BRASIL: UM GIGANTE AINDA ADORMECIDO
(23/08/2013)

imagem

O nosso problema é anterior à atual crise que apresenta consumo em expansão, produção em declínio e aumento de preços - numa palavra: desaceleração. Puxar o freio, cortar o combustível são fatores que desaceleram.

Após longo período de descontrole monetário no Brasil, a inflação foi contida. Mas de repente ela ameaça ressurgir. Afirma-se que o grande erro foi a política adotada de incentivar o consumo na esperança de que houvesse aumento da produção. Quando olhamos para os países desenvolvidos ficamos pensando como o Brasil, com tantos recursos, ficou tão atrasado. É verdade que tanto os Estados Unidos como o Canadá têm elevada dívida e problemas gerados pela crise financeira que afetou seus ganhos mais fáceis, mas devido às respectivas populações contarem com uma renda média elevada e bom nível de educação, conseguem manter um padrão de vida invejável. Ainda bem que a taxa de juros está no mínimo, senão a desgraça já estaria feita.

Havia uma euforia. Ela foi quebrada com a agressividade manifestada nos protestos das ruas. De repente percebeu-se que o mundo vive um momento de instabilidade geral e que o Brasil não está suficientemente fortalecido. Percebeu-se a extensão da corrupção. Veio a decepção e frustração. Receios e insegurança se tornaram conscientes. As pessoas e as empresas ficaram travadas. Adentramos numa fase em que todos se tornaram mais cautelosos.

O nosso problema é anterior à atual crise que apresenta consumo em expansão, produção em declínio e aumento de preços - numa palavra: desaceleração. Puxar o freio, cortar o combustível são fatores que desaceleram. Mas quando o mundo entra em crise, se ampliam as ofertas de produtos com preços de arrasar. A paridade cambial sempre tem oferecido pouca transparência. Fica uma discussão: se valoriza ou se desvaloriza. A esse respeito, disse o economista Luiz Carlos Bresser-Pereira, em artigo publicado no jornal Folha de São Paulo: “Os brasileiros aceitam a preferência pelo real forte, porque os agrada favorecer o consumo imediato, e porque não têm instrumentos para criticá-la. Já nossos competidores a saúdam, pois podem exportar mais para o Brasil e comprar empresas nacionais para financiar o déficit em conta corrente. Assim, ocupar o mercado interno do país e onerá-lo com remessas de lucros e pagamento de juros em troca do nosso consumo imediato”.

No passado, não havia a intenção de fazer um Brasil de qualidade. A sociedade não tinha preocupação com o futuro, nem se responsabilizava por ele. Três séculos de trabalho escravo voltado para o comércio exterior. Na República, pouco se fez pela inclusão e educação. Hoje temos mais de cinco milhões de crianças que não têm o nome do pai na certidão de nascimento. Dessa forma, como poderemos aproveitar as oportunidades para sair do atraso?

Possuímos várias escolas, mas nem sempre conseguimos preparar bons professores. Faltam médicos e engenheiros. Falta seriedade. Os negócios públicos e privados acham-se largamente contaminados pela corrupção que não raro elevam os gastos públicos de forma desordenada e com pouca eficácia em investimentos para o bem geral. Faltam-nos tantas coisas, como por exemplo, uma rede ferroviária adequada à circulação de mercadorias e pessoas. Isso seria bom, mas lá vamos nós embarcando num projeto de trem bala, sabidamente de alto custo e risco pela alta velocidade que se aplica. No Brasil, os protestos mais veementes foram contra os parlamentares, na suposição de que muitos deles não atuam em defesa dos interesses do país e de sua população.

Acresce-se a isso que o mundo adentra numa fase de grandes transformações. Os velhos remédios não surtem mais o efeito esperado, o que desorienta os especialistas e a população em geral. No mundo e no Brasil adentramos numa fase de inquietação quanto ao futuro. Indispensável que haja conscientização e serenidade, pois em épocas de crise há uma tendência para medidas radicais decorrentes do medo e do pânico, cujos efeitos podem ser o oposto do desejado. Faltam lucidez e muitas vezes coragem para fazer o que é certo. Nem mesmo o FMI e profundos conhecedores da economia, conseguiram até agora desenvolver um plano que traga o crescimento de volta a tantos países afundados em dívidas crescentes, e com a economia estagnada. Precisamos de um projeto que promova o aumento da qualidade humana para alcançarmos desenvolvimento econômico de qualidade, em paz. Como bem afirmou a jornalista russa Oksana Zhavornikina, durante um programa com correspondentes internacionais transmitido pela Globonews: “Sinto pena que os brasileiros dão pouca importância ao seu país. O Brasil é um país maravilhoso que ficou mais pertinho do Céu, de Deus. É um lugar que vale a pena conhecer porque tem uma alma, um espírito especial”.