QUERER INTERIOR
(06/04/2011)

Os humanos não devem causar sofrimento algum a outrem, a fim de satisfazer a própria cobiça

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A cada dia fica mais difícil as pessoas se entenderem. Há muita tensão e desejos reprimidos atrapalhando. Num passado não muito distante as pessoas conversavam com mais sinceridade e conseguiam compreensão mútua. Conversavam de alma para alma, coisa muito difícil atualmente. Devido ao individualismo e às dissimulações, as pessoas não mais expõem o seu querer interior e as conversas tendem para a superficialidade.

Em muitas situações ficamos pensando que, se as pessoas soubessem do que realmente se trata e analisassem as ocorrências com maior desprendimento, então certamente agiriam com a bondade do coração. Porém, o caminho para o coração das pessoas está interceptado e não conseguimos acessá-lo nem com a maior boa vontade. As impressões externas e as palavras ficam retidas no cérebro sem adentrarem para a alma, que poderia responder com atitudes humanas. Com isso, a ação da alma fica bloqueada, pois domina a vontade cerebral e o que estiver por detrás dela, manipulando-a.

O coração tem a capacidade de perceber o que é certo ou errado, e agir com bondade e justiça, doando onde achar necessário e se protegendo onde perceber as más intenções. Diante de tantas maldades, que aumentam a cada dia, as pessoas se fecharam sem perceber que, com isso, estão mesmo é perdendo a sua essência humana.

Nessa situação não há mais um sadio intercâmbio entre as pessoas, cuja maioria das conversas tende a ser supérflua e destituída de valor. Cada um para si, preservando sua área de influência de conformidade com as regras da atual desesperada luta pela sobrevivência e autoafirmação. Com ceticismo, cada interlocutor acha que o outro está encobrindo algo ou não está falando a verdade. Vale tudo: mentir, enganar, trair, pois o coração está algemado, impossibilitado de ditar o certo. Com facilidade os defeitos são apontados, raramente elogiam-se as qualidades. Metas e sucessos não são compartilhados, só os problemas e dificuldades.

Os humanos que agem sem ouvir o coração não entendem aqueles que se esforçam para ouvi-lo, considerando-os astutos, e não raramente hostilizando-os. No mundo de hoje é muito difícil encontrar amigos verdadeiros que agem com o coração, pois não há confiança. Estamos rodeados de inimigos e falsos amigos, cujas ações nefastas só vamos perceber tardiamente.

Aqueles que mantêm o domínio e o controle, com frequência disseminam medo para afastar o medo de perder influência e poder. Há dois mil anos, a humanidade teve uma oportunidade especial para mudar de rumo. No entanto, a situação mundial tem piorado muito. Estamos com atraso de dois mil anos e, espiritualmente falando, ainda mais decadentes. Com 6,6 bilhões de habitantes num planeta ameaçado pelas alterações climáticas e catástrofes naturais, num sistema econômico e financeiro que se equilibra na corda bamba, propiciando todo tipo de corrupção, a situação mundial se agrava pela permanente ameaça de guerra global.

Uma nova forma de viver precisa ser posta em prática para que a civilização humana não se transforme numa impiedosa e sangrenta arena. Só quando os humanos reconhecerem que não devem fazer ao próximo o que não fariam a si mesmos, nem causar sofrimento algum a outrem, a fim de satisfazer a própria cobiça, buscando um querer mais solidário e cooperativo, então poderemos acreditar na possibilidade do surgimento de uma nova civilização pacífica e laboriosa que já deveria ter surgido há dois mil anos.