REPÚBLICA DAS BANANAS
(24/03/2013)

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Todos sabem que a banana é uma fruta tropical muito saborosa. Rica em potássio e fibras, possui uma polpa macia e doce. Apresenta-se em cachos nas bananeiras. No entanto, o termo "república das bananas", cunhado por O. Henry (1862-1910), um dos maiores contistas americanos do século XIX, foi usado pejorativamente para classificar nações sem autonomia real, submissas a interesses externos, cujos líderes governamentais pouco se importavam com os interesses da população, dando prioridade ao enriquecimento próprio. O Brasil também se enquadrou nesse modelo. Sabe-se lá se ainda não se libertou desse depreciativo rol.

O fato é que, até o estabelecimento da República, em 1889, o país tinha a sua atividade econômica pautada no sistema escravocrata que enriqueceu traficantes de escravos e latifundiários. Durante esse período, não houve planejamento para o futuro, pois o Brasil era fornecedor de produtos básicos e essenciais, de baixo valor agregado. Mesmo após a proclamação da República, o governo e a elite pouco fizeram para promover o desenvolvimento do país e de sua população.

O mais dramático se deu no campo da saúde e da educação. Com uma alimentação deficiente e assistência médica reduzida, nosso povo não se tornou forte e pleno. Também foram diminuídas as oportunidades de aprimoramento humano, mental e de trabalho condignamente remunerado. Basta lembrar que na época do Império não havia escola básica. Em consequência, tivemos que conviver, durante muito tempo, com produtos mais caros, com qualidade inferior e atrasados tecnologicamente.

Precisamos compreender que a presença humana no planeta deveria promover a melhoria das condições de vida, não o contrário. A população sempre oferece talentos para serem desenvolvidos e que devem ser transformados em capacitações. Énecessário auxiliar os jovens a saber como lidar com as situações adversas da vida, para superá-las com confiança. Se todos estiverem empenhados na busca da melhoria, ela surgirá naturalmente, beneficiando a todos.

Com o incremento da economia monetária e ampliação do crédito, surgiram novas oportunidades de enriquecimento e acumulação de capital. Mas, devido ao despreparo espiritual, isso acabou virando uma barbárie como tudo o mais em que os humanos cobiçosos se envolveram.

Muitos sofrimentos atingiram a população e muitas lágrimas foram derramadas por conta do enriquecimento, até que adentramos numa época mais civilizada, isso após muitas crises e guerras. Mas o volume da concentração financeira superou em muitas vezes a riqueza concreta.

Após o ano de 2008, enfrentamos nova fase de crises financeiras. O receio da insolvência nos colocou à beira do abismo. A diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, em discurso no Fórum Econômico Mundial 2013, em Davos, na Suíça, disse que precisamos hoje de um "momento novo na história", que engloba valores de uma nova era, com mais inclusão e solidariedade entre as nações e entre as pessoas, e maior responsabilidade dos dirigentes da economia global.

De fato, necessitamos de um novo momento, uma nova era forjada pelo ser humano humanizado. Para alcançar um melhor futuro, temos de impedir que as novas gerações sejam conduzidas para uma existência mecânica: comer, beber, trabalhar, muito sexo na cabeça (acima da naturalidade), se divertir, consumir. Manter a visão de conjunto, o bom senso, e a percepção dos riscos.

Somos mais do que essa vidinha que nos afasta de nossa essência e das questões vitais. Temos de conduzir as novas gerações para uma nova visão da vida e de seu sentido. Indagar sobre as grandes questões é nossa tarefa. Sem que haja a preocupação com a construção da vida civilizada, não há governo. Para bem governar, os líderes devem promover a formação de cidadãos ativos e conscientes. Uma sociedade que deixa de se indagar sobre as grandes questões da vida está fadada ao retrocesso e fatalmente se transforma numa "república das bananas", a serviço dos mais astutos, que não se incomodam em levar vantagens a custo da estagnação de outros.