GERAÇÃO INQUIETA E DOENTE
(15/02/2002)

Qual o segredo do sucesso alcançado pelo programa “Casa dos Artistas”, exibido pelo canal de TV de Silvio Santos? Um dos fatores pode ser a ausência de violência sangrenta e dos terríveis impactos provocados pela intensa pressão de acontecimentos trágicos e dramáticos envolvidos pelo medo oculto presente nas cenas de muitas telenovelas e filmes como o badalado “Vanilla Sky”, de Tom Cruise, em que as pessoas saem do cinema sem saberem se estavam vendo a história macabra de um personagem vivo ou morto, que abusava das pessoas tomando-as como objetos de seus caprichos. As pessoas estão cansadas de personagens mórbidos envolvidos em situações desarmônicas, numa atmosfera aterrorizante, com sons e imagens remexendo com os medos ocultos na psique humana, provocando inquietação e ansiedade.

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Marcante também na Casa dos Artistas a ausência do artificialismo de falas pré-elaboradas, sem apelar para situações absurdas que se aproximam mais da morte do que da vida. Um leve e divertido toque de ironia e zombaria sem ridicularizar o outro. Contudo o programa poderia dar uma contribuição maior, oferecendo modelos de equilíbrio emocional no enfrentamento dos problemas da vida com esperança e boa vontade, e não apenas superficialidades.

As pessoas querem leveza e descontração, porque de problemas trágicos e temores, a vida está repleta, e é necessário uma válvula de escape, uns leves momentos de lazer e entretenimento que mudem o foco dos pensamentos, tão intensamente dirigidos e focados no que há de pior sobre a face da Terra. Chega de clima pesado.

Os seres humanos já tinham uma forte obsessão pelo dinheiro. Com o advento da globalização isso se generalizou. O viver se vai construindo como se fosse uma corrida do ouro, na qual tudo vai perdendo o bom senso na frenética busca do dinheiro, o que acarreta pressão e violência. Jamais surge uma base firme e sadia para as obras humanas, o que condiciona a decadência, o desmoronamento e um grande sofrimento.

O ataque à vida. Tirar a vida de outro seja com arma de fogo, punhal, ou por outra forma qualquer, é sempre um fato brutal, ao qual as pessoas são expostas presenciando os mínimos detalhes, até ao impacto final quando um corpo tomba sem vida. Ou então a maldade pura dirigida contra aquele que desperta inveja, enganando-o, traindo-lhe a confiança, deixando de dar-lhe a devida consideração humana, embora exteriormente as atitudes sejam revestidas da polidez social.

Todas essas armações agitam as ansiedades e temores, produzindo conflitosíntimos que impactam poderosamente na psique humana, gerando inquietação de forma nem sempre consciente. Ficam todos reprimidos. Gostariam até de brincar, de aliviar a tensão e o pesadume do ambiente, mas se sentem tolhidos, sem liberdade de movimentos.

Da insatisfação e do conflito nasce uma revolta contra tudo e contra todos, que fica contida, mas que através dos pensamentos e sentimentos, acabam inconscientemente, alimentando a revolta de outros, inclusive de grupos extremistas.

Então, os humanos usam o raciocínio para combater os desvios do raciocínio. Mas, o raciocínio não tem pudor e vão surgindo outros desvios forjados na astucia intelectiva para burlar um conceito de vida mais enobrecedor, exeqüível somente mediante a efetiva participação do espiritual nas atividades desenvolvidas pelos seres humanos.

As pessoas querem paz e serenidade, mas não conseguem porque a sua inquietação é alimentada permanentemente seja por fatos reais martelados exaustivamente pela mídia, ou pela indústria do entretenimento que através de uma ficção pesada eleva a tensão agitando a inquietação. Ginástica, caminhadas, técnicas de relaxamento, não tem sido suficientes para restabelecer a serenidade e as pessoas se vão acostumando com a inquietação perturbadora.

A inquietação, no entanto, como descreve Abdruschin, na Mensagem do Graal, “é o inimigo mais perigoso da alma, pois abala a muralha de proteção natural deixando entrar muitas vezes justamente assim o que é do mal, que do contrário não teria encontrado qualquer entrada”.

Serenidade e alegria são os remédios para combater a inquietação. Mas a serenidade e a alegria dependem de boa conservação da saúde e de manter o foco dos pensamentos limpo, livre de medos, ódios e cobiças.