O HOMEM ARANHA E A EDUCAÇÃO
(25/05/2014)

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Outro dia fui ao cinema porque queria ver uma comédia para variar o astral contaminado por tantas mensagens pessimistas. Assim que saí do corredor e entrei na sala de projeções senti um forte calor e abafamento. Um funcionário informou que iria ligar o ar condicionado, mas nada aconteceu. Ao questioná-lo, ele finalmente admitiu que o ar condicionado estava com defeito e nada podia ser feito. Então pensei: vou ter de ficar assando aqui na sala, ou peço meu dinheiro de volta e vou embora?

Mas decidi acatar a sugestão do funcionário para assistir a outro filme - a Grande Vitória, uma produção brasileira que conta uma história de superação - que estava passando na sala ao lado. A questão é que o tal funcionário tinha se enganado e o outro filme era, na verdade, O Homem Aranha, que eu não tinha pensado em assistir devido às fantásticas criaturas, distantes da realidade, que o enredo apresenta.

No entanto, as cenas iniciais atraíram minha atenção e resolvi ficar. No fundo, o filme mostra que a energia é o grande trunfo desta era repleta de acontecimentos imprevistos e estressantes. Na ficção, Peter Parker é um jovem da geração atual, compenetrado e sensível, sobrecarregado com os dramas desta época. Quando exausto pelas dúvidas e desassossego, ele se desliga de tudo para se refugiar nas músicas do seu iPod. É uma pessoa de bom caráter que quer prestar ajuda onde se faça necessária, e se transforma no Homem Aranha para assumir essa missão.

Como a maioria dos jovens, Peter conhece pouco da história da humanidade e os problemas que nos afligem. Vive num mundo onde os ingênuos são explorados pelos maldosos que só pensam em dinheiro, poder e riquezas, mas o que ele tem de enfrentar são monstros – que não existem no mundo real - que buscam vingança porque o seu orgulho e vaidade foram atingidos.

Em muitos países a propaganda faz a cabeça. Para muitas pessoas ter um automóvel é mais importante do que a casa própria, em parte devido à vaidade de possuir esse bem e também pela falta de transporte público decente. Nos Estados Unidos e Europa foi alcançado um elevado padrão de vida. Com a limitação dos recursos do planeta, não dá para que esse padrão se estenda a todos os habitantes do planeta que soma mais de sete bilhões.

Com esse nível de população desatendida vivemos em permanente estado de descontentamento e emergência. Somos, portanto, uma bomba prestes a detonar. Deveríamos pensar como poderia e deveria ter sido, caso houvesse reconhecimento e respeito às leis naturais da Criação. Só o homem, com sua livre resolução, procria e vive sem atentar para a sua responsabilidade. As perspectivas não animam, mas temos de tentar preparar as novas gerações de forma humana.

Falta o querer uma vida de qualidade no longo prazo, mas o que prevalece sempre é o imediatismo, seja no plano dos indivíduos, como no dos governos e das empresas que visam primeiro o lucro. No caso dos automóveis, pagamos muito caro, o que resulta de elevada carga tributária e lucros significativos para as montadoras. O Brasil cresceu na base do “deixa como está para ver como fica”. A destruição dos rios que atravessam cidades como São Paulo, revela ignorância sobre a importância da própria vida. O mesmo se deu com as matas, as bacias hidrográficas, e a educação e preparo das novas gerações.

No Brasil e no mundo a sustentabilidade e a preservação das condições que asseguram a continuidade da vida estão descuidadas. Na natureza, tudo é simples e lógico, basta reconhecer e respeitar os mecanismos naturais; mas disso pouco se fala. Dinheiro é o que interessa e que nas mãos dos homens cria tanta confusão. São necessárias explicações de muitos especialistas das universidades e das publicações dirigidas para que se possa entender a complicação gerada pela cobiça e ganância na movimentação do mercado financeiro. A miséria aumenta, agravada pela alteração do clima e crise ambiental.

A desigualdade de direitos e deveres entre os humanos criou muitas animosidades. A moda agora é discutir a desigualdade e seus problemas, sem que se chegue a um entendimento. No mundo todo tem aumentado visivelmente o confronto entre empresários e burocratas que ficam medindo quem tem mais força numa luta altamente prejudicial. E a população fica no meio da briga dos poderosos aos quais só interessam os fins e por isso usam de todos meios, deixando as pessoas ao abandono, manipuladas e alienadas das reais finalidades das batalhas que travam.

Em nossos dias a escola precisa olhar para o passado, para as origens. Como se formou a Terra? Como funciona a natureza? Não podemos nos apartar da vida real; temos de encontrar as ciências na natureza e na vida, e nos adaptarmos, descobrindo a beleza existente para colher o melhor que o mundo nos oferece diariamente, sem agredi-lo.

Para sermos nós mesmos de fato e não sombras do que deveríamos ser, o importante na vida é não ficarmos parados, mas seguir nossos apelos íntimos que indicam os caminhos que devem ser percorridos para o engrandecimento da nossa individualidade, vivenciando o presente em sua plenitude, sem ficar preso ao passado, ou cismando sobre o futuro, ou descuidando do momento atual, para irmos ao encontro do nosso verdadeiro eu.

Os jovens deveriam seguir o exemplo de Gwen, a namorada do Homem Aranha, que apresenta lucidez e determinação em seus propósitos, qualidades em falta em nossos dias. Uma nova democracia precisa surgir, com bom entrosamento entre governantes e empreendedores visando a preservação e o embelezamento da Terra, para alcançarmos a melhora da qualidade humana por todos, com a participação de todos.