OS FRUTOS DOS DESCAMINHOS
(27/12/2001)

Foi um momento de forte expectativa o período imediatamente posterior a morte de Jesus. Os discípulos se desdobravam em divulgar os ensinamentos recebidos clamando os seres humanos para um exame na forma de compreender o sentido da vida, posto que o homem não é igual aos animais que têm uma existência puramente instintiva.

O ser humano é um ser de espírito o qual contem energia concedida pelo Criador Todo Poderoso, energia que anima, isto é, dá vida ao corpo humano. E, essa fagulha espiritual é de uma espécie única, não depende da cor, da raça ou do local onde a pessoa tenha nascido. Todos foram criados criaturas humanas que deveriam evoluir para alcançar a autoconsciência e felicidades.

As pessoas sentiam grande atração pelos ensinamentos de Jesus. Elas pressentiam que a vida não se constituía apenas da satisfação das necessidades básicas e da busca de prazeres. A vida exigia que se buscasse o saber, o conhecimento do sentido da vida, o conhecimento do funcionamento das leis divinas da Criação.

Três séculos haviam se passado, e logo os seres humanos se acomodavam em sua vidinha, fossem judeus ou romanos. Foi quando o imperador Constantino legitimou a nova religião no intento de dar coesão e fortalecimento ao Império Romano. A maioria dos seres humanos porém deixaram a sua visão encurtar, enxergando pouco além das suas preocupações cotidianas puramente materialistas.

No século VII surge o Islã através do profeta Maomé, que ansiava por mostrar aos seres humanos o grande sentido da vida. Maomé queria difundir o saber para o mundo, para que os seres humanos adquirissem uma real percepção do elevado sentido da vida. Mas como sempre acontece, após o desenlace dos grandes líderes, surgem os interesses mais imediatistas de seguidores que visam tirar vantagem da situação, como frutos dos descaminhos. Surgiu um movimento imperialista com caráter religioso de grande alcance que ocupou metade do mundo ocidental. Os países vizinhos foram conquistados, e o grande Califado estendeu-se da Espanha até a Ásia Central, tendo o centro do poder em Bagdá. No século X o Império entrou em processo de estagnação, estabelecendo-se uma convivência entre os muçulmanos, judeus e cristãos.

A Europa passou a ser dominadora num ciclo que se prolongou até ao século XX. No período das guerras mundiais, com o despontar dos Estados Unidos como grande potência, sobrepujando a Inglaterra que até então detivera um papel preponderante no comando das relações internacionais econômicas e financeiras. Para as companhias petrolíferas o que sempre despertou interesse foi o petróleo.

Agora o povo árabe, que até então se mantivera envolvido em hábitos tradicionais sem acompanhar as mudanças havidas no mundo ocidental, busca a sua posição num mundo que sofreu grandes transformações. Trata-se de uma situação especial, pois o político está aderido ao religioso que se insurge contra o econômico.

No ocidente o dinheiro passou a exercer um papel dominante, estimulando o indivíduo a ter aspirações próprias, não obstante muitas vezes não consiga escapar dos condicionamentos engendrados pela propaganda. Mas, quando o ser humano pega o gosto pelo dinheiro, tudo o mais se torna secundário, não importa onde tenha nascido ou vivido. O dinheiro passa a ser a razão da sua vida. Já no oriente de população árabe, sempre houve uma certa complacência com o destino e uma tendência para servir fielmente aos detentores do poder.

Os povos subdesenvolvidos também viveram o seu momento crítico de insatisfação e busca de caminhos próprios, o qual teve o seu auge nos anos sessenta. O furacão sobre Cuba, como ficou conhecida a ascensão de Fidel Castro, despertou em muitos países a insatisfação com o sistema colonialista com reduzidas oportunidades de desenvolvimento. Mas tudo acabou sendo amaciado pela instauração de governos fortes não só em toda a região latina americana, como em outras também, esmagando os insubordinados, sufocando a busca da autodeterminação. Assim se foi gerando uma economia cada vez mais dependente de capitais externos que invadiram as economias sem qualquer controle, sem um projeto consistente, provocando apenas o aumento das dívidas e da miséria.

A Argentina é o mais recente exemplo dessa irresponsabilidade humana na condução dos negócios de Estado. De degrau em degrau a Argentina desceu a beira do abismo, correndo o risco de deixar de ser um Estado, posto que ninguém sabe por onde começar a reconstrução. O que se tem como certo é que a conversibilidade cambial está agonizando. Não há recursos para saldar os compromissos da dívida. A população vai passar por grandes dificuldades, e está surgindo um novo ciclo de retardamento no caminho da evolução material e espiritual.

O homem, seja qual for a sua origem, tem o dever de buscar a sua libertação. Mas, somente a busca da Luz da Verdade poderá trazer a libertação espiritual do ser humano, levando-o a feitos extraordinários sem a necessidade do uso da força e da violência, e nem da astúcia sem escrúpulos para concretizar os seus desejos de paz e progresso.