SAMSARA
(14/03/2003)

Observando a travessia das montanhas do Himalaia no filme Samsara, 2001, dirigido por Pan Nalin, o público poderia esperar por algo mais fortemente esclarecedor para a compreensão da busca de Siddharta-Buddha. O monge apresentado no filme transmite a sensação de que foi movido mais por um sentimento de culpa decorrente do pendor pelos prazeres mundanos, do que por um poderoso anseio de busca para a elevação de sua alma.

Entre outros significados, Samsara pode ser entendido como sendo a roda das existências, ou seja, o nascer, morrer e renascer, as reencarnações sucessivas para a evolução da criatura.

Também significa o aspecto de mudanças do universo, as constantes mudanças do mundo das formas. E, em conseqüência, Samsara é o mundo dos pendores baixos dos quais o ser humano deve buscar a sua libertação, porque pendor é o que pende e retém, é o apego àquilo que nos ata ao mundo material. Uma das maneiras de nos libertarmos do Samsara é o autoconhecimento, autodomínio, agir sem apego ao fruto da ação, e a realização do dharma pessoal e coletivo.

Segundo a filosofia Budista dharma é compreendido como a consciência desperta de nossa missão nesta vida. Nosso objetivo existencial. Todas as pessoas que estão vivenciando o seu dharma estão felizes, porque sentem que estão no caminho certo, fazendo a coisa certa, estão no caminho de realização, fazendo o que gostam com alegria e paz interior. Toda vez que sentimos um vazio, uma melancolia, até mesmo sofrer, isto é um sinal de que nos afastamos de nosso dharma e estamos vivendo mais o karma negativo como conseqüência de nossas atuações em oposição as Leis da Criação. Com o dharma a pessoa cresce. Com o karma a pessoa resgata e constrói. Bom é transformar o karma em dharma, pois "turbinamos", evolutivamente falando, a nossa existência.

O caminho para a evolução espiritual não exige a autoflagelação do próprio corpo deixando de se dar atendimento às necessidades básicas. O corpo terreno é o mais valioso bem confiado ao ser humano, devendo ser cuidado com todo o respeito, sem martirizações.

No filme também é apresentada essa antinatural incompreensão quanto ao fenômeno da ligação de amor entre um homem e uma mulher, fato plenamente natural dentro das leis da Criação, mas que, incompreensivelmente, tem sido tratado como o oposto à pureza, devendo o aspirante ao cargo de monge viver solitário, sem o convívio de uma companheira, ou afastar-se do sacerdócio se quiser conviver com uma mulher.

Certamente podemos afirmar que o único meio através do qual o ser humano conseguirá libertar-se dos baixos pendores que o acorrentam a pesada matéria, prosseguindo a sua trajetória, é o reconhecimento do seu lugar na Criação e do funcionamento das automáticas leis que são orientadas pela Vontade Divina, e abrangem todas as criaturas. Essa é principal finalidade de sua existência terrena.

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Segundo o livro Buddha, editado pela Ordem do Graal, o príncipe Siddharta vivia displicentemente em seu palácio, em Kapilawastu, em companhia de sua mulher Maya, e seu filho Rahula, cujo significado é, “aquele que é prometido”.

Siddartha desdenhava das crenças e das intuições de sua mulher, gostava mais de se dedicar a caça do que proteger as fronteiras contra os invasores. Kapilawastu caiu nas mãos do inimigo. Siddharta foi atacado caindo semi morto, despojado de seus bens e de sua família.

“De príncipe, passou a simples peregrino, seu aspecto era o de um pária, mísero representante da mais baixa classe social, da classe desprezada e maldita. Seu longo caminho de aprendizado fez com que, pouco a pouco, fosse se elevando, fazendo descobertas reveladoras, de conformidade com o seu amadurecimento interior, que o transformaram em um grande mestre. Um príncipe que, ao conhecer os baixios da vida, se constitui posteriormente, em uma ancora de saber para o seu povo.

Siddharta, porém, não foi o maior dos Gáutama. De todos eles, destaca-se, de maneira especial: Gáutama-Buddha, neto de Siddharta, cujo saber elevou seu povo a uma alta esfera de realizações, conduzindo o mesmo, sabiamente, ao conhecimento e consequentemente ao louvor do Senhor dos Mundos, o Criador do Universo! Era marchar dos deuses para Deus. Tão fácil e tão evidente.”

A História é pródiga em exemplos do comodismo humano que se destaca após a vinda de Profetas e Enviados de Deus. Esse comodismo afasta os seres humanos de um permanente empenho na conservação dos ensinamentos básicos em sua forma original, dando inclusive ensejo a introdução de conceitos não verdadeiros, principalmente por não mais compreenderem os ensinamentos de forma espiritual, mas também em atendimento dos interesses de dominação terrena.

Depois da morte de Gáutama-Buddha e de seus auxiliares diretos, “toda uma série de interferências humanas se introduziu na doutrina, tão pura, vinda do Alto, em outros tempos. Quase imperceptíveis, a principio, depois mais pronunciadas, e afinal, grandemente alteradas, iam surgindo as várias correntes. Cuidavam de se adaptar ao espírito da época, quando na realidade o que faziam era se acomodarem às trevas, que tudo empenhavam para empanar a limpidez da primitiva harmonia.”

Como sempre tem acontecido com o ser humano que deixa de ouvir a sua voz interior, já naquela época cada qual só tratava de impor sofregamente o seu ponto de vista pessoal, contribuindo para lançar uma onda de lodo sobre a pureza da primitiva doutrina.

Os seres humanos se distanciaram muito do saber originalmente revelado por Buddha, mas que agora ressurge, como um presente aos que buscam o real conhecimento que restabeleça o saber original, conduzindo-os para a luz da verdade!

Ao reduzir a importância do reconhecimento da Criação e suas leis, o que deveria ser primordial em sua existência, o ser humano passou a canalizar as suas potencialidades, principalmente, no acúmulo de bens terrenos e para galgar os degraus do poder, considerando como secundário aquilo que lhe é essencial para o adequado aproveitamento do tempo que lhe foi outorgado na materialidade.

O ser humano da atualidade se sente engrandecido com os seus feitos materiais, mas o verdadeiro saber da Criação se acha soterrado sob toneladas de inúteis informações terrenas, idolatradas por muitos eruditos que desconhecem a elementar simplicidade e clareza presentes no funcionamento da Criação e suas leis, únicas efetivamente capacitadas para formar a base de uma construção sadia e duradoura.

“Com a minha Palavra vos conduzo de volta a Deus, do Qual vos deixastes desviar pouco a pouco, por intermédio de todos aqueles que colocaram o seu querer saber humano acima da sabedoria de Deus”. ( Em “Na Luz da Verdade, A Mensagem do Graal”, de Abdruschin, 3º vol., Dissertação: Onisciência).