AS VEIAS ABERTAS E A ORIGEM DA DECADÊNCIA
(11/06/2014)

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Em 1971 foi lançado o livro “As veias abertas da América Latina”, de Eduardo Galeano, em que o autor denuncia a exploração das riquezas e da população por cinco séculos, desde a época do descobrimento pelos europeus até aquele ano, contagiando muitos jovens que sentiam intuitivamente que algo no mundo estava errado e, não sabendo exatamente o que, se deixavam influenciar pelas teorias propaladas. Mas a obra é parcial; embora apresente fatos incontestáveis, não explica a causa das misérias e sofrimentos no mundo.

Eu também achei esse livro interessante quando o li, devido à sua linguagem envolvente, quase mística, apontando os abusos na exploração das riquezas e da população da América Latina. Porém, com o foco socialista da obra, estava claro para mim que faltava algo para entender o mundo e suas misérias provocadas pelo homem. Mais tarde, quando conheci a obra “Na Luz da Verdade”, de Abdruschin, ficou claro que a raiz do mal está na conduta humana embrutecida, dissociada do sentido da vida.

Presente à Bienal do Livro em Brasília, Galeano insurgiu-se contra a sua própria obra; de forma exagerada, disse que se a relesse desmaiaria, e não sabe bem por que a escreveu. Agora ele reconhece que a realidade da vida é muito mais complexa e que a condição humana é diversa, declarando que não estava apto para interpretar essas questões. Galeano tinha centrado sua obra na questão da desigualdade econômica.

Algumas frases de sua obra mostram isso claramente:

“ Há dois lados na divisão internacional do trabalho: um, em que alguns países especializaram-se em ganhar, e outro, em que se especializaram em perder. Nossa comarca do mundo, que hoje chamamos de América Latina, foi precoce: especializou-se em perder desde os remotos tempos em que os europeus do Renascimento se abalançaram pelo mar e fincaram os dentes em sua garganta. Passaram os séculos, e a América Latina aperfeiçoou suas funções.

(…) Mas a região continua trabalhando como um serviçal. Continua existindo a serviço de necessidades alheias, como fonte e reserva de petróleo e ferro, cobre e carne, frutas e café, matérias-primas e alimentos, destinados aos países ricos que ganham, consumindo-os, muito mais do que a América Latina ganha produzindo-os.

(…) É a América Latina, a região das veias abertas. Desde o descobrimento até nossos dias, tudo se transformou em capital europeu ou, mais tarde, norte-americano.

(…) O modo de produção e a estrutura de classes de cada lugar têm sido sucessivamente determinados, de fora, por sua incorporação à engrenagem universal do capitalismo. A cadeia das dependências sucessivas torna-se infinita, tendo muitos mais de dois elos, e por certo também incluindo, dentro da América Latina, a opressão dos países pequenos por seus vizinhos maiores e, dentro das fronteiras de cada país, a exploração que as grandes cidades e os portos exercem sobre suas fontes internas de víveres e mão de obra. ”

Foram necessários milhões de anos de evolução para o surgimento do homem na face da Terra. E não se trata de um novo animal na escala evolutiva; é humano, mas precisa continuar evoluindo, caso contrário regride, embrutece e se transforma num monstro, pois a capacidade de livre resolução lhe é inerente e se trata de uma especial capacitação e tanto pode ser usada para destruir malevolamente, ou construir beneficamente, mas cada um não poderá omitir-se de sua responsabilidade; terá de arcar com as consequências.

Muitas vezes esquecemos o fato de que o ser humano recebeu o direito de existir no planeta Terra para evoluir conscientemente, mas teria de se movimentar, e não ser tratado como um desprotegido. No entanto, o sistema econômico precisa ter consideração e dar oportunidades para que as pessoas possam participar da mesa oferecida pela natureza. Quando alguns se colocam à frente, impedindo a participação, isso gera miséria e conflitos; dessa forma não pode haver paz nem progresso; a sobrevivência se torna uma luta onde os humanos se digladiam entre si com muita inveja e rancor. Com o seu desejo de poder e domínio, cada indivíduo se afastou de sua missão primordial, escravizando-se ao mundo material, e desumanizou a sua atuação.

A tarefa principal do ser humano deveria ser construir um mundo de paz e alegria, contribuindo para o embelezamento geral. Em vez de se dedicar a esse alvo, muitos se apegaram ao poder e às riquezas, fomentando lutas religiosas e lutas ideológicas, visando aumentar seu poder e sua esfera de dominação.