PONDERAÇÕES SOBRE A EDIÇÃO DA MENSAGEM DO GRAAL, DE ABDRUSCHIN
(18/03/2010)

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“Onde está a força entusiasmadora e arrebatadora, criada pela grande vontade de um atuar uniforme?... Onde está a chama do pensamento homogêneo, capaz de elevar-se até os degraus do trono de Deus?! Ela está dilacerada, desagregada, partida, flamejando apenas fugidiamente, aqui e acolá, como uma chamazinha isolada, quando vez por outra sois sacudidos mais fortemente pelos guias, que não querem deixar-vos adormecer totalmente na vida cotidiana. Combatei-vos, mutuamente, com as armas recebidas espiritualmente, obscurecendo assim a espada espiritual que cada um de vós porta espiritualmente, e que só deve brilhar fulgurantemente em honra de Deus, vosso Senhor”!

(Abdruschin, Palavras de Advertência)

É sempre admirável observar pessoas se movimentando, buscando compreensão e formas de divulgação da Palavra. No entanto, a polêmica criada em torno das edições da Mensagem do Graal, (1931 e 1949/50) decorre da incompreensão daquele trágico momento da humanidade e é pura perda do precioso tempo de que dispomos. A essência de ambas é a mesma.

Diante dos graves acontecimentos que colocaram a pessoa do autor e sua obra sob suspeita, se impunha a introdução de ajustes para a edição de uma obra de caráter permanente, destinada aos seres humanos daquela época e do futuro, mormente no tocante à pessoa do autor e sua missão e aos elevados projetos que se tornaram irrealizáveis face à indolência espiritual da humanidade. Abdruschin sabia exatamente o que estava fazendo e porquê.

Em 1938 Abdruschin foi preso pelo regime nazista sob a acusação de "colocar em perigo, pelo seu comportamento, a existência e a segurança do povo e do Estado". Na prisão, ele emitiu uma declaração extinguindo as atividades do Movimento do Graal, e, posteriormente, fez outra declaração complementar dizendo, entre outras coisas, o seguinte: "Essas minhas palavras não são passíveis da menor modificação”. Isto é, ele não as modificaria, deixaria tudo como havia escrito no tocante aos dogmas e críticas ao falhar das religiões que até então estruturavam suas doutrinas conforme suas conveniências. As trevas tinham como objetivo desacreditar o autor e anular a sua obra.

O que se depreende é que houve um momento de grande perigo e luta espiritual para a preservação da obra escrita, e ela teria que ser preservada acima de tudo o mais, pois os convocados haviam falhado impossibilitando o cumprimento de tudo o que deveria ter sido realizado. (Ver dissertação O Estranho).

Face à decadência espiritual da humanidade nada foi como poderia e deveria ter sido. Ao fazer as escolhas que fez, a humanidade perdeu a oportunidade de resgatar e se libertar dos erros, permanecendo sintonizada erradamente, e dessa forma se manteve na tendência de preparar um futuro cada vez mais funesto para si.

A despeito de que tudo o mais ficara prejudicado, impunha-se proteger a Palavra para que permanecesse incólume diante dos poderosos interesses egocêntricos de influência e domínio sobre a humanidade, os quais se sentiram ameaçados diante da simplicidade e naturalidade da Luz da Verdade.

Os poderosos não queriam ser contrariados em seus conceitos falsos e indolentes; ignoraram a Mensagem, jamais a mencionaram, e raramente ela foi utilizada como referência bibliográfica, embora seu conteúdo abrangente desvende a Criação e suas Leis de forma lógica e coerente, sem visar criar uma nova religião, mas tão somente auxiliar os seres humanos em meio ao caos criado por eles mesmos. Apesar de todos os ataques a Mensagem do Graal permaneceu intacta em seu conteúdo, possibilitando a todos aqueles que procuram, o encontro com a Luz da Verdade, seja numa ou noutra edição, pois ambas procedem da mesma origem.

Benedito Ismael Camargo Dutra.

Segue-se trecho da dissertação O Estranho, Mensagem do Graal, vol. 1:

“Cada vez mais opressoramente a miséria caía sobre a Terra. Cada vez mais nitidamente se mostrava a inconsistência das estruturações falsas de toda a atividade humana de até agora. Cada vez mais evidente a prova de sua incapacidade. Em meio à confusão crescente, tudo começou pouco a pouco a vacilar, exceto uma coisa: a presunção humana a respeito de sua própria pretensa capacidade.

Justamente essa se desenvolvia com mais pujança do que nunca, o que aliás era natural, uma vez que a presunção sempre necessita do solo da estreiteza. O aumento da estreiteza tem de acarretar também um forte vicejar da presunção.

A ânsia de projeção cresceu numa convulsão febril. Quanto menos tinha o ser humano para dar e quanto mais nele a alma angustiada apelava pela libertação, pressentindo claramente o afundamento, tanto mais importunamente tratava de agarrar-se nas futilidades terrenas exteriores, nas distinções humanas, numa falsa necessidade de equilíbrio. Mesmo que, enfim, os seres humanos sentissem freqüentemente, em horas silenciosas, qualquer dúvida dentro de si, tratavam logo alvoroçadamente de no mínimo ainda serem considerados como conhecedores. A qualquer preço!

Assim resvalava velozmente para baixo. No reconhecimento do desmoronamento vindouro, causador de medo, cada qual, por fim, procurava entorpecer-se conforme sua maneira, deixando prosseguir o inaudito. Cada um fechava os olhos diante da responsabilidade ameaçadora.

‘Sábios’ seres humanos anunciavam, entretanto, a hora da vinda de um poderoso salvador da calamidade. A maioria desses sábios queriam, contudo, reconhecer a si próprios como esse salvador, ou, quando havia neles um pouco de modéstia, queriam encontrá-lo pelo menos em seu círculo.

‘Devotos’ oravam a Deus, rogando que os livrasse da confusão. Mas evidenciava-se que esses homúnculos terrenos já procuravam entremear intimamente em seus rogos, na expectativa do atendimento, determinadas condições a Deus, desejando ter esse salvador exatamente de acordo com as suas idéias. Tão longe alcançam os frutos da estreiteza terrena! Os seres humanos chegam a acreditar que um emissário de Deus precise se enfeitar com futilidades terrestres! Esperam que ele tenha necessidade de se orientar por suas restritas concepções terrenas, a fim de ser reconhecido por eles, e dessa forma conquistar sua fé e sua confiança. Que presunção inaudita, que pretensão já se manifesta unicamente nesse fato! Apresunção será terrivelmente fulminada na hora da realização, juntamente com todos aqueles que se entregaram a tal ilusão em seus espíritos! —

E eis que o Senhor chamou o Seu servo que andava pela Terra como Estranho, para que falasse, para que transmitisse a Mensagem a quantos se mostrassem sedentos!

E vede, o saber dos ‘sábios’ era falso, e as orações dos devotos não eram sinceras, pois não se abriam à voz que vinha da Verdade e que, por isso, só podia ser reconhecida onde a gota da Verdade não tivesse sido soterrada no ser humano pelos erros terrenos, pelo poder do raciocínio e todas as demais coisas que são propícias a desviar o espírito humano do verdadeiro caminho, levando-o à queda.

Essa voz só poderia achar eco onde o pedido partisse duma alma verdadeiramente humilde e sincera.

O chamado se fez ouvir. Onde chegava, ocasionava inquietações e separações. Mas nos pontos onde era aguardado sinceramente, produzia paz e felicidade.

As trevas entraram em movimentação inquieta e se condensavam ainda mais espessas, pesadas e escuras ao redor da Terra. Manifestavam-se já aqui e acolá, agredindo hostilmente, cheias de ódio, nas fileiras daqueles que queriam atender o chamado. Cada vez mais estreitamente rodeavam aqueles convocados que por seu falhar tinham de afundar na escuridão, à qual voluntariamente haviam estendido a mão. Seus juramentos anteriores os prendiam espiritualmente de modo firme ao enviado, atraindo-os na hora da realização próxima, ao passo que seus erros os impediam e os repeliam até, impossibilitando assim qualquer ligação com a Luz.

Dessa contingência, por sua vez, somente podia surgir uma ponte para o ódio, para o ódio maciço das trevas contra a Luz. E assim eles tornavam mais árduo o caminho de sofrimento do enviado da Luz até ao Gólgota, para cujo agravamento concorreu de bom grado a maior parte da humanidade, principalmente os que presumiam já conhecer e trilhar o caminho da Luz, como outrora os escribas e os fariseus.

Tudo isso criou uma situação na qual a humanidade pôde demonstrar mais uma vez que ela hoje repetiria a mesma coisa que perpetrou outrora contra o Filho de Deus. Só que desta vez numa forma mais moderna, a crucificação simbólica mediante tentativa de morte moral que, segundo as leis de Deus, não é menos criminosa do que o assassínio corporal.

Era o cumprimento, depois da última possibilidade de graça, levianamente perdida. Traidores, falsas testemunhas e caluniadores vieram das fileiras dos convocados. Os vermes das trevas em número cada vez maior ousavam aproximar-se, por se julgarem seguros, porque o Estranho na Terra, no cumprimento de sua missão, ficou calado em face da sordidez, como lhe fora ordenado, como outrora também o Filho de Deus não fez de outra maneira diante da multidão vociferante, que queria tê-lo pregado à cruz como criminoso.

Todavia, quando os renegados perjuros já se consideravam vencedores em seu ódio cego, quando as trevas novamente consideravam anulada a obra da Luz, porque esperavam ter desacreditado terrenamente por completo o portador dessa obra, aí Deus revelou Sua vontade com onipotência! Eentão... tremendo, caíram de joelhos também os escarnecedores, mas... era tarde demais para eles!”