ARGO – O EMBATE ENTRE INTUITIVOS E SISTEMÁTICOS
(23/12/2012)

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Inicialmente o filme Argo dirigido e interpretado por Bem Afleck, apresenta um resumo histórico sobre a situação do Irã no século XX. A chegada ao poder do aiatolá Khomeini em 1979 mobilizou a população. Como o antigo xá ganhou asilo político nos Estados Unidos, que haviam apoiado seu governo de opressão ao povo iraniano, a multidão saiu às ruas para protestar contra os americanos. Uma multidão enfurecida concentrada diante dos portões da embaixada do país.

Em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, o Reino Unido e a União Soviética invadiram o Irã, de modo a assegurar para si próprios os recursos petrolíferos iranianos. Os Aliados forçaram o xá a abdicar em favor de seu filho, Mohammad Reza Pahlavi, em quem enxergavam um governante que lhes seria mais favorável. Em 1953, após a nacionalização da Anglo-Iranian Oil Company, um conflito entre o xá e o primeiro ministro Mohammed Mossadegh levou à deposição e prisão deste último, que havia sido eleito democraticamente como primeiro ministro do Irã. Mossadegh introduziu reformas políticas e sociais, tendo nacionalizado a indústria do petróleo.

O reinado do xá tornou-se progressivamente ditatorial, especialmente no final dos anos 1970. Com apoio americano e britânico, Reza Pahlavi insistia em esmagar a oposição do clero xiita e dos defensores da democracia. Ao fugir para os Estados Unidos, doente, submetendo-se à quimioterapia, abarrotou o avião com barras de ouro, dificultando a partida. A história humana tem revelado a mania de grandeza de muitos líderes absolutistas, que deveriam ter promovido a evolução do povo, mas cuidaram apenas de si mesmos e do acúmulo de riqueza. Em 1979, Islamitas, comunistas e liberais promoveram a Revolução Iraniana, que provocou a fuga do xá e a colocação do Aiatolá Ruhollah Khomeini como chefe máximo do país.

Revoltados com a proteção e asilo dada pelos Estados Unidos ao xá, a embaixada americana foi invadida e os seus ocupantes feitos prisioneiros por longo período. É assustador o comportamento da massa enfurecida pelo ódio. Seis diplomatas haviam se refugiado no consulado do Canadá. O filme narra com muita empolgação a libertação dessa meia dúzia, Não há efeitos barulhentos nem mágicas, apenas o esforço de libertação dos diplomatas, desenvolvido com eficiência e lucidez, e a grande torcida da plateia.

Ben Afleck encarna o herói salvador que, num lampejo intuitivo, vislumbra uma forma de como poderia retirar os seis diplomatas numa “boa”, apesar dos riscos. Inicialmente teve de se defrontar com os “sistemáticos” que, embora não tivessem nenhuma ideia melhor, relutavam em aceitar a proposta de organizar um filme fictício para que ele pudesse entrar no Irã como turista a trabalho. Com precisão foi planejando cada etapa da operação para criar um cenário real dentro da hipótese de um filme fictício. Assim fez, preparou tudo e ensaiou os atores, os refugiados. Quando tudo estava caminhando bem, os sistemáticos atacaram de novo, com orgulho ferido, taxando o projeto de inconsequente. O escritor italiano Francesco Alberone descreve bem o embate que os sistemáticos travam com os intuitivos. Veja em vidaeaprendizado.com.br.

O público anda farto de filmes sem sentido que se sustentam em efeitos especiais para encobrir a falta de conteúdo. Skyfall, novo filme de James Bond, é bom exemplo de uma narrativa bem conduzida, mas que ao final parece ter ficado sem argumentos e a diretora M levou a pior. Bem Afleck, ao contrário, nos oferece um raro filme de qualidade que não abusa da inteligência do público. “Se você tem um roteiro realmente bom, apoiado na realidade, e você dispõe de bons atores que interpretam de modo crível, então eu acho que o público se entrega de um modo momento a momento. Eu estava confiante de que, apesar de muitas pessoas saberem o final, o público não passaria o tempo todo pensando “eu sei que eles sobreviverão, porque ninguém faria um filme sobre seis pessoas mortas a tiros na pista de decolagem”, disse Afleck.