EM BUSCA DE SOLUÇÕES
(20/02/2002)

Essa aventura da paridade cambial, amparada numa reserva de moeda internacional, contém todos os ingredientes para o fracasso, como foi o caso da Argentina.

Se o país não emite dólares, e diz que um peso vale um dólar permanentemente porque os pesos serão lastreados em reservas de dólares, é no mínimo uma brincadeira, para não dizer um embuste. A paridade entre moedas poderá ter sustentabilidade tão somente quando houver equilíbrio das contas externas produzido sadiamente por exportações de mercadorias e serviços. Mas os países ricos não fazem uma política de equilíbrio comercial, importando o estritamente indispensável e exportando tudo o que podem. Então a dependência de financiamentos externos torna-se inevitável, e logo surge o tropeço do sistema.

Ademais, a economia globalizada das finanças, propiciou o auge da economia financeira virtual. Isto é, mesmo não se produzindo nada fisicamente, a riqueza financeira encontra inúmeras possibilidades de expansão, seja com juros, operações com moedas, mercado de futuros, derivativos e outros. Os créditos financeiros crescem e se concentram. Mas quando chega a hora de ir na “boca do caixa” a engrenagem engasga, como no caso argentino onde não há dólares suficientes para cobrir todos os saques. O presidente Duhalde pleiteia entre US$ 15 a 20 bilhões de financiamento externo para que a saída da paridade do peso ocorra de forma menos traumática rumando para o regime de flutuação, sem que o salto do dólar escape do controle, pois as reservas são mínimas, e não há como aumentá-las, mesmo com a elevação da taxa de juros, porque o sistema quebrou e não há credibilidade, restando apenas o Fundo Monetário Internacional como possibilidade de socorro.

É a isso que chegamos, uma sociedade de ostentações, na qual ensina-se as crianças desde cedo a exibirem as suas prendas e as suas posses, mas agora enfrentamos a dura realidade daquilo que foi semeado. O correto seria termos uma sociedade em busca das soluções que melhor atendessem aos seus problemas e às suas necessidades.

Contudo os países retardatários como a Argentina e o Brasil, foram inseridos num sistema econômico e político mundial desenvolvido pelos países ricos com moeda conversível, ficando assim sujeitos às condições impostas de fora, como continuidade do Colonialismo praticado pelos europeus no século XIX.

A prerrogativa de emitir moeda propícia poder. Emitir moeda conversível, aceita em qualquer país, enseja um forte poder que, se não bem for utilizada, poderá levar a humanidade ao descalabro, porque o dinheiro em mãos pegajosas sem nobreza, arrasta tudo para a decadência, face a escravização do ser humano ao poder do dinheiro, transformando-o na meta principal da vida, deixando de lado a essência espiritual humana. Aqueles que se especializaram na movimentação do dinheiro em transações lucrativas acumularam muito dinheiro e poder. Mas o dinheiro, tendo sido afastado da naturalidade pelos seres humanos, também se tornou num dos fatores do desequilíbrio e inquietação geral da vida. Assustados os investidores transferem os capitais para a segurança da liquidez freiando os investimentos que produzem empregos e riqueza real.

Bresser Pereira em parceria com Yosiaki Nakano vem tentando mostrar como é indispensável a busca de soluções para a armadilha do juro alto e dólar baixo em que o Brasil se envolveu, e que está afetando tudo o mais: crescimento, emprego, incapacidade governamental de investir na valorização da qualidade de vida. Assim, todo país administrado responsavelmente terá que por em prática “uma política de desenvolvimento com estabilidade”. E concluem: “Como nação, não temos alternativa senão escapar da armadilha de juros em que nos metemos”. (FSP, 10 de fevereiro).

Se o Federal Reserve, baixou a taxa de juros nos Estados Unidos, pois Greenspan quer favorecer o fortalecimento da economia, por que não podemos nós fazer o mesmo no Brasil? Os defensores do juros altos explicam que a taxa está associada ao risco Brasil. Ora, a manutenção da taxa de juro real, acima dos padrões usuais, têm contribuído decisivamente para o agravamento do risco, e assim nunca poderemos dela escapar. Haja vista que estamos enfrentando um regime de estagnação econômica que remonta a mais de 20 anos. Olhemos o caso argentino. Somente quando a situação geral se tornou insustentável é que os responsáveis da área econômica foram em busca de solução, mas o estrago já estava feito.

O detentor do capital fica farejando sempre a melhor taxa de retorno, onde quer que esteja desde que os riscos sejam os mínimos. Não há como se falar em altruísmo, em compartilhamento. O sistema, fruto do raciocínio humano, é assim mesmo, frio e calculista.

Um país como o Brasil que paga quase 20% de juros que correspondem ao somatório dos juros americanos, risco Brasil e desvalorização cambial, é simplesmente um país que a cada quatro anos dobra a sua dívida. Quem pode suportar isso? O resultado é o impacto na aceleração da decadência da qualidade humana da população. Forçosamente a pobreza somente tenderá a aumentar gerando intranquilidade no presente e um futuro ameaçador.