TRABALHO E RIQUEZA
(13/06/2001)

O trabalho faz parte da vida. Em toda a Criação tudo é trabalho e movimento. Nenhuma criatura surgiu inutilmente. Há uma função para todas elas. O ser humano também tem as suas incumbências na vida material. Desde os primórdios de sua existência teve o ser humano que trabalhar para atender as suas necessidades de alimentação, vestimenta e moradia. Mas, a grande diferença em relação às demais criaturas, está na origem espiritual do ser humano, que com suas capacitações deveria através de sua atividade, conduzir com determinação, toda a materialidade para um elevado enobrecimento.

Muitos milênios se passaram no lento e progressivo amadurecimento da criatura humana até que atingisse o grau de maturidade apropriado para os reconhecimentos superiores, relativos à finalidade da própria existência.

Dotado de espírito individual e intelecto para utilização na matéria, o ser humano se deixou dominar por uma vontade predominantemente materialista. Ao invés do enobrecimento espiritual da matéria, deu a ela uma direção muito outra que a esperada, impulsionando tudo para uma aspereza fria e sem coração.

Na fase inicial o trabalho era executado com disposição e alegria, nada era difícil, tudo podia ser feito para embelezar e enobrecer o mundo. Com perseverança e paciência, reservando tempo para o descanso e para o sereno meditar. O trabalho era considerado uma benção para a atividade humana. Respeito e consideração nunca faltaram.

Mas com a inversão dos valores, com a cobiça pelo poder terreno, o trabalho passou a ser visto como um fator a mais na conquista de riquezas. Assim surgiram várias modalidades de escravização do trabalho, seja através de prisioneiros de guerras, servos das propriedades agrárias, ou indivíduos considerados inferiores.

Com o advento do comércio ultramarino e da industrialização, foram surgindo diversas teorias complicadas, contrárias ou favoráveis ao advento do trabalho assalariado. Cada grupo desenvolvendo a ideologia teórica mais condizente com os seus interesses.

O nome de Deus foi usado em todos os confrontos pelos grupos envolvidos, fossem os cardeais das igrejas ou os novos empresários que anteviam promissoras possibilidades de ganho, cada qual formulando suas teorias capciosas, acobertadoras dos reais interesses. De fato, nada mais que seres humanos apegados à sua vontade intelectiva, distanciando-se cada vez mais do sentido espiritual da vida, acorrentando-se à matéria no afã de acumular riquezas, sem maiores cuidados para não romper o miraculoso equilíbrio existente na natureza.

Efetivamente, a posse da riqueza aumenta a responsabilidade. Se o ser humano vive distanciado das leis da Criação, aumentando a sua riqueza, aumenta a sua mania de grandeza, colocando-se ao lado e até acima do Altíssimo Criador, enebriando-se totalmente com a ostentação, cobiçando continuamente o aumento da riqueza e poder. Vale tudo por dinheiro, desde que não contrarie flagrantemente as complicadas e contraditórias leis criadas pelos próprios seres humanos.

O problema não é dinheiro em si, mas a obsessão pela sua posse e crescente acumulação. O ser humano acaba deixando tudo o mais para plano secundário. Sua prioridade é fazer dinheiro. Mas o ser humano é de origem espiritual e sua existência terrena temporária, mas no afã de ganhar mais e mais, acaba se esquecendo do significado da vida, deixando-a passar sem o adequado aproveitamento.

O errado não está na atividade visando ganhos, mas na colocação dessa atividade como a principal motivação da vida, praticamente a única. Passando pela vida com dedicação integral ao dinheiro, sem indagar do sentido espiritual, do porque estamos aqui envolvidos por um corpo de limitada duração?

O século 20 assinalou a época dos empregos formais que agora entram em desuso. Na competição global as grandes corporações querem que os empregos se transformem em gastos variáveis, não mais fixos pesando sobre as contas. Assim os empregos estão sumindo. Há muito por fazer mas os jovens não encontram ocupação. Na violência urbana muitos pais ficam temerosos com a possibilidade de terem de ir fazer o reconhecimento de seus filhos nos necrotérios.

"Sabedores tendes de tornar-vos, do contrário perdereis todo o apoio e tropeçareis e caireis, quando agora, no decurso dos acontecimentos universais que se desenrolam, fordes arrastados à força para aquele percurso por onde tendes de trilhar, conforme a Vontade sagrada de vosso Deus, em cujas obras de graça até agora pisastes, como animais ignorantes no mais belo jardim de flores, destruindo em vez de construir e auxiliar beneficiadoramente, desfrutando com atrevimento presunçoso, sem se esforçar por conseguir a compreensão de por que vos é dado permanecer conscientemente na bela Criação e desfrutar de tudo." (Mensagem do Graal, de Abdruschin, vol.3, pg.167).

Enfim, o trabalho é de grande importância para o ser humano, mas há que ter sempre como objetivo de vida, esforçar-se continuamente para tornar a Terra um local aprazível para viver e evoluir espiritualmente.