ÉTICA ESPIRITUALISTA HUMANA
(02/06/2006)

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Diz-se que a ética é o estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana susceptível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal. Porém, para examinarmos a ética humana deveremos ir mais fundo, até às origens da vida, não ficando apenas na superfície, pois as categorias do bem e do mal se acham comprometidas por diferentes conceituações, variando de sociedade para sociedade, e no tempo também. Então, que ética poderá surgir sem que haja um denominador comum, aceitável de forma irrestrita por todos os seres humanos?

No passado longínquo a humanidade recebeu os Dez Mandamentos para que não se desviasse em sua conduta, tanto na vida espiritual como material. Mas os humanos não reconheceram o significado e a importância das recomendações procedentes do Alto para que pautasse a sua vida dentro de uma ética, não apenas para atender aos relacionamentos terrenos, mas com alcance espiritual, com efeitos al ém da matéria visível e palpável.

Segundo o filósofo espiritualista Abdruschin, no livro Os Dez Mandamentos, os seres humanos não demonstraram estar interessados nas exigências feitas pelo Criador. O Criador, porém, não exige nada de ninguém, mas dá com Amor a todos os seres humanos o que urgentemente necessitam. Pois já fora observado pela Luz como os seres humanos se transviaram. Por isso, Deus, qual cuidadoso educador, indicou-lhes o caminho que os conduzirá a existência eterna no reino luminoso do espírito, portanto, à sua felicidade. Ao passo que a inobservância terá que conduzir desgraça e aniquilamento para as criaturas humanas.

No entanto, a invés de buscar a compreensão do propósito da vida, quem somos nós, de onde viemos, para onde vamos, a civilização ocidental estagnou espiritualmente, disseminando uma ética dogmática, fazendo um corte com o passado, abandonando as raízes do saber legado pelos profetas antigos e o saber sobre os enteais, classificando-o como paganismo, sem verificar o que havia de verdadeiro nisso.

Os Dez Mandamentos, submetidos a uma nova interpretação, se transformaram apenas em mais uma tarefa escolar que as crianças abandonavam ao se tornarem adultos, sem uma transferência para a vida diária. Assim, a vida material se foi descolando da vida espiritual como se fossem dois compartimentos independentes. Com a habilidade do raciocínio a vida material foi resvalando para uma conduta insensível que possibilitou a implantação da lei do mais forte, do mais astuto. Todos os setores da vida humana ficaram contaminados com essa praga. Aos poucos a permissividade foi sendo aceita como normal.

Os seres humanos se sentiram donos do Planeta, quando na verdade são apenas criaturas. Sem uma ética na utilização dos recursos naturais, as condições de vida ficaram ameaçadas. As condições ambientais tendem para um agravamento, sendo provável que os humanos passem a brigar por alimentos, água potável ou energia. A solidariedade poderá ser substituída por desenfreada luta pela sobrevivência, prevalecendo a lei do mais forte ou mais bem armado.

Os poderosos falavam em ética, mas ocultamente praticavam a corrupção e o desmando, acobertados por falsos discursos de humanismo. Mas agora tudo vem à luz. Após os sofrimentos da Segunda Guerra Mundial havia uma esperança de que as coisas estivessem sob controle, que a sociedade humana estivesse se encaminhando para um patamar mais elevado, tanto nas condições de vida como no aprimoramento pessoal. Mas não havia o verdadeiro desejo de que a vida humana se orientasse sempre para o beneficiamento geral e embelezamento do ambiente terreno, em complementação às belezas proporcionadas pela natureza. Então surgiu a ética do dinheiro que se sobrepõe a tudo na vida como o grande fetiche idolatrado pela humanidade, acima de tudo o mais.

Evidentemente todos deveriam desejar um comportamento ético, mas na atualidade a população vê a desenfreada ação dos especuladores sem nada que os detenha. Vê as empresas buscando prioritariamente o máximo lucro. Vê os políticos tirando o máximo proveito. Não vê um interesse maior na criação de condições que propiciem o desenvolvimento humano integral. Desiludido, o homem de bem se afasta da política. Os malandros se aproveitam. O mundo afunda. Falar em ética fica como que um diálogo de surdos.

O mundo vive uma crise decorrente da ausência de uma ética que vise o beneficiamento da vida em conformidade com os padrões estabelecidos pelas leis da natureza. Sem a busca dos princípios espirituais o ser humano se afasta de sua essência e se transforma em máquina insensível, dominada pelo raciocínio calculista que tudo permite, e todos os mecanismos de controle, ao surgirem, já trazem a válvula de escape para ser usada pelos dominadores. Nada mais é sagrado. Os abusos no emprego da palavra humana se tornaram norma. A mentira e a simulação se tornaram as armas dos poderosos.

Uma teoria mais recente diz que ética somente se faz com punição aos desvios. É evidente que aqueles que praticam atos malévolos de forma consciente e continuada, não deveriam ter permissão para o convívio na sociedade humana, pois provocam apenas sofrimentos e ruína. Mas tal ética fundamentada na exigência de punição, atesta a decadência do ser humano em sua indolência espiritual acorrentada ao raciocínio. Pois, se tivesse alcançado a real evolução, teria adquirido a compreensão de que lhe é permitido desfrutar de tudo o que a natureza propicia, desde que não provoque sofrimentos a outrem para satisfazer as suas cobiças.

Assim, a miséria e o sofrimento tomaram conta do Planeta. Miséria espiritual que tinha que acarretar miséria material sem precedentes, como resultado da atuação humana em desacordo com as leis da Criação. As novas gerações surgem fracas de alma e corpo, resvalando para o vício e a delinqüência. Por mais que se construam presídios, eles se mostram insuficientes para abrigar a população carcerária, sem oferecer condições de recuperação aos detentos.

O surgimento de uma verdadeira ética exige que a humanidade se volte para a sua essência espiritual, reconhecendo o significado da vida e o funcionamento das leis naturais da Criação. Somente assim poderá surgir o genuíno ser humano, que atua beneficamente, de forma agradável ao Todo Poderoso Criador que lhe concedeu o dom da vida!