A “TEORIA U” E A INTUIÇÃO
(31/01/2015)

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No Brasil e no mundo cresce a cada dia a sensação de que estamos diante de grave apagão mental. O que estamos gerando com isso? Temos dado ênfase a teorias nem sempre aplicáveis à realidade, em vez de buscar a sua adequada adaptação à prática. Urge dar ênfase ao preparo básico para a vida como meio de alcançarmos avanços que nos tirem do grande atraso em que nos encontramos.

O atual estado de crise geral tem como motor a insensibilização do ser humano que está perdendo a capacidade de ver claramente o presente e as tendências formadas pela nossa própria atuação que estão gerando o futuro. A acelerada e continuada circulação de informações iniciada com a televisão, e que evoluiu com as novas tecnologias de informação, está rompendo o equilíbrio que havia entre o ser humano aparente e o seu eu interior que está sendo sufocado, perdendo a capacidade intuitiva.

Com a perda da intuição, a vida fica vazia, sem sentido. A capacidade de sonhar se esvai. Sem visão clara o ser humano fica sem saber o que quer, perde a capacidade de definir propósitos concretos e nobres. Assim a crise vai surgindo. O contentamento e a serenidade deixam de surgir espontaneamente no inquieto raciocínio estimulado 24 horas ao dia. Esse tipo de ser humano vai gerando a crise, pois a vida perde a sua finalidade maior diante da sintonização voltada prioritariamente para os resultados financeiros e para a satisfação imediata. Assim, confusamente vão sendo geradas as tendências e o próprio futuro da humanidade.

Não basta ficar ouvindo o professor falando ou ficar lendo os livros indicados, isso não vai amenizar a crise. Para um bom preparo precisamos olhar para o real e aprender com ele, entender o que está se passando a nossa volta, movimentar o corpo e a mente, dando asas à intuição que ficou algemada aos esquemas de rígidas teorias. O que é mais real do que a natureza, suas belezas e sua lógica perfeita? Se quisermos formar cientistas inovadores e criativos, com os pés no chão, não nas fantasias teóricas, temos de olhar primeiro para a natureza, já na escola, sua lógica e sua beleza e aprender com elas. Olhar para o presente e perceber que espécie de futuro estamos gerando para nós mesmos. Promover a adaptação às leis naturais, em vez de provocar a destruição dos mecanismos automáticos da sustentabilidade e extinção das espécies.

Indiretamente, Otto Scharmer, economista norte-americano e professor no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) propõe isso em seu livro Teoria U. Trata-se de uma teoria inovadora que quer olhar o ser humano em suas múltiplas dimensões, na busca por uma tecnologia social de mudança transformadora, para ajudar os líderes a enfrentar os desafios decorrentes de um futuro cada vez mais complexo e imprevisível.

Scharmer reconhece duas fontes diferentes de aprendizagem: aprender com as experiências passadas, e 'aprender com o futuro tal como ele emerge', que significa, como o futuro se manifesta para nós. O 'Modelo U' propõe que sejam abertas as mentes, as emoções e a vontade para chegarmos aos momentos de descoberta e de compreensão mútua. Consideramos isso um importante passo para redespertar a intuição utilizando-a para uma visão abrangente da realidade, fazendo oposição à tendência alienante que paira sobre a humanidade atual, que não está enxergando quase nada do que está acontecendo.

Em entrevista para a imprensa, Otto Scharmer disse que "A crise global que estamos passando é consequência dos três principais desníveis da atual comunidade empresarial e da sociedade em geral. O primeiro é a questão ecológica, que se refere à relação entre nós mesmos e a natureza; o segundo desnível está relacionado à questão social e econômica, que nos separa do outro, o que pode ser exemplificado pela pobreza e desigualdade. E o terceiro desnível com o qual estamos lidando é entre a relação cultural e espiritual, entre o meu eu atual e o meu eu emergente. Ou seja, a separação entre o que faço no meu ambiente profissional e o meu propósito de vida. São esses tipos de desníveis que manifestam sintomas como exaustão, depressão e até suicídio. Nesse contexto, o que estou sugerindo é reinventar o conceito da sustentabilidade, levando em consideração essas três dimensões. Para mim, a criação de valor e reinvenção da economia para transformar instituições e sociedade em algo sustentável significam essencialmente aprender a conectar esses três níveis".

Não será utilizando apenas o raciocínio analítico que alcançaremos essa sustentabilidade; antes disso temos de colocar a intuição em movimento para que o cérebro e a intuição desenvolvam um trabalho conjunto de qualidade efetivamente humana.

Em resumo, a Teoria U, com foco nos negócios, "apresenta uma nova lente para olhar a liderança e a gestão, e também um tipo de metodologia que ajude a conectar indivíduos, empresas e toda a sociedade. Como lente, observa a liderança e as habilidades sociais de um ponto de vista profundo, que não só leva em conta o que fazem os líderes e como o fazem, mas que enfoca algo que não tinha sido contemplado pelos teóricos: o lugar de onde atuam e sua disposição interior." Sem dúvida, esse modelo poderá contribuir para movimentar a adormecida intuição, por exigir o esforço para a compreensão do que está ocorrendo efetivamente em consequência das nossas decisões, as quais deveriam estar visando a construção de um futuro melhor.