QUE DIREÇÃO SEGUIREMOS?
(04/07/2002)

Já houve uma época em que os brasileiros ao olharem para a Argentina, não conseguiam deixar de sentir uma ponta de inveja. Eles, os argentinos, tinham tudo o que nos faltava. O nível escolar era muito bom. Os salários incomparavelmente melhores. As cidades eram limpas e bem cuidadas. As casas tinham boa aparência. Enfim, o Brasil representava o atraso, enquanto que a Argentina assumia ares de país europeu. O Brasil não evoluiu muito, mas a Argentina entrou em retrocesso e justamente agora nos dizem que nos encaminhamos para ser outra argentina, endividada, sem moeda confiável, enfrentando muita miséria e desemprego. Um país sem grandes esperanças de um melhor futuro.

Assim estamos nós. O aumento da violência urbana tem muito a ver com a queda da esperança. À medida em que o ser humano se vai embrutecendo, sua vida também se vai tornando mecânica, sem alma. Por fim esse mal vai contagiando tudo e em todos os setores da vida humana começam a surgir os sintomas de uma vida pior do que deveria ser, rebaixada pela ausência de aspirações mais elevadas, próprias de um ser humano consciente em busca da sua evolução pessoal. O futuro se afigura sombrio, não há muito o que esperar. Vidas vazias sem aspirações mais elevadas, sem esperança de um futuro melhor. Surgem os distúrbios urbanos, os conflitos armados, ao final surgem as guerras e revoluções com todo o seu desespero.

Estamos no meio. No topo, inalcançavel os Estados Unidos. Abaixo: Colômbia, Venezuela e a caótica Argentina. Que direção seguirão os futuros dirigentes, do Brasil e dos demais países? Quem ensinará a eles o real sentido da vida, se é que desejam compreende-lo?

A população em geral padece da falta de esperanças positivas. Os jovens mais ainda. Nos anos dourados havia uma expectativa de melhora. A crise da dívida, a deterioração geral das cidades, da educação, da saúde, da segurança pública, e inúmeros casos de desvios de verba criaram o cenário do desânimo.

A Argentina implodiu a sua economia com o artificialismo da paridade cambial. No Brasil o aumento da dívida assumiu o lugar da inflação. O montante das exportações é insuficiente para o serviço da dívida. Estamos produzindo pouca riqueza e estamos com muitos trabalhadores sem ter o que fazer. O centro velho de São Paulo revela a decadência, com centenas de desocupados vagando pelas ruas.

Um melhor futuro está intimamente ligado à educação que se transmite às novas gerações. Este tem sido o grande problema do Brasil. Muitos pais já não têm aquela cultura dos avós. A escola deixa muito a desejar, então a educação desanda, isto é, retrocede. Nos países desenvolvidos ela é bem melhor, mesmo assim falta alguma coisa que fortaleça a qualidade própria de seres humanos que somos. Muita tecnologia e eruditismo, mas pouco de conteúdo humano. Estamos produzindo um mundo inóspito ao provocar a ruptura dos mecanismos naturais de preservação da vida.

Na medida em que os seres humanos assumem a responsabilidade pela sua evolução pessoal, buscando-a com tenacidade é que se poderá esperar por um melhor futuro. Fora disso a piora será continua e horripilante como lamentavelmente, já se pode notar em inúmeras situações. Não adianta ficar esperando que o governo ou a religião possam mudar isso. Enquanto os indivíduos não se conscientizarem da necessidade de colocarem o seu foco e o seu querer na busca do auto-aprimoramento, dificilmente o Planeta alcançará melhoras. Contudo dirigentes e religiões poderiam ter contribuído de forma positiva, se não tivessem se dedicado com tanta tenacidade na conquista do poder de impor a sua vontade e os seus desejos. Sua vocação tem sido conquistar, dominar e controlar.

O pendor pelo poder é uma das mais fortes emoções que agrilhoam os seres humanos, pois é através do poder que surge a capacidade de impor a própria vontade sobre outros, mantendo-os cativos, advindo daías constantes lutas veladas ou abertas pela conquista do poder terreno colocado como alvo prioritário dos dirigentes, enquanto o povo confiante é desviado das diretrizes que promovem a evolução espiritual.

Ao deixarem de cuidar seriamente de sua evolução, os seres humanos se vão entregando a práticas que denotam o baixo nível em que se encontram. No antigo Império Romano os povos escravizados eram postos na arena para lutar contra leões famintos ou gladiadores profissionais, e a massa se comprazia com o sangue derramado. Não diferente foram os cruéis espetáculos promovidos pela Inquisição que ateava fogo em suas vitimas em praça publica. Atualmente temos lutas sangrentas em estádios lotados, touradas e rodeios. Por vezes os animais levam a melhor e se vingam da crueldade humana transformada em entretenimento.

Um ser humano comprometido com a evolução espiritual, não é aquele que sai por aídistribuindo todos os seus bens aos miseráveis. Ao contrário, ele não tem receio de ser rico, contudo agirá sempre de tal forma a não causar danos aos seus semelhantes, nem ao seu ambiente visível e invisível através de suas ações e pensamentos, pois assim como ele, todos tem o direito a uma vida condigna para evoluir.

“Mas a inobservância de tais leis de evolução vingar-se-á amargamente nos povos, pois também isso traz, por fim, retrocesso e ruína, jamais ascensão, porque falta nisso toda salubridade. O ser humano não pode opor-se às coisas, às quais ele, como cada criatura, está sujeito, de forma que jamais conseguirá algo onde não leve em conta as leis vivas entretecidas nesta Criação. Onde atuar contra elas, não as observando, mais cedo ou mais tarde terá de naufragar. Quanto mais tarde tanto pior. Nisso cada dirigente terá de arcar com a responsabilidade principal daquilo que errou em virtude de sua concepção errada. Terá de sofrer então pelo povo inteiro, que em sua aflição se agarra espiritualmente a ele, de modo firme!” (Mensagem do Graal, de Abdruschin, Vol. 3, pg. 120)