JOGOS DE GUERRA
(26/10/01)

Até hoje, os humanos não foram capazes de evitar situações de guerra entre si mesmos, e nunca se teve conhecimento de guerra limpa. Todas são sujas. Mesmo quando se trata de legítima defesa ela é suja porque decorreu de ataques de conquista de riquezas ou escravos, ou contra os direitos humanos. Helena, em suas aventuras, arrastou um povo inteiro à destruição numa guerra menor movida pela vaidade e orgulho, em que os filhos do rei Priamos foram todos destruídos. Os caprichos de uma mulher desencadearam o trágico destino de Tróia.

Atualmente o mundo ocidental só pensa em dinheiro. Os que tem muito, só querem fazer aumentá-lo. Os que tem pouco, não querem ficar com menos. Vive-se em função do dinheiro. Ao final a vida vai perdendo e sentido e o encantamento. Tudo se embrutece. Do outro lado, a população que vive num sistema de vida estagnado, o dinheiro não representa muito. Há pouco em que gastar e o consumo é restrito. Na verdade, em ambos os casos há desequilíbrios que afetam profundamente a qualidade de vida.

O surgimento do terrorismo mais ousado, sem alma nem compaixão, está afetando profundamente as bases da civilização das finanças globalizadas, com produção massiva e forte consumismo daqueles que conseguem obter alguma renda. Os autores do atentado não tinham nada para perder, nem a própria vida importava mais. Então, traiçoeramente, derrubaram as Torres fazendo milhares de vítimas.

É engano pensar que a guerra do século 21 está criando um mundo desumano. As asperezas e hostilidades apenas estavam enrrustidas e já vinham se tornando visíveis aos olhos dos observadores mais atentos, fazendo do mundo um local ameaçador para uma vida tranqüila e segura. O problema é que estamos diante da falta de uma linguagem comum entre religiões, etnias e culturas. E, sem uma linguagem comum, não surge o desejado entendimento. Então as previsões são de uma guerra instável, de prolongada duração, e incertas conseqüências.

O objetivo agora é atingir o Taleban e seu guru Bin Laden. A fixação de objetivos tão definidos impõe uma situação muito delicada. É como no jogo de xadrez, vocêtem que derrubar o rei para vencer o jogo, caso contrário ele se prolonga indefinidamente, e desistir, é perder. Nenhuma das partes desistem nem cedem. Mas se houvesse desistência, não haveria vencedor, e talvez a paz pudesse sair vitoriosa. A difícil paz, sem terrorismo e com equidade econômica e social. Quem sabe a chegada do rigoroso inverno propicie uma adequada negociação.

Mas qual seria a repercussão se o "rei" for derrubado? Talvez um "bispo" assuma o lugar do rei e mobilize "peões " do mundo inteiro para uma ação de revide sobre a riqueza estratégica que moldou as feições do século 20. Uma ação visando a tomada do poder nas regiões petrolíferas, pois se o "rei" tombar, muitos estarão dispostos a seguir as suas pegadas, para resgatar a frustração, o ressentimento e a humilhante situação em que se sentem face ao colonialismo, ao atraso econômico e diante do conflito entre palestinos e Israel, posto que não há uma linguagem de mutua compreensão.

Se o próprio Jesus ressurgisse com a severidade de Suas palavras de admoestação, chamando os seres humanos à razão, mostrando-lhes os fatos como eles são, como reagiriam os potentados das religiões diante do amplo saber do Mestre? Como reagiriam quando ele apontasse as incoerências dogmáticas introduzidas pelos seres humanos em todos os ensinamentos transmitidos pelos Profetas e Enviados?

Os grupamentos humanos, apesar de sua diferenças naturais, deveriam ter um alvo comum: construir beneficiadoramente e buscar pela Luz da Verdade Divina, promovendo a paz. Assim, não obstante as diversidades, sem ter que abdicar de sua cultura, acabariam encontrando uma linguagem comum através das Leis da Criação, e aparariam as arestas alcançando entendimento e compreensão, e não se matariam em estúpidos jogos de guerra da vida real, porque cada qual, não faria ao próximo, aquilo que não desejaria para si nem para os seus.