ESTABILIDADE E CAOS
(24/11/2012)

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No Brasil, ainda estamos atrasados por vários fatores, mas o básico tem sido a falta de uma vontade perseverante na construção de um país equilibrado, que ofereça oportunidades lucrativas para o trabalho sério e bem feito. Tem prevalecido a ânsia por ganhos fáceis e o desejo de levar vantagens sem esforço. Parece que fomos sabotados e nossos governantes deixaram de cumprir o que era esperado deles ao não promoverem o desenvolvimento das capacitações humanas da população, elevando a sua qualidade. Estamos enfrentando custos crescentes, lento progresso na educação e despreparo das novas gerações.

Ademais, o próprio governo se perdeu em disputas sem coordenar um esforço para o continuado fortalecimento das bases de produção que permaneceram estagnadas desde a sua origem, sem que houvesse maior empenho para reduzir custos e oferecer melhor qualidade. Temos problemas na infraestrutura. Privilegiamos o transporte rodoviário sucateando as poucas ferrovias existentes ao invés de ampliá-las. A distribuição e custo da energia chegam a ser vergonhosas. A telefonia, cara e deficiente; burocracia, paralisante; regulamentação tributária e alíquotas, desanimadoras. Juros, nem se fala. Enfim, o mercado brasileiro tem sido o paraíso para empresários que visam o lucro fácil.

O vigor da classe empreendedora está se exaurindo, e nunca tivemos uma condição tão precária como agora no preparo das novas gerações para a vida e o trabalho. Com a crise internacional os empregos se reduzem, o consumo diminui, os preços caem, a competição aumenta. Urge que se faça um esforço integrado de revitalização industrial, com sustentabilidade, qualidade, eficiência e aumento da produtividade. O governo não pode mais adiar a simplificação burocrática e a adequação tributária aos padrões internacionais. No entanto, isso deve ser feito com contrapartidas que as atividades, além do lucro, agreguem melhoras nas condições gerais. Precisam ser definidas regras que deem condições para os pequenos sobreviverem sem serem engolidos pelos gigantes globais.

As empresas devem assumir a sua parte na formação e bom preparo da mão de obra, incluindo também as crianças, os filhos de seus colaboradores, contribuindo com a implantação de creches que ofereçam às crianças boa educação, hábitos alimentares sadios, contato com a natureza, permitindo que sejam crianças, fortalecendo nelas o desejo de serem úteis e a importância do equilíbrio entre o dar e o receber.

Um outro aspecto importante é a participação dos colaboradores nos resultados através de programas de aumento de produtividade, que fortaleçam a motivação e melhorem os resultados, o sentimento de pertencimento e o desejo de busca continuada de progresso que deve se refletir no respeito ao consumidor através da qualidade dos produtos oferecidos. A economia que vem se consolidando desde a Revolução Industrial se encontra numa fase de ruptura, pois foram alcançados níveis extraordinários na capacidade global de produção, porém de forma desarmônica.

Hoje vivemos a euforia da primazia do mercado financeiro no comando da economia impulsionada pelo aumento do fluxo de bens, capitais e serviços, mas quando as coisas não dão certo, surgem as crises, o Estado é chamado para assumir a responsabilidade perante a opinião pública e tentar repor as coisas no lugar à custa de muitos sofrimentos. Sem equilíbrio entre a produção, a geração de matérias primas, o bom preparo da mão de obra, e a distribuição de renda que possibilite a adequação do consumo a uma média aceitável, o sistema vai perdendo a estabilidade. Os desequilíbrios mostram a sua cara. Há um enorme volume de liquidez, no entanto ninguém sabe exatamente o que fazer. A especulação torna o futuro imprevisível, impedindo o surgimento de planos duradouros.

Os recursos naturais chegam ao limite enquanto a população continua aumentando. O PIB mundial está encolhendo, mas os desequilíbrios permanecem, pois o sistema tem sido pensado para gerar ganhos.

O sistema tende para o colapso. Sem o adequado preparo para um viver equilibrado visando acima de tudo o desenvolvimento e maturidade espiritual, tudo o mais se torna um paliativo na direção do caos. Precisamos de um sistema que além de visar o lucro, seja ético no sentido de atender as necessidades com eficiência e paz social entre os indivíduos e os povos, indicando caminhos que vão além do atendimento das necessidades materiais, propondo o desenvolvimento integral dos seres humanos.