A SOLUÇÃO ESTÁ LONGE
(22/06/2001)

O Brasil em 2001 crescerá menos que em 2000. Enquanto há uma grande necessidade de crescer, as atuais condições não favorecem o crescimento. Agora surgem fatores de contenção ainda mais prementes do que a escassez de capital para aplicar na atividade produtiva. Surgem limitações impostas pelo meio ambiente, como por exemplo a prolongada estiagem que afeta a produção de alimentos e reduz a capacidade das usinas geradoras de energia elétrica; especulação com o dólar e elevação na taxa de juros.

O atual sistema de produção atrelado ao mercado mostra vestígios de algumas imperfeições, porque se fundamenta em variáveis monetárias, tais como: poder aquisitivo da população, disponibilidade de divisas internacionais, capacidade de endividamento. O sistema não se ocupa em coordenar aquilo que possa ser produzido no ambiente da economia doméstica, como a construção de moradias em regime de mutirão, a busca de sistemas de saneamento básico que evite o derramamento de dejetos humanos nos rios e mares, aproveitar a experiência dos mais velhos para treinar os mais jovens.

As contas dos países periféricos, como o Brasil e a Argentina, se acham intrincadamente atrelados ao dólar. Isso significa que precisam disponibilizar dólares no mercado financeiro para atender os compromissos assumidos, e também para não deixar os investidores e especuladores assustados, correndo para as saídas de emergência, e por isso tudo precisamos exportar bem mais.

Os Estados Unidos já viveram situação similar quando o dólar estava atrelado ao ouro na faixa de 35 dólares por onça do metal. O então Presidente Nixon não pensou muito, e em 1970 mandou o atrelamento do dólar ao ouro para o espaço, rompendo o artificialismo da representatividade do papel-moeda em peso de ouro. De lá para cá as oscilações e turbulências só fizeram aumentar sem que se conseguisse encontrar uma solução efetiva. Artificialismo semelhante vivemos na América Latina onde as moedas são números para serem convertidos em dólares, sempre em disponibilidade inferior às necessidades, predominando os fluxos do capital especulativo.

Assim como os Europeus queriam trocar seus dólares por ouro, os investidores e especuladores também querem trocar o seu dinheiro por dólares. Nixon conseguiu eliminar a pressão pelo ouro, desvalorizar o dólar, reduzir importações, aumentar exportações, e a economia americana,após alguns tropeços, recuperou a sua posição hegemônica. O que Nixon recomendaria para os Argentinos? Talvez recomendasse: "Fechem o guinche do dólar que trava tanto quanto o ouro. Quem quiser dólar que procure no mercado ao preço que o mercado vender. Com o ouro só favorecemos aos especuladores". Mas a Argentina não emite dólares. A hora da verdade cambial poderá ser duríssima."

A situação financeira mundial atingiu um estágio muito confuso, porque a base para a acumulação das grandes fortunas tem sido principalmente os movimentos especulativos, não muito diferente do que o assalto ao ouro das Américas praticado pelos espanhóis no século 15.

O final do século 20 foi assustador para os países da periferia. As feridas provocadas pelas crises cambiais e financeiras cravaram fundo, deixando um rastro de destruição e miséria para as décadas futuras, pois tiveram de arcar sozinhos com o peso dos ajustes decorrentes de empréstimos irresponsáveis.

Agora o problema do dinheiro se torna um dos mais complexos nas engrenagens da economia. O dólar permanece como a moeda de maior credibilidade nos mercados, tendo apenas o iene e o euro para se espelhar. Uma centena de outras moedas inclusive o real, nem contam na fabulosa movimentação do capital internacional. São fracas, instáveis e de pouca credibilidade, sendo a sua tendência de permanente desvalorização, haja vista a falta de um planejamento para conter os déficits orçamentários de forma a não fragilizar a economia interna e a população.

Ademais, são economias estruturadas para importar industrializados das metrópoles. Assim, longe de encontrar solução, a situação se agrava, sem que se possa descortinar qual será o desfecho. A instabilidade local é visível, refletindo a instabilidade camuflada da economia global, o que não deixa de ser uma excelente oportunidade para os partidos de oposição, e aventureiros, se alçarem ao poder.