ÁLBUM DE FAMÍLIA: UMA REFLEXÃO SOBRE PAIS E FILHOS
(08/03/2014)

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O filme “Álbum de família”, que entrou em cartaz recentemente no país, chama a atenção por focalizar a vida como ela é, sem retoques, mas certamente com um pouco de exagero, embora fugindo daquele padrão do politicamente correto na medida em que desnuda as relações humanas, sem as costumeiras boas maneiras que encobrem as reais intenções, pondo a descoberto motivações egoísticas como fruto podre da cobiça. Belos cenários, imagens claras, sequências ágeis, e ótimo desempenho dos atores, dentre os quais se destacam Meryl Streep e Julia Roberts, transformam a trama em uma comédia dramática.

A estória começa quando Beverly, vivido pelo ator Sam Sheppard, um homem cansado das impertinências de sua mulher tirânica, Violet (Meryl Streep), desaparece de casa deixando apenas um bilhete. A primeira atitude da esposa é ir buscar o dinheiro que está guardado em um cofre de aluguel. As três filhas começam a chegar na casa situada em decadente povoado rural: Ivy (Julienne Nicholson), Karen (Juliette Lewis), que chega com o namorado, e a geniosa Bárbara (Julia Roberts), acompanhada pelo marido com o qual está brigada, e pela filha desobediente.

O time é completado pela irmã de Violet, com o marido e o filho grandão e tímido, chamado de Little Charles. Sentados à mesa em reunião para falar sobre o desaparecimento de Beverly, enquanto saboreiam os quitutes preparados por Johnna, a empregada índia, veem à tona as “roupas sujas”, dando vazão aos ímpetos embrutecidos de uma família que abusa das interferências na vida privada de cada membro do clã.

São cenas como essas que nos levam a refletir sobre o que são a famílias, e qual o papel dos pais. Muito se tem falado sobre isso, mas pouco tem sido compreendido. Na verdade, os filhos são hóspedes atraídos por seus pais para uma existência terrena, precisando de muitos cuidados para adquirir o crescimento e preparo para se tornarem responsáveis por si mesmos e viver a vida de forma independente na fase adulta. Mas o que os humanos fazem é se enlaçar, passando a ter uma vida coletiva, insana, até não se aguentarem mais, o que dá margem a agressões mútuas. Ao mesmo tempo, essas pessoas são incapazes de tomar uma atitude pessoal para viver a própria vida.

Com o errado conceito de família, Violet se intromete na vida de todos, sempre de forma amarga e sarcástica, para satisfazer a própria cobiça de ter influência e ser notada, justificando o descontrole de seu temperamento como consequência dos remédios aos quais se viciou.

Beverly, de outra parte, era um homem de bem que buscou lenitivo na bebida. Após ter as filhas criadas, como a grande maioria das pessoas, não percebeu que já tinha cumprido a sua missão de pai e que teria de cuidar de si, de sua evolução pessoal.

Sem ter descoberto o sentido da vida, Beverly, em sua rotina vazia, foi perdendo a motivação para viver. No filme ele foi o personagem mais ausente e ao mesmo tempo o modelo mais significativo. Como poderia continuar levando aquela vida horrível com os ataques alucinados da esposa? Isso o levou a tomar medidas extremas para se libertar, mas ao lá chegar, percebeu o grande erro que cometeu ao fugir, ao invés de ter enfrentado os problemas que o afligiam com coragem e boa vontade para, com isso, poder romper os fios que o aprisionavam a velhas ligações cármicas. Pena que ele não agiu dessa forma.

Sem dúvida trata-se de um belo filme que nos inspira a perceber que a vida é maravilhosa em qualquer idade, pois tudo foi organizado pelas leis da Criação para que alcançássemos a conscientização e a evolução espiritual e, com isso, a gratidão e a felicidade. Fora disso, todo o processo material é um estágio temporário, não é um fim em si mesmo, mas que deve ser atendido com todo desvelo e responsabilidade, pois é o meio para alcançarmos a finalidade real da vida.