VESTIDO DE NOIVA
(20/06/2003)

Eles sempre visitavam a senhora Nena. Eles percebiam como era sincero o acolhimento que ela oferecia aos seus amigos. Alem do bolo e do café especial que ela servia, todos abeberavam a sabedoria das palavras dela. Naquela tarde o assunto girava em torno de casamento e família.

“Lembrem-se, a família é muito importante”, exclamou Nena. “O lar é um santuário, nele a mulher deve desenvolver as suas capacitações até a máxima florescência. A adequada postura da mulher no lar é mágica, ela é capaz de criar um clima de serenidade que beneficiando primeiramente aos seus, seja em sua saúde física ou psíquica, estende-se muito além favorecendo a paz mundial. Isto é, quando houver paz e harmonia nos lares menos crimes e violência ocorrerão no mundo. Elas têm a capacidade de criar o céu ou o inferno dentro de casa.”

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Uma das mulheres que participavam da reunião levantou-se de seu assento e foi dizendo, “mas só as mulheres, e os homens também não são responsáveis?”

“Claro que são minha cara, eles não podem agir com despotismo e desmazelo desrespeitando a ordem do lar e, sempre que possível, deverão colaborar nas atividades domésticas ajudando as respectivas mulheres em tudo o que puderem, assim como um não deve dificultar a vida profissional do outro.”

“Já que começamos vamos continuar a falar de casamento. O vestido de noiva é uma sedução para todas as mulheres, mas isso exige muita responsabilidade, não é só festa. Quando a mulher adotar uma atitude de preservação da harmonia no lar, o homem também modificará o seu comportamento ao perceber a valiosa e indispensável presença da mulher, e tem mais uma coisa muito importante que eu quero lhes dizer, quando laços de amor e amizade unem o casal, a vida a dois é muito gratificante, pois com sua amizade poderão se ajudar mutuamente para juntos enfrentarem as dificuldades, se fortalecerem e evoluírem. É tão bom saber que tem alguém que nos aceita com nossas qualidades e deficiências e nos ajuda a confiar em nós mesmos. É a equipe perfeita de dois.

Os olhos do jovem brilhavam, ele não se conteve e disse: “mas isso seria o paraíso.”

“É isso mesmo meu jovem, lamentavelmente porém as pessoas não estão se preparando adequadamente para a vida, e assim elas vão para o casamento como se estivessem indo para um pic-nic. A maioria dos casais não se perguntam como imaginam a vida de casados. Deslumbrados, cada um acha que cabe ao outro a adaptação. Eles não se comunicam com clareza e sinceridade, e desde o inicio surge uma barreira de mútua compreensão. Com o passar do tempo o deslumbramento acaba sem que o casamento tenha criado sólidas bases de convivência. De repente cada um começa a achar que está sendo prejudicado pelo outro, não demora muito tudo vai por água abaixo. Assim eles desperdiçam a oportunidade de juntos alcançarem a felicidade terrena, e passam a viver como se tivessem um inimigo dentro da própria casa.”

Nena parou um pouco de falar como se estivesse tentando lembrar de alguma coisa. “Ah, sim, já sei, diz a canção: "o amor é a coisa mais triste quando se desfaz", mas o fato não é que o amor se desfaz.

Então o jovem disse, "esses são versos de uma canção de Jobim. Aliás, no filme "Fale com Ela" de Almodóvar, o personagem Marco, após presenciar uma bonita cerimônia de casamento menciona essa canção falando da tristeza que as separações podem causar."

Nena prosseguiu, "o que eu quero dizer não é que o amor se desfaz, porque o amor é uma propriedade do espírito e hoje se abusa muito dessa palavra, e em geral não há amor para se desfazer porque o que prevalecem são os egoismos e as paixões. Muitas vezes, quando existe grandes diferenças os cônjuges acabam tomando direções opostas, não valorizando exatamente o relacionamento, então a união deixa de existir. É a tristeza por mais uma união que se desfaz, que não deu certo porque o casal não levou a sua união tão a sério como devia para a finalidade de seu progresso conjunto em paz e harmonia.”

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“É verdade, disse a moça loira que estava sentada perto da janela. “Ainda outro dia fui ao Teatro assistir ao espetáculo musical sobre a vida da cantora Isaurinha Garcia, idealizado pelo neto dela. Então eu pude ver os dramáticos aspectos dos desajustes conjugais que já existiam naquela época e que se traduziam nas próprias canções que ela cantava como por exemplo, “Está fazendo um ano e meio que o nosso lar se desmoronou...”, e outra, “De conversa em conversa vocêestá querendo é nos separar...”

“Mas que interessante, e vocêgostou do espetáculo?”, perguntou o jovem.

A moça loira respondeu, “sem dúvida, o espetáculo está muito bem montado, divertido e comovente. No final a Rosamaria Murtinho disse emocionada, o carinho dessa platéia de hoje quebrou a gente. Mas eu gostei principalmente porque se trata de uma valorização da nossa cultura, da nossa música, porém eu percebi que muitas pessoas teriam preferido um menor impacto na abordagem da morte da cantora.”

Nena se levantou como se quisesse sinalizar que a reunião estava chegando ao final e disse: “Meus amigos essa é a dura realidade que os casais estão vivendo, muitas desarmonias e pouco entendimento, raramente os cônjuges se preocupam em melhorar o seu relacionamento aparando as arestas, geralmente dão preferência em justificar as suas atitudes para mostrar que estão certos. Contudo nunca é demais repetir, “quando laços de amor e amizade unem o casal, a vida a dois é muito gratificante, pensem nisso e sejam felizes.”