A NOVA HUMANIDADE
(02/07/2003)

Após o brutal balanço do número de mortes e mutilações provocadas pela Segunda Grande Guerra, muitos estudiosos passaram a desenvolver profundas reflexões sobre os fundamentos da civilização humana. Os anos 60 e em parte 70 foram palco de muitos estudos e analises sobre a real situação da vida. Não somente as pessoas de maior cultura, mas também a população em geral apresentava um vivo interesse em perscrutar a vida em sua essência.

Ao mesmo tempo também foram tomando corpo idéias mais pragmáticas, dando a tudo um cunho crescentemente materialista em detrimento do humanismo e da busca do saber espiritual, transformando a vida numa questão de satisfazer as necessidades humanas desenvolvidas e condicionadas pelo marketing. Com o passar dos anos os seres humanos baixaram as suas antenas voltando-se principalmente para a satisfação de suas necessidades mais elementares, pondo de lado tudo o mais.

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Na França, Jean Choisel, foi um dos que pesquisaram com profundidade, o conteúdo da vida da forma como os seres humanos devem fazê-lo, tendo editado o livro L’avenir de Notre Évolution, Le Courrier du Livre, Paris, 1966. O livro chegou a ser traduzido no Brasil em 1968 pela Editora Forense, sob o título “A Nova Humanidade”. Nele Choisel demonstra grande preocupação quanto à compreensão do significado da vida, depondo suas indagações aos responsáveis pela educação religiosa: “Mas eu não sou mais criança! Por que os senhores não me explicam a verdade tal qual ela é? Por que os senhores persistem em me falar com as mesmas palavras que utilizavam quando eu tinha cinco anos?"

Da mesma forma ele se preocupava com a velocidade do crescimento populacional do Planeta, o os riscos advindos disso ao equilíbrio biológico. “O número de novembro de 1962 de Ciência e Vida nos mostra que a população do globo ultrapassa 3 bilhões de indivíduos e que continua sua progressão no ritmo anual de 1,8%.”

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Bilhões de habitantes causavam apreensões quanto ao futuro, o que comer, onde morar, como educar? Em 40 anos a população do Planeta dobrou. Atualmente 3 bilhões é o número de habitantes que sobrevivem com menos de dois dólares ao dia, e tudo tende a uma piora como fora previsto, seja em moradia, alimentos, saúde e educação. Qual será a situação na próxima década?

Todos dependendo da água e do ar para se manterem vivos, necessitando de alimentação e moradias, produzindo lixo e dejetos que requerem tratamento especial para não contaminar o meio ambiente. Estamos atravessando uma fase de profundas alterações climática, e tudo contribui para o agravamento.”

Trata-se de uma situação delicada, que afeta tudo neste mundo globalizado, desde a economia, até aos problemas de saúde face as rápidas movimentações de pessoas infectadas por viroses desconhecidas. Contudo, não se compreende o que levou o ser humano a poluir os rios e a desmatar o planeta de forma tão irresponsável, pondo fogo na mata de propósito ou através do comportamento estúpido de pessoas que fumam jogando cigarros em brasa. Isso tudo mostra o retrocesso humano.

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Ademais, os países mais pobres são os que mais se encontram em dificuldades em decorrência de terem contraído vultosos empréstimos, em sua maior parte mal aplicados, e que estão sendo pagos com o suor das populações.

O desequilíbrio ambiental se evidencia de múltiplas formas, no irresponsável desmatamento, na poluição do ar e das águas, na falta de saneamento. No campo social temos a precariedade das moradias, da saúde e da educação. Assim, já nos anos 60 Choisel apontava as exigências para um futuro melhor.

Naquela época ainda não se tinha uma clara percepção do que a economia monetária levada aos extremos poderia gerar. Muitos estudiosos estranhavam a rápida ascensão dos economistas na gestão do Estado, passando a determinar o que podia ser feito ou não. E cada vez mais os economistas priorizaram os aspectos ligados à preservação do valor do dinheiro e do poder decorrente do seu acúmulo, embora na maioria das vezes, isso não conduzisse a uma real elevação da qualidade de vida e da qualidade dos seres humanos. Os cidadãos deveriam se ocupar com as constantes melhorias internas enquanto que o Estado deveria ocupar-se principalmente com a paz e o bom relacionamento externo. Contudo, as coisas acabaram se misturando e o Estado foi ficando sob a influencia dos interesses predominantes, sem que se atentasse devidamente aos aspectos do retrocesso da qualidade humana, e da necessidade de se propiciar oportunidades de que através do trabalho as populações pudessem prover as necessidades do lar com dignidade.

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A tristeza da realidade econômica e social do Planeta ficou patente no fato ocorrido no Rio de Janeiro, quando mais de 15 mil trabalhadores desempregados procuravam por uma vaga de lixeiro, gerando muita confusão e alguns feridos. Toda a dramaticidade do desemprego planetário ficou assim evidenciada, sem que se consiga visualizar soluções duradouras para esse aflitivo problema. A previsão é de que 80 mil pessoas se inscrevam.

O Banco do Povo, apoiando micro empresários, está abrindo um caminho novo, criando oportunidades para melhorar a distribuição da renda e criar empregos. O mercado por si nunca demonstrou estar muito preocupado com isso, a sua opção prioritária e cômoda tem sido emprestar para o Estado.

A situação dos países dependentes de moeda forte é muito complicada. Tudo se tornou artificial para possibilitar um precário equilíbrio das contas internas e externas, cujos deficits propiciam o surgimento da inflação e o controle da mesma passa a ser a prioridade das autoridades. Os recursos são continuamente drenados da economia. O câmbio não é tratado como meio de estimulo aos preços competitivos das exportações, mas é manobrado em função dos vultosos montantes necessários ao resgate das dividas publicas. A contenção do preço do dólar visa impedir que a dívida em dólar ou em dólar indexada, tenha um crescimento explosivo. Trata-se de uma situação tão delicada como a paridade cambial que levou a Argentina para o fundo da fossa. A população cresce, mas a economia permanece estagnada sem gerar empregos.

No Brasil a situação não apresenta grandes diferenças. Os juros elevados paralisam a economia. O consumo se mantém estagnado e a produção decresce, mas os capitais se movimentam desembaraçadamente buscando o maior lucro possível, no menor tempo possível, com o menor risco possível. Clovis Rossi, descreve o quadro figurativamente: “deixadas cair no rio as primeiras gotas de sangue para aplacar a fúria das piranhas do mercado, depois não é mais possível deixar de saciar o apetite delas, sob pena de uma terrível vingança.” (FSP. em 10/06/03).

A economia política acabou se transformando na ciência do dinheiro, priorizando alcançar a minimização dos custos e a maximização dos ganhos e o combate da inflação que decorre principalmente dos deficits. A real evolução humana deixa de ser a prioridade. A redução do poder aquisitivo da população e o aumento da desesperança de jovens e adultos se torna inevitável. Sem perspectivas de melhoras, a população passa a levar uma existência sem ânimo como que se estivessem esperando a vida acabar.

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Os seres humanos necessitam dar o grande salto para o crescimento espiritual através do reconhecimento das leis da Criação. Então, o progresso e a eliminação da miséria serão uma decorrência natural!

NECESSIDADES APONTADAS POR JEAN CHOISEL, JÁ NOS ANOS 60
(Obra citada).

Os homens que hoje têm consciência da necessidade de uma renovação total e completa dos nossos modos de vida são cada vez mais numerosos e, mais cedo do que se pensa, essa renovação nos será imposta pela acelerada evolução atual. O problema da sobrevivência da humanidade, em face da atual civilização em rápida evolução, constitui o objetivo principal deste livro.

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Jean Choisel analisa, em sua obra, a situação do homem civilizado, técnico, intelectualizado e materialista que sente a precariedade do mundo que construiu porque, nesta construção, esqueceu os valores espirituais que, só eles, deveriam orientar a sua ação. A falta deste amparo espiritual, o qual não é outro senão a observância das leis do Criador, manifestadas na criatura - a Natureza - é a responsável, direta e indireta, pela angústia da atual humanidade. Foi este perigoso desequilíbrio entre o progresso intelectual e técnico, de uma parte, e o progresso espiritual e moral, de outra, a causa do desaparecimento sucessivo de brilhantes e numerosas civilizações. E a nossa civilização, que já estende os seus limites ao espaço sideral, corre o mesmo perigo porque se confronta hoje com esse mesmo desequilíbrio essencial. Mas por que perdeu o homem moderno as suas ligações com Deus? Responde o autor com uma interessante teoria emanada da obra de Oskar E. Bernhardt, Dans Ia Iumière de Ia Vérité, ( NA LUZ DA VERDADE, A MENSAGEM DO GRAAL), porém, não isenta de culpa a própria Igreja, que não soube fornecer ao homem atual os elementos para a formação de uma consciência à altura de sua ciência.

Choisel explica, ainda apoiado em Bernhardt, alguns problemas de ordem religiosa, como o pecado original e o livre arbítrio, e se serve da ciência para a comprovação de suas afirmações.

Para ele, a salvação da humanidade reside em um humanismo novo em que o espírito, não o intelecto, domine a ação humana e então sim, conseguiremos uma verdadeira paz espiritual.

Bernhardt adotou posteriormente o pseudônimo de Abdruschin.

CONCLUSÕES
(A titulo de ilustração transcrevemos as CONCLUSÕES de Choisel, contidas no Cap. 10 de seu livro).

“Em seu célebre Discurso do Método Descartes escreveu esta frase universalmente conhecida: "Para se alcançar a verdade, é necessário, uma vez na vida, desfazer-se de todas as opiniões recebidas e reconstruir de novo e desde os fundamentos, todo o sistema de seus conhecimentos."

Utilizando este método a ciência contemporânea alcançou progressivamente o nível de desenvolvimento que conhecemos. Entretanto, como os pesquisadores utilizaram quase exclusivamente seu intelecto nesta pesquisa metódica, conclui-se que as descobertas efetuadas não puderam jamais ultrapassar o quadro do domínio físico no qual estamos mergulhados.

Nosso intelecto só pode perceber exclusivamente o mundo físico; a estrutura cerebral carnal de que ele saiu o impede de apreender o que está situado fora do domínio material de que faz parte. Eis por que nossa civilização contemporânea é materialista, por mais que o negue esta parte do mundo que se diz livre e cristã. Esta demonstra, aliás, por seu comportamento permanente, que na verdade não é nem uma coisa nem outra.

Entretanto, voltemos a esta frase de Descartes para perguntar se o ensino moderno, que se diz cartesiano, procurou verdadeiramente alguma vez colocar o método preconizado realmente em prática. Que vemos ao observarmos os métodos pedagógicos contemporâneos? Desde a sua infância, o ser humano é submetido a uma instrução que pretende acumular em sua memória elementos do conhecimento cada vez mais numerosos e complicados.

Mas já vimos alguma vez um professor, um só docente, recomendar a seus alunos: "Muito bem, agora vocês vão desfazer-se de todas as opiniões que receberam e reconstruir novamente, e desde os fundamentos, todo o sistema de seus conhecimentos? Será que vivemos, como nos querem fazer acreditar, num mundo verdadeiramente "racional" e cartesiano? "Temos professores, mas não temos mestres", escreveu Gérard Cordonnier, politécnico dotado de faculdades de vidências que aplica às matemáticas.

Conclui-se que cada ser humano fixa deste modo em sua memória, cumulativa e estatisticamente, um certo número de conhecimentos adquiridos e mais ou menos bem compreendidos e retidos, conhecimentos que ele tem a propensão de considerar definitivamente verdadeiros, pelo fato de seus professores (que têm evidentemente seu prestígio) sempre sustentaram de boa fé que o que ensinam é "a verdade".

Ora, em todas as matérias, o progresso é dinâmico e não estático. A noção mesma de "progresso" implica o movimento e a "progressão". Estabilizando desta maneira suas concepções ( científicas, filosóficas ou religiosas) ao nível do ensino que recebeu em sua juventude, e não pondo incessantemente em dúvida o que aprendeu, o ser humano pára de progredir.

Como, pelo contrário, a evolução não cessa - e é cada vez mais rápida - ele fica, é ultrapassado pela história e os acontecimentos. Sua preguiça em pôr sempre em dúvida suas aquisições intelectuais e espirituais anteriores o condena a mediocridade.

Deste modo não poderá jamais descobrir o imenso .panorama da realidade cósmica em perpétua evolução, realidade que só o conhecimento em progressão dinâmica descobre pouco a pouco. Todo verdadeiro pesquisador deve, pois de início, estar disponível a todo conhecimento novo, de onde quer que venha, desde que reflita uma imagem do mundo em conformidade com a realidade dos fatos.

O que se disse aqui vale tanto para a pesquisa científica como religiosa. Infelizmente esta última está hoje em dia infinitamente mais entravada que a pesquisa científica porque, há séculos foi estabilizada em dogmas de fé obrigatórios e impostos. E também por causa da profunda preguiça espiritual dos humanos ( conseqüência do desenvolvimento exclusivo e unilateral de seu cérebro anterior) que os fez perecer em uma lamentável inação do espírito.

Altos valores autenticamente espirituais petrificaram-se desta maneira na matéria. Tornaram-se estáticos e dogmáticos. Sua formulação é hoje em dia estritamente intelectual; não permaneceram livres e dinâmicos. Lembremos que só o espírito é livre, enquanto o intelecto é contingente ( Capítulo VI).

Ora, para encontrar a verdade, é necessário absolutamente pôr em prática o conselho que nos prodigaliza Descartes na célebre frase que já citamos. Não é absolutamente necessário fixar nossas opiniões segundo o estado presente do conhecimento, mas seguir o caminho ascendente da evolução.

Autênticos sábios, que também eram sensatos, como Lecomte de Noiiy, Alexis Carrel, Henri Bergson e outros, Reconheceram perfeitamente que a evolução devia seguir e ultrapassar o estrito quadro do intelecto para enveredar pela via de ascensão do espírito.

Não é singular encontrar sob a pena de Abd-ru-Shin a mesma exigência fundamental de disposição, de liberdade, que a revelada por Descartes, que passa entretanto por ser um dos fundadores do racionalismo moderno? Com efeito, um dia, um leitor lhe fez esta simples pergunta: "Que significa procurar seriamente a verdade?" Eis qual foi a sua resposta:

"Procurar seriamente a verdade não é nada do que designamos hoje em dia por estes termos. Aquele que procura seriamente, quer dizer, sinceramente a verdade, deve de início purificar completamente seu ser interior, isto é, deve eliminar o que leu e aprendeu até aqui, deve-se afastar totalmente, abstrair-se de toda personalidade, para experimentar Intuitivamente as palavras na calma de seu ser interior, como uma criança que se encontrasse diante de alguma coisa totalmente nova para ela. Não é sem razão que encontramos freqüentemente na criança um julgamento infalível das coisas e das pessoas, porque ela encara tudo sem prevenção alguma e com todo o carinho."

"Isto parece fácil, e entretanto é o que existe de mais difícil para o homem atual. Não há maior obstáculo do que custe a ultrapassar. E como peço a procura séria como condição fundamental, única capaz de permitir assimilar o verdadeiro conteúdo de minha obra, tenho, para meus leitores, a maior exigência que Ihes possa ser imposta. Por isto, elimino de início e categoricamente todos os que estão imbuídos por seu próprio saber. Trata-se de uma escolha em conseqüência da qual somente os humildes poderão receber a palma do verdadeiro conhecimento, acordo com o jogo lógico da lei da causalidade, enquanto os outros irão com as mãos vazias."

"Fora algumas exceções, reconhecer intelectualmente tudo isto está reservado ao novo gênero humano, ao que sobreviver à época atual; porque somente um intelecto purificado, desembaraçado pela compulsão violenta da experiência vivida de todas as escórias, dos erros e das vaidades atuais, somente esse trará nele, libertada de todas as influências, a faculdade de compreender o indispensável nestas coisas.

"Entretanto, não é necessário acreditar que este novo gênero humano viverá somente nos séculos futuros, porque ele já vive, mas só se tornará novo porque seus membros de todas as idades sairão purificados das engrenagens do mecanismo das leis divinas que, de agora em diante, começam a triturar, enquanto os outros serão esmagados por elas.

"Um pesquisador sério, como deve ser, não procura as associações, não adere a nenhuma seita e não sente necessidade das uniões. Elabora sozinho tudo o que recebe, já que ninguém pode ajudá-lo a fazer isto. É somente assim que a verdade se tornará viva nele, que ela será seu bem próprio que ele não poderá partilhar com outros.

Antes de pôr um ponto final nesta obra, desejaríamos ainda fazer algumas observações sobre a obra de Oskar E. Bernhardt, cuja clareza perfeita e objetiva nosso futuro próximo testemunhará. Esperamos que esta obra irradie uma luz incomparável no espírito de todos os pesquisadores da verdade em todos os países do mundo.

Todos os cientistas procuram reconhecer a estrutura do universo estudando as leis naturais a partir do plano físico de observação sobre o qual vivemos, O instrumento do qual se servem neste estudo da criação material é, antes de tudo, nós, o vimos, seu intelecto ajudado por todos os aparelhos que o ampliam como aprimoram a acuidade de nossos sentidos.

Com seu instrumento intelectual que os sábios estudam, analisam, comparam, pesam, dissecam, classificam, elaboram as teorias que tendem a reunir a multiplicidade dos fatos observados em uma síntese ordenada e coerente. Numa palavra, é essencialmente com sua inteligência analítica, "pontual" (isto é; que só pode tomar conhecimento de um só fato de cada vez) e descontínua, que os sábios procuram governar o mundo, Todos os esforços dos matemáticos modernos para equacionar o universo não teve outro fim na realidade senão remontar às causas primeiras elaborando sínteses matemáticas que registram um número cada vez maior de fatos observados.

Os sábios partem, deste modo, do complexo para remontar ao simples.

Em seu livro já muitas vezes citado, Jean Chan'on escreveu o seguinte quanto a esta pesquisa (páginas 110 e 111) :“Estamos diante deste problema como uma criança que tivesse que reconstituir um quebra-cabeça gigante cujas peças nos seriam fornecidas pela experiência, Nós possuímos um certo número de peças, mas outras nos faltam; como reconstituir então o quebra-cabeça completo? É naturalmente impossível, a única maneira seria esperar longos anos, até que a exponencial nos forneça as peças que faltam.

"Outro método, entretanto, é o que chamarei de método a priori, É aquele que já mencionei, aquele cujo modelo nos foi fornecido por Einstein com a relatividade geral: a partir não mais da experiência de detalhe mas dos grandes princípios gerais da Natureza. Em outras palavras, esqueçamos por um momento as leis eletromagnéticas, da gravitação, das interações nucleares, etc. Não tentemos fundir em uma só todas estas leis; procuremos simplesmente descobrir se existe uma grande lei principal da Natureza: esta será então, se bem construída, a lei procurada. É dela que decorrerão em seguida todas as leis de "detalhe" da Natureza, ao mesmo tempo que aparecerão provavelmente previsões novas que serão um meio eficaz de verificar a validade das premissas."

Este método exige de início reflexões um pouco 'metafísicas', e é provavelmente essa a razão pela qual os físicos 'convencionais' não gostam de adotá-lo a priori.

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Se citamos esta passagem da obra de Jean Charron, é porque Abd-ru-Shin utiliza em toda sua obra um caminho análogo ao que propõe aquele autor. Abd-ru-Shin comunica também um conhecimento das grandes leis que regem o universo; mas, para descobrir e comunicar este conhecimento, emprega um caminho diferente, complementar e em sentido inverso do caminho intelectual; emprega o caminho continuo da intuição, da inspiração.

Em vez de incitar seus leitores a se debruçarem com seu intelecto analítico sobre este mundo físico no qual vivemos, convida-os, ao contrário, a levantar os olhos, a desenvolver sua intuição espiritual, para que percebam a estrutura do "real" além do "conhecido" e para que apreendam a ordem da criação partindo do alto, da fonte das realidades criadas. Neste nível, a descrição que faz dos processos fundamentais é necessariamente geral, simples, porque é universal.

Ao inverso dos sábios, Abd-ru-Shin parte pois do simples para descer ao complexo.

Ele descobre deste modo sem esforço esta grandiosa visão unilateral do mundo criado que os cientistas procuram penosamente elaborar , construindo-a a partir da infinidade de observações científicas fragmentarias, amontoadas aqui na lenta acumulação da pesquisa.

O que há de característico na obra de Abd-ru-Shin reside no fato de que sua via intuitiva, partindo do real superior, acaba sempre por encontrar o conhecido intelectual inferior numa rigorosa e lógica conjunção. Enquanto isso, muitos outros "sensatos", tendo mais ou menos confundido intuição com imaginação, se extraviaram em suas pesquisas, não chegando mais, finalmente, a fazer coincidir sua visão do mundo com a realidade natural, tal como podemos observar aqui na Terra.

Não se deve deixar de lado que esta via espiritual de aproximação do conhecimento é na maioria das vezes estranha ao homem moderno - principalmente no Ocidente. Porque de um lado a "cerebração" estritamente intelectual da humanidade desde suas origens, e do outro lado a instrução tal como é hoje em dia dispensada em quase todos os países do mundo conduziram, e conduzem ainda a uma intelectualização exclusiva, intensiva, excessiva e unilateral do ser humano em detrimento de suas faculdades de percepção espirituais ( intuitivas) . Tanto que estas altas e preciosas faculdades espirituais já há muito tempo se estão atrofiando.

Ora, como todos os inspirados autênticos, Abd-ru-Shin dirige-se de início e primordialmente ao Espírito de seus leitores e em seguida somente e retroativamente, a seu INTELECTO.

Eis por que a maior parte de nossos contemporâneos experimenta atualmente algumas dificuldades em assimilar os conhecimentos formulados desta maneira. N este ponto reside a verdadeira razão pela qual desejei escrever a presente obra: para ajudar os pesquisadores da verdade a reconhecerem e a compreenderem intelectualmente também a idéia central e fundamental de uma obra que só se comunica espiritualmente.

Repetimos intencionalmente que a formulação empregada por Abd-ru-Shin tem justamente por fim tocar o espírito de seus leitores (fonte de sua consciência moral) , este espírito que muitos se esqueceram de desenvolver, dedicando ao contrário todas as suas atenções apenas a seu intelecto que, deste modo, desenvolveram unilateral e exclusivamente. Tanto que este intelecto dominador veio hoje em dia se impor quase permanentemente ao espírito muito enfraquecido para desempenhar seu papel de chefe e de guia natural do ser humano.

Será que isto significa que este modo espiritual de compreender a verdade é verdadeiramente incompatível com a rigorosa organização da Natureza, com o admirável encadeamento das grandes leis cósmicas que nos são ainda muito pouco conhecidas, precisamente porque procuramos até o dia de hoje interpretá-las com uma intelectualidade ligada ao espaço e ao tempo?

Somente o leitor que resolver levar a cabo incansavelmente pacientes esforços espirituais, deixando emergirem em si as imagens suscitadas por sua leitura, contemplando com cuidado estas imagens e completando-as umas com as outras, somente esse descobrirá a unidade da obra e a perfeição de sua lógica rigorosa.

Queira o leitor culto, como o homem simples de espírito - ao qual está escrito que o reino dos Céus pertence queiram estes encontrar na formulação deliberadamente empregada por Abd-ru-Shin, pelas razões aqui indicadas, o sutil fio condutor, somente capaz de conduzir sua intuição, de início, e em seguida seu pensamento, ao conhecimento das sublimes leis que regem a realidade científica do mesmo modo que a verdade transcendente.

Contrariamente ao que fazemos na maioria das vezes antes de iniciar a leitura de uma obra qualquer, escolhendo ao acaso alguns capítulos que tenham título particularmente atraente, folheando as páginas à vontade, para compreender profundamente uma obra espiritual tão vasta como a de Abd-ru-Shin, é absolutamente necessário tê-la lido de início uma primeira vez completamente, capítulo por capítulo, sem omitir nada, sem ler superficialmente. Depois retomar novamente a leitura do que foi menos bem assimilado, não apenas uma vez mas várias.

Cada capítulo ajuda realmente a compreender os outros, porque numerosos conhecimentos só podem ser aprofundados quando se supõe que tudo o mais já esteja conhecido assimilado. Como a criação que ela descreveu, esta obra e com efeito um todo indissociável. A cada nova leitura da obra descobrem-se novos horizontes, ainda não percebidos nas leituras precedentes, porque se trata de uma obra viva que só se descobre à medida dos esforços feitos pelo leitor para penetrar no seu espírito.

Não se deve nunca esquecer que esta obra é espiritual e não racional ou intelectual. Eis por que ela confunde de início todos aqueles em que domina o intelecto. Fui um destes, posso testemunhar isto.

Uma visão tão vasta do universo criado não pode ser de modo algum abrangida de uma só vez, porque ultrapassa de muito a capacidade de apreensão de nossa intelectualidade.

Por isso, deve ser interpretada de início com o espírito, antes que, ulteriormente, nossa inteligência se tome por sua vez capaz de compreendê-la. este trabalho interior de assimilação espiritual em primeiro lugar, e de elaboração racional em seguida exige sempre um certo número de anos - mais ou menos segundo os casos.

O leitor não disposto a fazer um esforço espiritual real - justamente o gênero de esforço ao qual estamos atualmente muito pouco habituados - não tem nenhum interesse em abordar seu estudo. Entretanto, este estudo não é difícil porque a obra é simples e com simplicidade escrita. As grandes linhas da verdade são sempre retas e simples. Numerosas pessoas de instrução muito modesta conseguem tirar dela cada vez mais inestimáveis riquezas, porque elas se abrem espiritualmente a ela e não se enchem de raciocínios intelectuais complicados que atrapalham sempre a assimilação pelo espírito.

Exatamente como os calculadores prodígios, que executam operações de uma complexidade assustadora, sem grandes esforços intelectuais, simplesmente porque "vêem" os resultados, estes lhes sendo dados, transmitidos pela intuição na medida de sua "capacidade de espírito".

Em nosso país, alguns reprovam na obra de Abd-ru-Shin a imperfeição de sua tradução. Esta reprovação é infelizmente justificada! A tradução não é perfeita. Mas podemos reprovar em um autor - já morto - a imperfeição da tradução de sua obra numa língua que ele não conhecia?

Esta reprovação prova que os que pararam nela foram incapazes de descobrir, sob a imperfeição da formulação a significação real da obra, a excepcional profundidade espiritual dos conhecimentos citados por ela.

Uma vez mais seu intelecto que, por sua natureza só é capaz de perceber o aspecto exterior da realidade, a forma, a superfície das coisas - uma vez mais, seu intelecto vedou a passagem para a penetração de seu espírito no coração de uma obra que merece infinitamente mais que um julgamento tão superficial.

Na terceira linha do prefácio de sua obra, Abd-ru-Shin escreveu: "Só me dirijo aos que procuram sinceramente. É necessário que eles tenham a aptidão e a vontade de estudar objetivamente esta obra objetiva." A julgar pelo número relativamente restrito dos que reconheceram a obra de Abd-ru-Shin como realmente excepcional, parece que, por causa deste desequilíbrio multi-milenar entre o espírito e o intelecto, esta "aptidão" está em nossos dias consideravelmente diminuída.

Quanto à tradução, ainda está de fato provisoriamente imperfeita. Isto se deve a que, apesar da urgência devida à velocidade crescente da evolução contemporânea, tornou-lhe impossível encontrar tradutores profissionais capazes de transcrever em nossa língua não somente o que foi escrito, mas principalmente o espírito do texto. Entretanto este trabalho foi efetuado por homens, certamente de boa vontade, mas pouco preparados para uma tal empreitada. Porque esta tarefa tem exigências enormes para quem a empreende.

Na presente obra, apresentamos deliberadamente somente alguns conhecimentos fundamentais que nos revela a obra de Abd-ru-Shin. E o fizemos intencionalmente de modo cartesiano, para que sejam intelectualmente acessíveis aos leitores, em sua mentalidade racionalista atual. Para que, também, seu interesse seja despertado pelos conhecimentos expostos e fiquem tentados a entrar em contato direto com aquela obra de importância capital.

Intencionalmente não abordamos nesta primeira obra nenhuma das implicações teológicas que decorrem automaticamente desta visão do mundo segundo as leis naturais, únicas expressões válidas da vontade que criou a Natureza. O leitor interessado por estes novos aspectos teológicos poderá tomar conhecimento deles na própria obra de Abd-ru-Shin.

Entretanto, o essencial nesta obra não são tanto os elementos racionais, mas sim uma inspiração, um sopro que se dirige ao espírito de cada leitor, além - e algumas vezes a despeito - de seu intelecto. Isto nós não podemos e não queremos analisar aqui. É necessário pois que cada um faça por si mesmo a experiência.

Entretanto, na inspiração que está o essencial desta obra. Por isso ela é não somente capaz de suprimir a inextinguível sêde intelectual de saber e de compreender, mas também, principalmente, de satisfazer o desejo do espírito, sedento de pureza e de verdade.

Mas a inspiração só satisfará o espírito se este estiver ainda vivo e não mais reduzido ao último estado da escravidão, sob o guante ancestral de uma intelectualidade mais tirânica do que nunca.

De qualquer forma, Ele é o farol e o guia - tanto para os fortes como para os fracos - sustentando seu querer, ajudando-os em seus esforços. Ele é o único refúgio e o único fim para estes tempos cruéis que a humanidade jamais viveu.

Ajudar meus semelhantes a reconhecê-lo em ação nas leis e pelas leis da Natureza foi meu desejo ao escrever esta obra. Para terminar, meu desejo maior é que ela sirva...”
JEAN CHOISEL, (Em “A Nova Humanidade”). Ano de 1966.


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Observação: O livro de Choisel está esgotado, porém, o livro de sua inspiração, “Na Luz da Verdade, A Mensagem do Graal, escrito por Abdruschin, está disponível, em Português, Inglês, e vários outros idiomas, dando a todos a possibilidade de examinar o seu valioso conteúdo como meio do aprimoramento humano.