PROBLEMAS AMBIENTAIS E HUMANOS
(05/11/2003)

A natureza, em sua perfeição, sempre teve a capacidade de se auto-regenerar, mas isso tem as suas limitações, e quando o estrago é maior do que essa capacidade, o declínio humano é inevitável. E isso tem ocorrido em muitas civilizações que não quiseram e não souberam se adaptar ao ritmo das leis automáticas da natureza. Assim, os problemas ambientais geralmente demoram um pouco para se tornarem nitidamente visíveis em suas conseqüências, quando a recuperação se apresenta muito difícil, quase impossível.

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Em Entrevista para a FSP Mais!
(19/10/03)

O bio-geografo Jared Damond, referindo-se ao futuro do planeta, disse "não achar que as coisas sejam sem esperança. Acho que temos grandes problemas e temos que enfrentá-los. Se não os resolvermos, vamos estar numa grande encrenca. Além disso, os riscos que enfrentamos hoje, os grandes riscos, são todos riscos que nós mesmos criamos e, portanto, podemos contorná-los. Então, por exemplo, no Brasil está completamente dentro da capacidade de vocês parar com o desmatamento da Amazônia. A escolha é de vocês".

Lamentavelmente, o problema do Brasil não está apenas no desmatamento da Amazônia. O país inteiro tem sido sacudido por esse trator de ignorância que não pode ver áreas verdes destruindo-as sistematicamente, desde o tempo colonial, quando foram destruídas as florestas de pau brasil.

Nunca como agora foi tão necessária a firme vontade de viver de forma pacífica e equilibrada, pois tudo tende para um limite crítico, a começar pela carga humana sobre o planeta e seu modo de viver desajustado em relação à natureza.

"Mais de um bilhão de pessoas no mundo em desenvolvimento estão sem água segura para beber. Quase 3 bilhões de pessoas vivem sem acesso a saneamento adequado". Essa situação foi apontada por Anna Tibaijuka diretora do Programa de Assentamentos Humanos da Organização das Nações Unidas.

A expansão acelerada das favelas e habitações precárias em torno das grandes cidades como São Paulo, descaracterizam o habitat humano, pois essa expansão geralmente ocorre de forma clandestina avançando indiscriminadamente sobre áreas florestadas e reservas de mananciais.

Para o ex-Ministro Rubens Ricupero, o Brasil está sofrendo de desindustrialização precoce e desemprego em massa, e erosão salarial, não existindo um dinâmico setor de serviços com capacidade de absorver os despedidos da indústria. Uma das poucas áreas a revelar dinamismo – a agricultura e a agroindústria exportadora – é intensiva em tecnologia e capital, tendendo a agravar oêxodo rural. O que sobra para os excluídos é a precariedade e a insegurança do trabalho informal só para sobreviver".
(Folha SP. 05/out/03).


Contudo, a expansão agrícola permanece quase que da mesma forma como ocorreu nos ciclos de monoculturas para o mercado externo, como nos casos da cana de açúcar e do café. A vedete da atualidade é a soja e a pecuária, que avançam deixando um rastro de fogo por onde passam, destruindo matas seculares indiscriminadamente.

Enfim são muitas pessoas destruindo muitas coisas ao mesmo tempo por este mundo, dificultando e até impedindo a automática recuperação através dos mecanismos naturais.

Assim como ocorre no meio ambiente também ocorre no campo das relações humanas, entre os povos e famílias e mesmo entre os indivíduos em suas relações pessoais, geralmente dominadas pelo desamor.

A fábula "A Bela e a Fera", apresentada no Teatro Abril, alem dos magníficos cenários mostra para as crianças, a importância da leitura de livros. Os adultos também deveriam extrair o ensinamento simbólico dos acontecimentos no castelo enfeitiçado. A arrogância e prepotência retirou das criaturas que lá viviam a sua condição humana, transformando o príncipe em fera, e as pessoas em objetos, até que num gesto de amor, nasceram outra vez, voltando à condição de ser humano.

A verdadeira paz é o que a humanidade mais necessita nestes dias tão atribulados, em que a sede de poder e a arrogância endureceram o coração das criaturas. Então é indispensável renascer e retomar a essência humana, pois somente assim poderemos reconstruir a beleza do habitat humano como pacíficos cidadãos do mundo.