RUMORES DE GUERRA
(01/08/2002)

Os seres humanos sempre se acobertam com a teoria mais adequada para dissimular os seus reais propósitos. As teorias do economista britânico John Maynard Keynes estavam atrapalhando, pois continham um principio de disciplinamento das atividades econômicas, o que de certa forma dificultava a liberdade de ação para que se obtivessem ganhos polpudos através da mobilidade dos capitais. O mercado foi apresentado como o grande escudo acobertador de escusas manobras engendradas para satisfazer a ganância e a cobiça humanas.

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Agora que se delineou um grande estrago na economia real e nas finanças, os teóricos de plantão estão tratando de resgatar Keynes como o grande salvador, justificando a necessidade de que o Estado intervenha para ajeitar a desordem e, principalmente, para amenizar as perdas através do aumento dos gastos públicos trazendo incentivos para a combalida atividade econômica, o que continua sem permissão para os países endividados.

Desemprego e desequilíbrio das contas públicas eram as grandes preocupações de Keynes, para quem o Estado deveria empenhar-se para assegurar a boa qualidade de vida da população através de um eficiente controle das contas, tanto internas como externas, evitando os danosos efeitos das recessões, buscando sempre o equilíbrio do comércio externo entre as nações. Sem o adequado equilíbrio no comércio exterior e nas contas externas as nações deficitárias tendem a se enfraquecer, deixando de prover a população dos serviços essenciais de competência do Estado. Em decorrência a população deixa de receber o forte amparo indispensável a sua evolução qualitativa e espiritual.

Ele também condenava severamente a economia de cassino. O dinheiro deve ser investido de formas a propiciar o bem estar da população, e não para alimentar jogos do poder. Mas hoje o dinheiro volátil movimenta US$1,5 trilhão ao dia em operações de câmbio. As Bolsas sempre deram o seu espetáculo, com irracionais valorizações para depois cair em vertigem. Assim, as teorias dele não convinham justamente porque dificultavam as manobras especulativas.

Mas esse tem sido sempre o grande mal dos seres humanos, ou seja a falta de sinceridade, o ocultamento de propósitos mesquinhos com artifícios ostensivos para iludir através de suas conversas ardilosas a espreita das fraquezas do próximo. A pessoa sincera que fala a verdade raramente recebe o merecido acolhimento, enquanto os cínicos que ocultam suas reais intenções são aceitos sem maiores problemas.

O relacionamento humano tem padecido disso seja no ambiente das casas, das famílias, como também no trabalho e nos Estados. Hoje está muito difícil para o ser humano estabelecer relações de amizade, que é um ramo do amor. Não há que se indagar se se trata de amizade sincera, pois a verdadeira amizade é sempre sincera e leal por natureza, coisa rara de ser vista em nossos dias porque o ser humano deixou o cérebro a vontade, e hoje ele domina agindo através da associação emocional de pensamentos condicionados inconscientemente, sem dar oportunidade para que a intuição se manifeste. Então, um cérebro assim desgovernado se torna presa fácil dos sentimentos mesquinhos como o medo, o ódio, a inveja, a desconfiança e tantos outros. Com a cabeça sobrecarregada de informações inúteis, os sentimentos mesquinhos tomam a dianteira, impedindo que prospere a verdadeira amizade e a consideração entre os seres humanos.

A falta de consideração é patente em nossa vida. Desde o motorista da carreta que não dá a devida atenção para a altura da carga, arremetendo contra os viadutos, até aos motoqueiros que não reconhecem que mesmo com o farol aceso a moto pode se tornar invisível o que exige a sua máxima atenção e cuidado. Mas a falta de consideração também está presente nos lares, nas organizações e nos Estados, tornando-se nitidamente visíveis a utilização da força e do poder como o recurso para a imposição da vontade egoistica.

Da falta de amizade, em um instante se poderá passar para a inimizade. Enquanto a amizade propicia a leveza do ambiente, a inimizade o sobrecarrega com uma atmosfera pesada, suspeitosa. As pessoas vão se voltando umas contra as outras. Ninguém tem sossego, ninguém tem a paz. Todos contra todos, distanciados da solidariedade e do desejo de ajudar. Esse tipo de ambiencia é o terreno apropriado para a eclosão de convulsões sociais, revoluções e até a guerra mais pesada.

E, eis que mais uma vez são ouvidos rumores de guerra, pois os desentendimentos se alastram sem que surjam eventos conciliadores, prevalecendo as inimizades. Por outro lado, dizem os teóricos que as guerras atuam positivamente sobre a economia capitalista, reerguendo-a quando nada mais houver a fazer para evitar a quebra total, posto que o mercado militar enseja um dinamismo para a atividade econômica através do aumento dos gastos públicos. Ora, mas num sistema em que seja necessário o efeito estimulante da produção de armamentos e utensílios de guerra para superar as crises que ele mesmo desenvolve, algo deve estar errado, e de há muito deveria ter despertado as atenções humanas. Keynes também apontava para essa direção, pois o desequilíbrio econômico entre as nações tem sido preponderante na eclosão das guerras.

Os seres humanos terão de organizar a vida de tal forma que não sejam geradas as dramáticas crises que sempre acarretam um retrocesso geral. “Procurai, antes de tudo, sintonizar-vos terrenamente de modo certo com as vibrações das leis Divinas, as quais nunca podereis contornar, sem vos prejudicar muito, bem como ao vosso ambiente, e apoiai nelas também as vossas leis, deixai que elas se originem daí, e então tereis logo a paz e a felicidade, que favorecem o soerguimento tão almejado por vós, pois sem isso todos os esforços serão em vão e mesmo a máxima capacidade do mais aguçado raciocínio será inútil, redundando em malogro.” (Mensagem do Graal, de Abdruschin, Vol. 3, pg. 342).