhecimento e respeito promovem o aprimoramento em paz e harmonia.

Forças titânicas cooperaram na formação do Planeta acerca de cinco bilhões de anos para que os seres humanos dispusessem de tudo quanto necessitassem em sua vida terrena. Enumerar tudo isso é quase impossível, pois teríamos que abranger todos os ramos das ciências físicas, astronômicas, biológicas e muito mais que o conhecimento humano ainda não alcançou.

Enfim, o maravilhoso planeta dotado de tudo quanto os seres humanos necessitariam não foi uma obra de seis dias como descrito na Bíblia, repleta de interpretações induzidas pelos erros humanos.

À obra perfeita caberia ao ser humano evoluir e dar o toque de seu espírito puro voltado para a Luz, para que o mundo terreno formado pela vontade humana caminhasse par e passo com a perfeição e harmonia circunjacente.

Mas os humanos quedaram-se na indolência espiritual, dando espaço a aspirações mais rasteiras. A cobiça em geral, e em especial a cobiça do poder, trouxe para esta parte do mundo a grande desilusão que se reflete em todos os sentidos e em todos os níveis da vida, desde a mais abjeta miséria até a mais brutal violência. Vivemos num mundo onde a falsidade tomou conta de todos os relacionamentos entre pessoas e povos. Não há a mínima consideração pelo próximo. Tudo é resolvido pela lógica fria do poder e do dinheiro. Então não há o que estranhar, se nesse meio a desconfiança de tudo marca presença dominante, não dando sossego à inquieta alma humana.

Os seres humanos, notadamente no século 20, puseram de lado o senso de responsabilidade, interferindo arbitrarariamente em todos os mecanismos de defesa das condições de vida do planeta. Parece que somente tomarão de volta a razão quando atingirmos a condição de Terra arrasada, e para isso não falta muito, basta pensar no aquecimento global e suas catastróficas consequências, tais como: secas, enchentes, incontidas tormentas e o surgimento de pestes com a descontrolada proliferação de insetos. Será necessário que a casa caia para que tomem consciência de sua insensatez.

A humanidade, com sua maneira errada de viver, construiu enormes diques onde foi represando o seu ódio e revolta, que principia extravasar. O afastamento das Leis da Criação introduziram miséria e tristeza num mundo onde apenas paz e harmonia deveriam imperar.

A violência urbana aumenta nos países mais pobres onde a concentração humana, as precárias condições de vida, o despreparo, criaram um cenário propício às maiores atrocidades já cometidas com lamentáveis episódios da desarmonia existente.

Desde longa data os seres humanos se habituaram às solenidades festivas, apresentadas ao ar livre ou em templos especialmente construídos para atos devocionais e de agradecimento. Sons, cores, danças, tudo para demonstrar ao Criador Onipotente a gratidão e a alegria pelo dom da vida.

Mais tarde, com a intervenção intelectiva, as solenidades foram perdendo a sua pureza original, tendo algumas descambado para verdadeiras orgias e bacanais, onde se adoravam ídolos sob o efeito de drogas e beberagens. A decadência criou o pressentimento de um vazio interior que procurou no entretenimento a válvula de escape.

Muitos séculos se passaram até que chegássemos ao atual estágio, em que a busca por entretenimento propiciou o surgimento do teatro, do cinema e, mais recentemente, da televisão, cuja programação adentra livremente nas casas e residências, onde é avidamente consumida por crianças e adultos de ambos os sexos. As pessoas procuravam por entretenimento que lhes pusesse em movimento as asas da imaginação, do sonho e da fantasia. Vibravam com a nobreza, a justiça e a beleza. Hoje há uma certa frustração face a tendência de filmes cada vez mais brutais e sombrios, sugestionando negativamente.

Então poderíamos perguntar qual é a finalidade dos filmes e da televisão? Em sentido comercial, que prepondera no mundo contemporâneo, poderíamos dizer que a finalidade principal é o lucro dos investidores, e, prosseguindo nessa linha de raciocínio, chegarmos ao extremo de que vale tudo por dinheiro. Mas aquilo que representa lucro hoje poderá se tornar custo amanhã, pois é notório o elevado poder hipnótico dos filmes e da televisão, através de cenas previamente estruturadas para penetrar no mais recôndito da consciência humana de forma praticamente sublimar, interferindo nos humores da população de forma positiva ou negativa. Essa a grande ameaça para a sociedade. Nunca como agora estivemos diante de uma sociedade emocionalmente tão doente que com avidez capta o que há de pior.

Posto que as atuais condições de vida se complicam a cada dia, as pessoas necessitam de muita paciência e serenidade, porque a turbulência dos acontecimentos é muito forte e a irradiação dos seres humanos é muito pesada, e quando nos descuidamos, esses fatores externos pressionam a nossa alma introduzindo fluídos negativos prejudiciais, por isso mesmo é necessário muito esforço para manter a harmonia em nosso ambiente, porque as trevas semeiam a discórdia como meio de enfraquecer aqueles que lutam para alcançar a Luz da Verdade, arrastando-os para atitudes geradoras de mais sentimentos negativos de cobiça, ódio e violência, que se espalham pelo mundo disseminando caos e ruína.

Mas como chegamos a tal extremo de desolação?

É uma longa história que poucos até agora se dispuseram a estudá-la com sinceridade e seriedade. É a história da trajetória espiritual humana desde os seus primórdios, quando surgiram os primeiros seres humanos, até a chegada da época do amadurecimento e da colheita.

A religião deveria amparar-se no conhecimento das leis da Criação que expressam a Vontade de Deus. A palavra Vontade precisa ser entendida de forma muito mais ampla, porque, sendo a Vontade de Deus perfeita, as Leis que promovem o desenvolvimento dos mundos e a sua conservação são rigorosamente lógicas e imutáveis.

O estudo da história, a real, não a inventada e maquiada para atender interesses específicos, ainda nos encherá de vergonha, tais as artimanhas desenvolvida pelos seres humanos. Quando se trata de lutar pelo poder, se esquecem de tudo, passando por cima de tudo que se anteponha em seu caminho. Não vacilam em pisotear sobre as dádivas recebidas, principalmente sobre os ensinamentos que deveriam conduzir ao reconhecimento dos caminhos que deveriam ser trilhados, desviando bilhões de seres humanos da estrada simples e reta das leis da Criação.

A obediência a Deus nunca foi compreendida exatamente, nem no tempo de Jesus, nem depois. Não houve um esforço maior dos seres humanos para a compreensão do significado da Mensagem trazida por Jesus. Obedecer a Deus é respeitar a Sua Vontade que se inscreve nas leis da Criação. “Seja feita a Vossa Vontade”. Nisso reside a evolução e salvação da alma. Não através de uma existência submetida a regulamentos criados pelo intelecto humano, mas através da evolução do espírito obtida em vivência próprias na busca do reconhecimento da Vontade de Deus, isto é, das leis da Criação, o que deve ser vivenciado individualmente sem a necessidade de intermediários.

Conforme escreveu Abdruschin, na Mensagem do Graal, dissertação: Reconhecimento de Deus, 3º volume:

“Somente nas próprias Leis da Criação, outorgadas por Deus, pode o espírito humano chegar ao reconhecimento de Deus. E ele precisa impreterivelmente desse reconhecimento para a sua ascensão! Só nisso obterá aquele apoio, que lhe permite trilhar inabalavelmente o caminho prescrito e útil a ele para o aperfeiçoamento! Não diferentemente!”