DILEMAS IDEOLÓGICOS
(24/08/2001)

Ao adentrarmos no novo milênio, o mundo econômico e social resultou de uma visão humana afastada da realidade espiritual da vida. Basicamente duas correntes de pensamento se defrontam, mas no que essa situação de conflitos ideológicos favorece à humanidade? Pelo menos existem duas concepções, o que propicia um debate. É menos ruim do que quando havia uma única e, compulsoriamente, todos eram obrigados a aceitá-la sem a possibilidade do exame das incoerências.

O neoliberalismo, como continuidade do liberalismo e do conservadorismo surgido no século 19, resume a vida numa questão de livre mercado com a redução da intervenção estatal, pois a nova classe de comerciantes buscava a livre circulação de capitais e mercadorias, o que exigia a quebra das regulamentações políticas do Estado estreitamente vinculado a Igreja, para que pudessem auferir lucros e gerar uma acumulação de capitais como forma de se contrapor ao poder dominante de até então.

Do outro lado os defensores do Estado do bem estar social, a intervenção do Estado com o seu planejamento, enfim o socialismo, tudo como forma de conter os abusos do capital.

Ora, o capital em si não abusa, é neutro. Os seres humanos é que provocam a desordem e confusão nas suas lutas pela conquista e manutenção do poder terreno. No Estado clerical, com a forte interferência da Igreja, não havia o interesse em mudanças. Já aqueles que não se alinhavam ao poder vigente, visavam romper a rigidez da situação que se mantinha há séculos, encontrando um caminho no protestantismo que promovia uma ruptura. Através das novas proposições de liberalismo e conservadorismo foi surgindo uma abertura para os espíritos humanos, até então submetidos unilateralmente a uma crença sem a possibilidade de analisá-la ou discuti-la.

Reginaldo Moraes, escreve no livro “Neoliberalismo”: “A argumentação de Adam Smith é clara. Para que o mundo seja mais livre, justo e rico, é necessário que a disciplina anônima e invisível da concorrência substitua a disciplina visível das hierarquias arcaicas. E onde estão essas hierarquias perniciosas? São as obrigações tradicionais e personalizadas das instituições medievais, os regulamentos das corporações de ofício e as leis do Estado mercantilista. Smith elogia a virtuosa mão invisível do mercado, contra a viciosa mão visível do poder político”.

Contudo, o liberalismo criado pelos seres humanos, não representou em si nenhum passo em direção da tão urgente evolução espiritual, posto que a motivação precípua estava na ruptura de um sistema econômico rígido, que restringia as possibilidades de expansão econômica pela proteção dada aos interesses dos grupos ligados ao rei, o que impossibilitava o ingresso de outros grupos nas atividades econômicas. Em substituição desse sistema, posteriormente surgiram os socialismos e o comunismo como símbolo do Estado Totalitário, arbitrário e antinatural.

Inegavelmente algum progresso foi alcançado. Foi quebrada a unilateralidade das determinações e regulamentos impostos aos seres humanos. Porém, não se foi muito além disso porque ao final, as novas determinações e regulamentos, voltaram-se prioritariamente para o econômico, deixando o ser humano e a finalidade espiritual de sua existência para o plano secundário, mantendo as massas na ignara indolência.

As novas castas econômicas que se formaram acumularam muitas riquezas, mas os seres humanos permaneceram na sua vidinha pacata sem maiores aspirações espirituais. No mais as coisas continuaram mais ou menos como sempre foram. Quando há dilemas entre os seres humanos, imperam os interesses dos grupos detentores de mais poder, sem levar em consideração o beneficiamento da vida em seu mais amplo sentido.

O grande valor disso tudo foi a libertação, a possibilidade de decidir e escolher o caminho próprio, o que não se permitia no sistema anterior da mesma forma como nos regimes comunistas. Mas, a maior parte dos seres humanos deixaram de aproveitar essa oportunidade, buscando pela Luz da Verdade, como meio de alcançar a liberdade em toda a sua plenitude, quedando-se na indolência espiritual.

Então, não há nada a estranhar quanto ao malogro social e econômico que, espalhando-se a partir das periferias, já provoca efeitos no centro, produzindo um tipo de vida caótica e estúpida, que desgasta os seres humanos prematuramente, sem que se consiga deter a crescente miséria espiritual, e material como conseqüência.